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Argentina: Vice de Milei promove ato para minimizar a ditadura e gera onda de repúdio
Grupos em defesa dos direitos humanos protestaram na tarde desta segunda-feira 4 em Buenos Aires contra os ultradireitistas
A cidade de Buenos Aires viveu horas de tensão nesta segunda-feira 4, dia em que militantes em prol dos direitos humanos protestaram contra Victoria Villarruel, candidata a vice-presidenta na chapa do ultradireitsta Javier Milei, por convocar uma sessão no Legislativo municipal “em homenagem às vítimas do terrorismo”.
A cerimônia encabeçada por Villarruel é mais uma de suas tentativas de minimizar as violações promovidas durante a ditadura militar da Argentina, entre 1976 e 1983. O objetivo da deputada era dar voz a quem supostamente viveu “um terror” nas mãos de grupos que lutaram contra o regime de exceção.
A sessão começou por volta das 18h30. Villarruel foi a última a discursar e alegou que durante 40 anos “as vítimas do terrorismo desapareceram da memória”. Disse também que “a elas foram negados os seus direitos à verdade, à justiça e à reparação”.
A vice de Milei ainda pediu “ao povo argentino que não tenha medo” e que a acompanhe na tentativa de “cobrar verdade e justiça”.
Nas imediações da sede do Legislativo, grupos de esquerda, militantes kirchneristas e representantes de ONGs se manifestaram contra Villarruel. Também marcaram presença integrantes de entidades que reúnem familiares de detidos e desaparecidos sob a ditadura.
Estela de Carlotto, presidenta das Avós da Praça de Maio, foi ao protesto desta segunda. “Ela [Villaruel] é uma mentirosa e uma pessoa má. Não damos importância a ela”, disse Carlotto a El Destape. Ela criticou o fato de o Legislativo ter permitido a realização da cerimônia.
A deputada Victoria Montenegro, uma das “netas recuperadas” das mãos da ditadura, também defendeu nesta segunda mecanismos para barrar a realização da sessão.
Para a Secretaria de Direitos Humanos da Confederação Geral do Trabalho, é necessário adotar “todas as medidas para evitar essas provocações, que negam e falsificam a verdade histórica e ofendem a memória do povo”.
A coalizão governista Unión por la Patria também emitiu um comunicado, a fim de registrar “o mais enérgico repúdio ante qualquer expressão de negacionismo”. Na avaliação do bloco, “é inaceitável que uma instituição fundamental do sistema democrático como o Legislativo seja um espaço onde se reivindique a ditadura”.
O material de divulgação do evento legislativo trazia o carimbo do famigerado Celtyv, o Centro de Estudos Jurídicos sobre o Terrorismo e suas Vítimas. Criada em 2006 e presidida por Villarruel, a entidade relativiza a violência da ditadura argentina e se dedica às “vítimas inocentes da violência armada do terrorismo de organizações guerrilheiras que travaram a guerra revolucionária”.
A Argentina passou por outros períodos ditatoriais, mas o mais duro ocorreu entre 1976 a 1983, a partir da deposição da presidenta Maria Estela Martínez de Perón. Ascendeu ao poder uma Junta Militar composta por representantes das três Forças, as quais, por meio de um golpe, levaram o ditador Rafael Videla à Presidência.
Mortes, torturas e desaparecimentos se avolumaram ao longo dos sete anos. Estima-se que mais de 30 mil pessoas foram mortas durante a última ditadura militar no país.
O terrorismo de Estado que a vice de Milei tenta negar se caracteriza pela existência de pelo menos 364 campos de concentração e centros clandestinos de detenção e extermínio, em estabelecimentos públicos ou privados como quartéis e escolas.
Ao longo dos anos, a extrema-direita também empreendeu uma campanha de distorção da atuação de grupos guerrilheiros como o Exército Revolucionário do Povo e os Montoneros, a fim de justificar a tortura, os desaparecimentos e os assassinatos.
No fim dos anos 1970, a resistência ganhou corpo, e um dos símbolos foi exatamente criação da entidade Mãs da Praça de Maio, formada por mulheres que buscavam seus filhos desaparecidos.
O primeiro governo democrático após a ditadura foi o de Raúl Alfonsín, entre 1983 e 1989. Antes, após a renúncia de Videla, a Junta Militar havia indicado o general Roberto Viola, em 1981, substituído logo depois pelo general Leopoldo Gualtieri, já em fase de declínio do regime ditatorial.
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