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Trump volta a mentir sobre eleição nos EUA, elogia Bolsonaro e diz que acabará com guerra na Ucrânia
Ex-presidente dos EUA deu a primeira entrevista a uma grande emissora do País em sete anos, um dia após de ter sido condenado por abuso sexual e difamação
O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump concedeu uma entrevista, nesta quarta-feira 10, ao canal de TV CNN pela primeira vez em sete anos. A conversa ocorre um dia após ter sido considerado culpado no caso envolvendo abuso sexual e difamação.
Na entrevista, o ex-presidente continuou defendendo a narrativa falsa de que as eleições estadunidenses de 2020, em que foi derrotado por Joe Biden, foram fraudadas. Ele também classificou a invasão do Capitólio por seus apoiadores como um “bonito dia”.
“Quando você olha para o resultado da eleição e olha para o que aconteceu durante aquela eleição, a não ser que você seja uma pessoa muito estúpida, você entende o que aconteceu”, disse Trump na conversa.
E completou: “A maioria das pessoas entende o que aconteceu. Aquela foi uma eleição fraudada”.
Segundo ele, a suposta fraude influenciou seus apoiadores furiosos a invadirem o Congresso norte-americano em 6 de janeiro de 2021.
“Eu nunca falei com uma multidão tão grande quanto aquela. Aquilo aconteceu porque eles pensaram que a eleição foi fraudada. E eles estavam orgulhosos. Eles tinham amor em seus corações. Aquilo foi inacreditável e foi um bonito dia”, disse.
Trump mencionou, também, o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL) após ser questionado pela plateia sobre a política de armamento nos EUA. Em sua resposta, o republicano rebateu a relação entre o acesso a armas restritas e os ataques a tiros em escolas.
“O Brasil tem uma [política de armas] muito restritiva. [Os números de] homicídios eram incríveis. Entravam nas casas das pessoas e as matavam. Eles não tinham nenhuma proteção. O ex-presidente deles disse ‘vão lá e comprem armas’, e eles foram lá e compraram armas, e os números [de violência armada] caíram muito, porque eles tinham segurança”, afirmou Trump, também sem apresentar dados.
O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, defendeu a política de armamento promovida pelo ex-presidente brasileiro, Jair Bolsonaro. Na fala, ele diz que o crime “caiu muito” no Brasil. No entanto, estudo do FBSP mostra que queda de homicídio seria maior com menos armas #CNNBrasil pic.twitter.com/GwWPdHQf1b
— CNN Brasil (@CNNBrasil) May 11, 2023
Em 2022, após o afrouxamento das regras de acesso a armamentos no Brasil, o País registrou 40,8 mil assassinatos. Apesar da queda de 1% no índice com relação ao ano anterior, as taxas de feminicídio aumentaram 31% no mesmo período.
Embora Bolsonaro atribua a diminuição dos assassinatos aos seus decretos que facilitaram o acesso da população civil às armas de fogo, especialistas pontuam que a interpretação do presidente da República é falaciosa. De acordo com eles, o fato de os dois fenômenos (a disseminação das armas de fogo e a diminuição dos assassinatos) ocorrerem ao mesmo tempo, não significa que um é necessariamente a causa do outro.
Pelo contrário, os estudos científicos mostram que a maior disponibilidade de armas de fogo no mercado leva ao aumento das mortes violentas. Os suicídios crescem e a violência doméstica dispara. Além disso, mais casos de brigas com vítimas fatais e acidentes em casa envolvendo crianças são observados.
Culpado por abuso sexual
Nesta quarta-feira 10, o ex-presidente Trump foi considerado culpado pela Justiça Federal de Manhattan por ter abusado sexualmente e difamado a escritora E. Jean Carroll, ainda nos anos 1990. Carroll o acusava de tê-la empurrado contra a parede e a estuprado em um vestiário da loja Bergdorf Goodman.
Durante a sabatina, Trump fez pouco caso do episódio. “Que tipo de mulher conhece alguém e, em uma questão de minutos, está fazendo coisas impróprias em um provador?”, questionou, provocando aplausos e risadas da plateia.
Trump foi sentenciado a pagar US$ 5 milhões a Carroll por danos (cerca de R$ 25 milhões na cotação atual). O ex-presidente, porém, não será obrigado a arcar com a multa enquanto o processo estiver em apelação. Também não corre o risco de ser preso, por se tratar de um caso civil. Por fim, assim como em decisões anteriores, sua condenação não o torna inelegível.
Guerra da Ucrânia
Questionado então sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia, que se alonga por mais de um ano no leste europeu, Trump apontou que a guerra não teria tido início se ele ainda fosse presidente dos EUA.
“Nós não temos munição para nós mesmos, nós estamos enviando [para Kiev] demais”, disse o ex-presidente. “Eu tenho que começar dizendo, e não importa mais, que se eu fosse presidente, isso nunca teria acontecido. Até os democratas admitem isso. Putin sabe que isso nunca teria acontecido”, acrescentou.
O republicano ainda acrescentou que vai conseguir solucionar a guerra em “24 horas”.
“Vou encontrar Putin. Vou encontrar Zelensky. Ambos têm fragilidades e os dois têm pontos fortes. E dentro de 24 horas esta guerra será solucionada. Vai acabar”, afirmou.
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