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Sitiado, principal hospital de Gaza enterra seus mortos em vala comum

Segundo a Organização Mundial da Saúde, 22 dos 36 hospitais do enclave já não funcionam

Registro da ação de Israel na Faixa de Gaza, em 14 de novembro de 2023. Foto: Fadel Senna/AFP
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O principal hospital de Gaza, no centro dos combates entre Israel e o Hamas, enterrou dezenas de mortos em uma vala comum, anunciou nesta terça-feira 15 o seu diretor. Enquanto isso, milhares de civis permanecem presos no complexo, uma situação “horrível”, segundo definição da ONU.

Nesta terça, os tanques israelenses estavam a poucos metros da entrada do hospital Al Shifa. Segundo Israel, o centro médico esconde uma posição de comando estratégica para o Hamas, acusação que o movimento islamista palestino nega.

“Há cadáveres espalhados pelos corredores do complexo hospitalar e as salas refrigeradas dos necrotérios não têm mais energia elétrica“, afirmou o diretor do hospital, Mohamad Abu Salmiya, em referência à escassez na Faixa de Gaza provocada pela guerra e o cerco imposto por Israel desde 9 de outubro.

“Fomos forçados a enterrá-los em uma vala comum”, disse o médico.

Uma testemunha dentro do centro médico disse que o odor dos corpos em decomposição é insuportável.

Segundo uma estimativa do Escritório da ONU para Assuntos Humanitários, haveria no hospital pelo menos 2.300 pessoas presas por causa dos combates.

A ONG Médicos Sem Fronteiras indicou hoje, na rede X, que tiros foram direcionados contra uma das três instalações da organização perto do hospital Al Shifa, onde havia “mais de 100 pessoas, entre elas 65 crianças”, incluindo pessoal da MSF e seus familiares. A organização pediu a Israel que estabeleça uma “passagem segura” para evacuá-los.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, 22 dos 36 hospitais da Faixa de Gaza já não estão funcionando.

‘Situação horrível’

Israel prometeu “aniquilar” o Hamas em resposta ao ataque lançado pelos comandos do movimento palestino em território israelense que deixou 1.200 mortos. Além disso, quase 240 pessoas foram levadas como reféns para a Faixa de Gaza, segundo as autoridades israelenses. Desde então, realiza uma campanha de bombardeios no território palestino, acompanhada de uma operação terrestre na Faixa que começou 20 dias depois.

Em Gaza, o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas afirmou que 11.320 pessoas morreram nos ataques de Israel, incluindo 4.650 crianças.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, instou Israel a agir com moderação e o secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou-se “muito preocupado pela horrível situação e as perdas humanas importantes em diversos hospitais de Gaza”, segundo seu porta-voz.

Nesta terça, o Exército israelense reivindicou ter tomado o controle de edifícios governamentais do Hamas em Gaza, entre eles o Parlamento e edifícios do governo e da polícia.

O porta-voz do Exército de Israel, Daniel Hagari, afirmou que os soldados “encontraram indícios” de que os reféns israelenses detidos pelo Hamas foram escondidos em um subsolo do hospital pediátrico de Al Rantisi de Gaza.

Não obstante, o Ministério da Saúde em Gaza retrucou que “não há nenhuma prova” nesse vídeo e criticou o que chamou de uma “encenação ruim”.

A polícia israelense anunciou que está investigando acusações de que, durante o ataque, os comandos do Hamas cometeram atos de violência sexual.

Biden, confiante em acordo de libertação

A comoção gerada pelo ataque do Hamas em 7 de outubro e a indignação com a resposta de Israel em Gaza mobilizaram centenas de milhares de pessoas que protestaram no Oriente Médio, na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina.

Confrontado com a crescente pressão internacional, Israel concordou em estabelecer pausas diárias e “corredores” humanitários para permitir a fuga dos civis encurralados pelos combates.

Desde que a guerra começou, cerca de 1,6 milhão de habitantes, dos 2,4 milhões que vivem na Faixa de Gaza, deixaram suas residências.

Mas as autoridades israelenses insistem em que não haverá cessar-fogo até a libertação dos reféns detidos pelo Hamas.

A situação dos reféns levados para Gaza é uma questão complicada e as negociações são mediadas pelo Catar.

Abu Obeida, porta-voz do braço militar do Hamas, disse na segunda-feira que existe a possibilidade de um acordo para a libertação de 100 reféns israelenses em troca de 200 menores de idade e 75 mulheres palestinas que estão nas prisões israelenses.

Contudo, nesta terça, outro responsável pelo movimento islamista, Osama Hamdan, afirmou que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, “e seu gabinete de guerra” eram responsáveis pelas discussões estarem “paralisadas”.

Por sua vez, Biden disse que acredita que um acordo será alcançado com o Hamas para que os reféns sejam libertados.

“Falo todos os dias com as pessoas envolvidas. Acho que vai acontecer, mas não quero entrar em detalhes”, disse o mandatário a jornalistas na Casa Branca quando perguntado sobre um possível acordo.

Israel confirma morte de refém

Em Israel, cerca de 100 familiares dos sequestrados iniciaram nesta terça-feira uma marcha de 63 quilômetros de Tel Aviv a Jerusalém para exigir um acordo.

Netanyahu insistiu que “nosso coração está permanentemente com os reféns e suas famílias” e seu ministro das Relações Exteriores, Eli Cohen, declarou após uma reunião com a Cruz Vermelha em Genebra que seu país carece de “provas de vida” dos reféns.

Israel confirmou nesta terça-feira a morte de Noa Marciano, uma soldado de 19 anos mantida refém pelo Hamas em Gaza, um dia depois de o movimento islamista ter afirmado que a mulher morreu em um bombardeio israelense.

A guerra em Gaza alimentou a violência em outras frentes, na Cisjordânia, no Líbano e na Síria, e crescem os receios de uma escalada do conflito.

Na Cisjordânia, oito palestinos morreram em confrontos com tropas israelenses, informaram nesta terça-feira as autoridades palestinas, que calculam que, desde o início da guerra, pelo menos 180 palestinos morreram por disparos de soldados ou colonos israelenses.

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