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Sem provas, Milei segue Bolsonaro e alega fraude em eleição na Argentina

Apesar da ausência de evidências, simpatizantes do ultradireitista bancam as alegações nas redes sociais

O ultradireitista Javier Milei, candidato à Presidência da Argentina. Foto: Alejandro Pagni/AFP
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Contas nas redes sociais identificadas com o ultradireitista Javier Milei, candidato à Presidência da Argentina, constroem o que os especialistas caracterizam como uma “narrativa de fraude”. O segundo turno da disputa está marcado para 19 de novembro, contra o peronista Sergio Massa.

Embora nenhuma denúncia tenha sido formalizada, Milei afirmou em uma recente entrevista ao apresentador peruano Jaime Bayly, transmitida no YouTube, que “houve irregularidades de tal magnitude que colocaram o resultado em dúvida”.

Sem evidências concretas, internautas simpatizantes do ultradireitista bancam as alegações. “A fraude existe. Sinto pena de quem vai votar e de pessoas como eu, que passam o dia fiscalizando e cuidando de cada voto”, diz aos prantos uma usuária do TikTok que denuncia supostas irregularidades na contagem provisória na província de Mendoza.

No primeiro turno, em 22 de outubro, Milei foi o segundo mais votado, com 30%, enquanto Massa se aproximou dos 37%. Até o momento, nenhuma força política denunciou qualquer fraude à Justiça. 

“A contagem final é a única que tem validade jurídica. A contagem provisória é meramente informativa”, explicou à agência AFP Ezequiel Quinteros, porta-voz da instância eleitoral argentina.

O fato de os resultados não terem apresentado variações significativas não afeta o submundo das redes sociais, nas quais centenas de apoiadores de Milei convocaram, nos últimos dois finais de semana, protestos “contra a fraude”. Um novo ato está previsto para o próximo domingo 12.

O conceito de “narrativa de fraude” partiu do diretor do Departamento de Observação Eleitoral da Organização dos Estados Americanos, Gerardo de Icaza, e serve para descrever um fenômeno que se apresenta com diferentes formatos em muitos países, explicou à agência AFP o advogado Alejandro Tullio, diretor nacional eleitoral entre 2001 e 2016.

“Trata-se de minar a credibilidade das eleições, seja das leis ou dos órgãos encarregados de aplicá-las e, em muitos locais, fazem parte das estratégias de deslegitimação maliciosa dos resultados”, afirmou.

“As eleições são processos complexos e a explicação de seus procedimentos pode ser entediante”, prosseguiu. “É mais fácil fazer circular uma lenda sombria simplista e fantasiosa do que reconhecer resultados que, apesar de notáveis, podem decepcionar.”

Com as acusações de fraude no sistema eleitoral, Javier Milei segue pari passu a cartilha de extremistas de direita que ascenderam recentemente ao poder, a exemplo de Jair Bolsonaro (PL), no Brasil, e Donald Trump, nos Estados Unidos.

Em julho de 2022, Bolsonaro decidiu reunir embaixadores estrangeiros no Palácio do Planalto para repetir “denúncias” infundadas sobre as urnas eletrônicas e a Justiça Eleitoral. Menos de um ano depois, o Tribunal Superior Eleitoral apontou abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação e tornou o ex-capitão inelegível por oito anos.

Na sessão em que o TSE sacramentou a decisão, o ministro Alexandre de Moraes afirmou que “presidente que ataca a lisura do sistema eleitoral que o elege há 40 anos não está no exercício de liberdade de expressão”, mas em “conduta vedada e abuso de poder”.

(Com informações da AFP)

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