Cultura

Roteiristas de Hollywood anunciam greve após fracasso das negociações com estúdios

Com a greve, os programas noturnos de entrevistas podem ser paralisados de maneira imediata; séries de TV e filmes programados para estrear no fim do ano podem sofrer grandes atrasos

Foto: Robyn Beck / AFP
Apoie Siga-nos no

Milhares de roteiristas de cinema e televisão de Hollywood entrarão em greve nesta terça-feira (2), anunciou o sindicato da categoria, depois as negociações sobre salários e outras condições terminaram sem um acordo.

A greve significa que os programas noturnos de entrevistas podem ser paralisados de maneira imediata. As séries de TV e os filmes programados para estrear no fim do ano e nos meses posteriores podem sofrer grandes atrasos.

O sindicato dos roteiristas, Writers Guild of America (WGA), anunciou no Twitter que os membros da diretoria votaram de forma unânime a favor da greve.

As respostas dos estúdios às exigências da categoria foram “insuficientes, dada a crise existencial que os roteiristas estão enfrentando”, afirmou o sindicato.

O anúncio aconteceu depois que a Aliança de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP, na sigla em inglês), que representa empresas como Disney ou Netflix, afirmou em um comunicado que as negociações “terminaram sem um acordo”.

Na última vez que houve um conflito sindical deste tipo em Hollywood, em 2007, os roteiristas paralisaram suas atividades por 100 dias, o que custou à indústria do entretenimento de Los Angeles quase 2 bilhões de dólares (equivalente a 3,54 bilhões de reais na cotação da época).

Desta vez, os roteiristas exigem salários mais altos e uma participação maior nos lucros do ‘streaming’, isto é, na distribuição de conteúdo por demanda através da internet.

O sindicato WGA acusou os estúdios de tentar fazer com que os roteiristas sejam tratados “por completo como contratados independentes”.

A AMPTP afirmou que ofereceu uma “proposta de pacote integral”, com pagamentos maiores, mas que não está disposta a melhorar a proposta “devido à magnitude de outras propostas que estão sobre a mesa, nas quais o continua insistindo”.

“Direitos residuais”

Os roteiristas dizem que está difícil ganhar a vida com seu trabalho, com salários defasados ou mesmo em queda devido à inflação, enquanto seus empregadores obtêm lucros e aumentam os salários de seus executivos.

O sindicato acredita que nunca registrou tantos roteiristas trabalhando pelo salário mínimo fixado pelos sindicatos, enquanto as emissoras de televisão contratam menos pessoas para escrever séries cada vez mais curtas.

A AMPTP afirmou que a demanda do sindicato por “funcionários obrigatórios” nos estúdios, o que implicaria um quadro fixo de roteiristas “durante um período específico, sejam eles necessários ou não”, foi um dos pontos de divergências.

Outro ponto foi a fórmula de pagamento dos roteiristas das séries exibidas nas plataformas de streaming, que em empresas como Netflix costumam ficar visíveis por anos.

Há várias décadas, os roteiristas recebem “direitos residuais” pela reutilização de suas obras, uma porcentagem da receita obtida pelos estúdios para o filme ou programa, ou uma taxa fixa cada vez que um episódio é reproduzido.

Mas com o streaming, os roteiristas simplesmente obtêm um pagamento anual fixo, inclusive se seu trabalho tiver um grande sucesso como “Bridgerton” ou “Stranger Things”, visto por milhões de espectadores em todo o mundo.

O WGA pede a reavaliação destes valores, hoje “baixos demais em vista do maciço reaproveitamento internacional” destes programas.

A AMPTP afirma os pagamentos de “direitos residuais” aos roteiristas atingiram um recorde de 494 milhões de dólares em 2021 (cerca de 2,78 bilhões de reais em valores da época), contra 333 milhões dez anos antes (cerca de 620 milhões de reais em valores da época).

Também rejeita as insinuações de que os estúdios alegam falsas dificuldades econômicas para reforçar sua posição nas negociações.

Após os gastos elevados dos últimos anos, quando plataformas de streaming concorrentes tentavam a todo custo aumentar seus assinantes, os estúdios agora estão sob intensa pressão dos investidores para cortar gastos e obter lucro.

“Você acredita que a Disney demitiria 7.000 pessoas por diversão?”, questionou uma fonte próxima à AMPTP.

“Há uma única plataforma [de ‘streaming‘] que é lucrativa neste momento, e esta é a Netflix. A indústria cinematográfica também é um setor bastante competitivo”, afirmou.

“Tudo mudou”

Os estúdios argumentaram que estão “dispostos a iniciar em discussões com o WGA em um esforço para acabar com o impasse”.

Mas a indústria teme um efeito dominó. Outros sindicatos de Hollywood expressaram solidariedade aos roteiristas, como o SAG-AFTRA dos atores e o DGA (diretores).

“Tudo mudo com as plataformas de streaming e todos devem ser compensados por seu trabalho”, declarou na segunda-feira a atriz Amanda Seyfried à revista Variety.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo