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Reunião de urgência na Jamaica debate Crise no Haiti; ONU pede negociações pela democracia

Durante o fim de semana, mais uma vez a capital haitiana foi palco de violência ligada a gangues que exigem a renúncia do primeiro-ministro Ariel Henry

Um homem chuta pneus em chamas durante um protesto após o governo anunciar que estenderia o estado de emergência por mais um mês, após uma escalada de violência por parte de gangues que buscam destituir o primeiro-ministro Ariel Henry. Em Porto Príncipe, Haiti, 7 de março de 2024 . © Ralph Tedy Erol / Reuters
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O Conselho de Segurança da ONU fez um apelo nesta segunda-feira (11) a “negociações” para “restaurar” a democracia no Haiti. A crise de segurança que abala o país caribenho há mais de uma semana é tema, também, de uma reunião de urgência na Jamaica, um dia após países ocidentais retirarem seus diplomatas da capital Porto Príncipe, sob controle de gangues criminosas e em “estado de sítio”.

A União Europeia (UE) anunciou a retirada de todo o seu pessoal do Haiti, um país assolado pela violência de grupos armados, expressando a sua “extrema preocupação” sobre os riscos para seus funcionários. “Em resposta à dramática deterioração da situação de segurança, decidimos reduzir as nossas atividades no terreno e transferimos o pessoal da delegação da UE em Porto Príncipe para um local mais seguro fora do país (…). Atualmente, evacuamos todo o pessoal da UE do Haiti”, declarou Peter Stano, porta-voz do chefe da política externa da UE, Josep Borrell.

O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, viajou nesta segunda-feira à Jamaica para participar da reunião de emergência da Comunidade do Caribe (Caricom), França, Canadá e ONU sobre a crise no Haiti. De acordo com o Departamento de Estado americano, Blinken discutirá os esforços destinados  a “estabelecer rapidamente uma transição política no Haiti através da criação de um colégio presidencial independente”, declarou o porta-voz Matthew Miller num comunicado de imprensa.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, embarca em um avião na Base Aérea de Andrews, Maryland, em 11 de março de 2024, a caminho de Kingston, Jamaica, para negociações de emergência com líderes caribenhos sobre a crise no Haiti. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, embarca em um avião na Base Aérea de Andrews, Maryland, em 11 de março de 2024, a caminho de Kingston, Jamaica, para negociações de emergência com líderes caribenhos sobre a crise no Haiti. AFP – ANDREW CABALLERO-REYNOLDS

Durante o fim de semana, mais uma vez a capital haitiana foi palco de violência ligada a gangues que exigem a renúncia do primeiro-ministro Ariel Henry.

O vice-presidente da Guiana, membro da Caricom, Bharrat Jagdeo, disse no domingo (10) que esses países “procurariam restaurar a ordem e restaurar a confiança do povo haitiano”. “Os criminosos tomaram conta do país. Não há governo, a sociedade está a caminho da falência”, acrescentou.

Washington anunciou, no domingo, a evacuação do pessoal não essencial de sua embaixada em Porto Príncipe. O Exército dos Estados Unidos indicou ter “conduzido uma operação destinada a reforçar a segurança” da sua embaixada para “permitir a continuação das operações (…) e a saída de pessoal não essencial”. “O aumento da violência de gangues nos bairros próximos à embaixada americana e ao aeroporto levou o Departamento de Estado a decidir prosseguir com a saída de agentes adicionais”, afirmou um porta-voz diplomático. A retirada de parte do quadro de funcionários americanos ocorreu durante a noite de sábado para domingo, de helicóptero, segundo moradores do bairro.

A Alemanha anunciou uma medida semelhante. “Devido à situação de segurança muito tensa no Haiti, o embaixador alemão e o representante permanente em Porto Príncipe partiram hoje para a República Dominicana com representantes da delegação da UE”, disse um porta-voz do ministério, acrescentando que trabalhariam deste país “até novo aviso”.

Cidade sitiada

Porto Príncipe é palco de confrontos entre a polícia e gangues armadas, que atacam locais estratégicos, incluindo o palácio presidencial, delegacias e prisões.

É “uma cidade sitiada”, alertou no sábado Philippe Branchat, chefe da Organização Internacional para as Migrações (OIM) para o Haiti.

Escolas da capital estão fechadas há vários dias e o aeroporto e o porto não funcionam, aumentando o temor de um colapso no abastecimento à população do país mais pobre das Américas. O acesso aos cuidados médicos também está seriamente comprometido, com “hospitais atacados por gangues, com evacuação de médicos e pacientes, incluindo recém-nascidos”, segundo a OIM.

“Perdemos todas as nossas propriedades, tudo o que possuíamos. Perdemos as nossas famílias”, disse Reginald Bristol, residente em Porto Príncipe, à AFP.

“Desde ontem à noite não conseguimos dormir. Estamos fugindo, eu carrego meus pertences na cabeça, sem saber para onde ir”, disse Filienne Setoute, funcionária pública.

Segundo a OIM, 362 mil pessoas – mais de metade das quais são crianças – estão atualmente deslocadas no Haiti, um número que aumentou 15% desde o início do ano.

As autoridades declararam estado de emergência há uma semana no departamento oeste, que inclui a capital, e estabeleceram toque de recolher noturno.

Missão internacional sofre atraso

O Conselho de Segurança da ONU concordou há meses em enviar uma missão internacional liderada pelo Quênia para ajudar a polícia haitiana, mas seu envio está muito atrasado. O primeiro-ministro do Haiti assinou um acordo em Nairobi, no início de março, para permitir o envio de agentes da polícia queniana e, desde então, ele tem tentado voltar para o Haiti. Pelas últimas notícias, o premiê ainda estava em Porto Rico, território americano no Caribe.

O chefe da diplomacia americana e o presidente do Quênia falaram sobre a crise em curso e “sublinharam o seu compromisso inabalável com o envio de uma missão multinacional de apoio à segurança” para “criar as condições necessárias à realização de eleições livres e justas”, de acordo com um porta-voz do departamento de Estado americano, no sábado.

Sem presidente ou Parlamento, o Haiti não tem eleições desde 2016. Ariel Henry, nomeado pelo presidente Jovenel Moïse pouco antes do seu assassinato, em 2021, deveria ter deixado o cargo no início de fevereiro.

No domingo, o Papa Francisco disse que acompanhava esta “grave crise” “com preocupação e dor” e apelou a todas as partes para trabalharem pela paz.

Um pequeno sinal de esperança foi dado no domingo: cinco pessoas raptadas em fevereiro em Porto Príncipe, incluindo quatro religiosos, foram libertadas, anunciou a congregação católica, pedindo a libertação de outros dois religiosos detidos.

(Com AFP)

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