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Parlamento britânico rejeita intervenção militar na Síria

Parlamentares votam contra a autorização preliminar desejada pelo governo, que precisará recorrer a uma nova votação para se juntar aos EUA em um possível ataque

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O Parlamento britânico rejeitou na noite desta quinta-feira 29 uma moção apresentada pelo primeiro-ministro David Cameron que dava autorização ao governo para realizar uma ação militar contra a Síria. Agora, para se juntar a uma operação contra o regime de Bashar al-Assad, que vem sendo cogitada também pelos governos dos Estados Unidos e da França, Cameron precisará de uma segunda votação.

O Parlamento britânico passou o dia todo debatendo a questão síria. O governo conservador de Cameron, apoiado por seus companheiros de coalizão liberais-democratas, queria uma autorização preliminar dos parlamentares para se juntar à retaliação planejada contra Assad – para as potências ocidentais, o regime sírio é o responsável pelo aparente ataque químico contra civis realizado nas cercanias de Damasco no último dia 21. A oposição trabalhista, em contrapartida, desejava ver aprovada uma moção que servisse para balizar as decisões do governo em caso de intervenção militar no exterior. Após horas de debate, os dois projetos caíram.

A proposta oposicionista foi rejeitada por 332 a 220 votos. A governista caiu por uma margem bem menor, 285 a 272 votos. De acordo com o jornal The Guardian, a derrota foi provocada por parlamentares do próprio Partido Conservador, o que ampliou o choque com a derrota governista numa votação que era considerada como vitória garantida para Cameron.

Após a rejeição da medida, o líder da oposição, Ed Miliband, pediu a Cameron garantias de que não vai lançar mão do aparato militar britânico, nem mesmo em forma de ajuda aos Estados Unidos, sem a anuência do Parlamento – algo que Cameron, em tese, poderia fazer. “Eu posso dar essa garantia”, afirmou Cameron. “Está claro para mim que o Parlamento britânico, refletindo a visão do povo britânico, não deseja ver o envolvimento militar britânico. Entendo e o governo vai agir de acordo com isso”, disse.

O resultado significa uma mudança de paradigma na política externa britânica, pois transfere ao Parlamento responsabilidades no uso das Forças Armadas. Em entrevista ao programa Newsnight, da BBC, após a votação, o secretário de Defesa de Cameron, Philip Hammond, atribuiu a derrota aos traumas da ocupação do Iraque, iniciada em 2003, na qual o governo trabalhista de Tony Blair fez o Reino Unido acompanhar a política externa dos Estados Unidos. Segundo Hammond, da mesma forma que os Estados Unidos levaram muitos anos para superar o trauma da Guerra do Vietnã, o Reino Unido vai demorar para superar os fantasmas da Guerra no Iraque.

A participação britânica ainda não pode ser descartada, no entanto. Se houver uma nova votação e o Parlamento mudar de ideia, o Reino Unido pode se juntar aos Estados Unidos e à França. Isso só deve ocorrer, entretanto, se houver uma mudança grande nos rumos do conflito da Síria. A decisão também não inviabiliza totalmente um ataque ao regime Assad. Funcionários do governo norte-americano afirmaram ao jornal The New York Times que o presidente dos Estados Unidos, Barack obama, está disposto a agir sozinho contra Assad.

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