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Operação israelense na Cisjordânia deixa 11 mortos e mais de 80 feridos

‘Nossa prioridade imediata deve ser evitar uma escalada maior, reduzir as tensões e restaurar a calma’, afirma secretário-geral da ONU

Um homem palestino tenta fugir de um veículo militar israelense em Nablus, em 22 fevereiro de 2023. Foto: Zain Jaafar/AFP
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Onze palestinos morreram e mais de 80 ficaram feridos por disparos em uma incursão militar israelense em Nablus, na Cisjordânia ocupada, informou a Autoridade Palestina nesta quarta-feira 22.

Além de um adolescente de 16 anos, nove homens com idades entre 23 e 72 anos morreram durante a ofensiva, segundo o Ministério da Saúde palestino. Horas depois, a pasta anunciou a morte de outro homem de 66 anos por inalação de gás lacrimogêneo.

Pelo menos 82 pessoas foram hospitalizadas por ferimentos a bala, algumas em estado grave.

O Exército israelense anunciou pouco antes das 10h30 (5h30 de Brasília) uma operação em Nablus que mirava suspeitos “em um apartamento escondido”, acusados de ataques na Cisjordânia.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, lamentou que a situação “no território palestiniano ocupado” seja “a mais explosiva em anos” num contexto de um “processo de paz” israelense-palestino “bloqueado”.

“Nossa prioridade imediata deve ser evitar uma escalada maior, reduzir as tensões e restaurar a calma”, disse.

Esta é a incursão israelense mais sangrenta na Cisjordânia desde pelo menos 2005, e o balanço de mortes supera o da operação de 26 de janeiro em Jenin, quando 10 pessoas morreram.

‘Obstáculo à paz’

Os soldados deixaram Nablus quase três horas depois, de acordo com os correspondentes da AFP. Um deles observou soldados israelenses lançando bombas de gás lacrimogêneo na direção de jovens palestinos que atiravam pedras contra veículos militares e queimavam pneus.

O jornalista Mohammed Al Khatib, da Palestine TV, foi ferido no ataque, de acordo com um repórter da emissora.

A Jihad Islâmica afirmou que um dos comandantes locais de sua ala militar estava entre os mortos. O líder do grupo, Ziyad Al-Nakhalah, chamou o ataque de “grande crime” ao qual “a resistência deve responder”.

A Cova dos Leões, um grupo de combatentes sediado em Nablus, indicou que seis dos mortos eram membros de diferentes facções palestinas.

À tarde, uma multidão se reuniu na cidade, no campo de refugiados de Balata, para os funerais de 10 mortos, segundo um repórter da AFP.

‘Espiral de violência’

“As autoridades de ocupação e o governo israelense de extrema-direita são responsáveis por este horrível massacre”, disse Saeed Abu Ali, secretário-geral adjunto da Liga Árabe para Assuntos Palestinos.

O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, disse que Washington “reconhece os problemas de segurança muito reais enfrentados por Israel”, mas expressou preocupação “com o grande número de feridos e a perda de vidas”.

O alto representante para a Política Externa da União Europeia, Josep Borrell, também se disse preocupado pela “espiral de violência na Cisjordânia”.

Por sua vez, a vizinha Jordânia pediu calma e disse que trabalhará “intensivamente com todas as partes” para acabar com a escalada de violência.

Nos últimos meses, as tropas israelenses aumentaram suas operações apresentadas como “antiterroristas” para procurar “suspeitos” no norte da Cisjordânia — em particular nas cidades de Jenin e Nablus, redutos de grupos armados.

Esses últimos confrontos ocorrem no contexto do aumento da violência na Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel desde 1967.

Após a operação de janeiro, foram registrados tiroteios entre grupos armados na Faixa de Gaza e o Exército israelense, além de um ataque em Jerusalém Oriental.

“Impedir mais violência é uma prioridade urgente”, afirmou na segunda-feira Tor Wennesland, mediador da ONU para o Oriente Médio.

Desde o início do ano, o conflito israelense-palestino já causou a morte de mais de 60 palestinos, incluindo ativistas, civis e combatentes. Nove civis israelenses e uma ucraniana morreram no mesmo período, de acordo com um balanço feito pela AFP com base em fontes oficiais israelenses e palestinas.

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