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Milei se reúne com papa Francisco no Vaticano

O Vaticano não comentou sobre a possível viagem de Francisco este ano à Argentina

Foto: Simone Risoluti / VATICAN MEDIA / AFP
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O presidente argentino, Javier Milei, conversou nesta segunda-feira (12) por mais de uma hora com seu compatriota papa Francisco no Vaticano, em uma reunião com o objetivo de estreitar as relações entre estes dois líderes de ideologias opostas.

Em um compromisso regado a alfajores, o pontífice e o presidente estiveram reunidos por uma hora e dez minutos no Palácio Apostólico, um dia após terem se encontrado pela primeira vez no Vaticano e de trocarem abraços na ocasião da canonização da beata Maria Antonia de Paz y Figueroa, conhecida como Mama Antula (1730 -1799) e primeira santa argentina.

Em tom mais formal, o encontro teve como foco a tentativa de estreitar a relação entre ambos após os insultos que Milei proferiu à Francisco no passado.

Uma das principais questões abordadas foi a grave crise econômica enfrentada pela Argentina, onde 40% da população vive na pobreza e, segundo o FMI, haverá uma recessão ainda este ano. O país registrou uma inflação acima de 200% no final de 2023.

A pauta econômica também foi assunto de seu encontro com Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, após se reunir com Francisco.

“Durante as conversas cordiais na Secretaria de Estado”, foi discutido detalhadamente “o programa do novo Governo para enfrentar a crise econômica” na Argentina, afirmou a Santa Sé em um breve comunicado.

O Vaticano não comentou sobre a possível viagem de Francisco este ano à Argentina, país natal que não visita desde que foi eleito chefe da Igreja Católica em 2013.

Troca de presentes

Como um gesto de cumplicidade, Milei presenteou seu compatriota com alguns alfajores de chocolate amargo e alguns biscoitos de limão, além de um cartão-postal em homenagem à Mama Antula.

Já o ex-arcebispo de Buenos Aires dedicou ao presidente argentino o seu discurso de paz deste ano, que pede a regulamentação da inteligência artificial. Também deu-lhe um medalhão de bronze inspirado no baldaquino, a imponente estrutura de quatro colunas salomônicas que cobre o altar da Basílica de São Pedro.

No centro do medalhão, a pomba do Espírito Santo, como “símbolo de unidade, força e inspiração”, segundo o documento explicativo divulgado pela Santa Sé.

Diferenças como pano de fundo

A abordagem sobre a economia transparece as diferenças entre Francisco e Milei.

O presidente teve a oportunidade de se explicar e defender sua visão perante o pontífice, quase uma semana depois da derrota, na Câmara Baixa, de seu mega pacote de reformas econômicas, políticas e administrativas e agora deverá repensar sua estratégia diante de uma oposição crescente.

Com o argumento de combater a inflação e a pobreza e libertar as forças produtivas, Milei defende um corte radical nos gastos públicos, uma ampla política de privatizações e uma intervenção mínima do Estado. Entre suas primeiras medidas, desvalorizou o peso em 50% e liberou preços na economia.

Já o pontífice baseou grande parte de seu trabalho pastoral na crítica às tendências econômicas e ambientais do neoliberalismo, e defende constantemente que os poderes públicos protejam os mais vulneráveis.

“O papa está sempre preocupado; é evidentemente uma questão que lhe é cara, que as pessoas não sofram”, disse à imprensa no Vaticano o cardeal argentino Víctor Manuel Fernández, chefe do Dicastério para a Doutrina da Fé.

Mudança de tom

No passado, o presidente argentino acusou Francisco de “tentar expandir o comunismo” e, mais recentemente, de “interferência política”, durante sua campanha eleitoral.

Entretanto, mudou o tom nos últimos meses, e em janeiro fez um convite oficial para que o sumo pontífice visitasse a Argentina.

Francisco, de 87 anos, minimizou os ataques proferidos, atribuindo-lhes ao contexto eleitoral, e após o encontro de domingo, os dois protagonizaram uma nova harmonia com seus abraços no Vaticano.

Segundo seus informantes, o papa, que no passado teve divergências com vários presidentes como Mauricio Macri e os Kirchner, Néstor e Cristina, não queria viajar para a Argentina até agora para evitar que sua presença fosse utilizada politicamente.

Em sua segunda viagem ao exterior desde que assumiu a presidência em 10 de dezembro, Milei chegou a Roma na sexta-feira procedente de Israel.

Entre sua delegação na Itália e no Vaticano estão sua irmã Karina, secretária-geral da Presidência, o ministro do Interior, Guillermo Francos, a chanceler Diana Mondino e o rabino Axel Wahnish, conselheiro espiritual do presidente e embaixador designado no Estado de Israel.

Nesta segunda-feira, o presidente argentino também se reuniu com o seu homólogo italiano, Sergio Mattarella, e com a primeira-ministra Giorgia Meloni, sem realizar declarações posteriores à imprensa.

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