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Migração terceirizada

O Reino Unido propõe enviar refugiados, incluídos menores desacompanhados, para Ruanda

Asilo? Só a 4 mil quilômetros - Imagem: Daniel Leal/AFP
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O plano de Boris Johnson de enviar solicitantes de asilo para Ruanda não “suporta o julgamento de Deus”, segundo o arcebispo de ­Canterbury. Em uma intervenção contundente, o chefe da Igreja da Inglaterra, Justin Welby, usou o sermão do Domingo de Páscoa para dizer que o princípio de deportar refugiados a 4 mil milhas do local onde buscaram refúgio é semelhante a “subcontratar nossas responsabilidades” e o “oposto da natureza de Deus”. A intervenção de Welby ocorre em meio a questões crescentes sobre a legalidade dos planos, anunciados pelo secretário do Interior, Priti Patel, em Kigali, que permitiriam a quem solicita refúgio passar pelo Reino Unido com uma passagem só de ida para o país autocrático da África Central.

O governo enfrentou novas críticas depois que o Observer foi informado de que crianças desacompanhadas também estariam entre os refugiados “altamente prováveis” de ser enviados a Ruanda. Especialistas em imigração dizem que uma “alta proporção” de crianças desacompanhadas que chegam ao Reino Unido em pequenos barcos tem sido classificada como adulta por funcionários do Ministério do Interior. O especialista em direito de refugiados Daniel Sohege, que trabalha para a instituição de caridade antitráfico infantil Love146 UK, disse que crianças de até 15 anos foram registradas como se tivessem 22 ou 23. “Isso significa que há uma grande chance de enviar crianças para Ruanda”, disse. “E, uma vez lá, não poderão ter suas avaliações de idade reavaliadas.” Enver Solomon, do Conselho de Refugiados, afirma: “O acordo revela que o governo britânico age com total descaso em relação ao bem-estar dos mais vulneráveis. É tratá-los como carga humana a ser enviada para Ruanda e esquecida”.

A questão da idade é fundamental na avaliação dos casos de asilo, porque influencia como uma pessoa receberá apoio, terá acesso à educação e até mesmo como o pedido de asilo será processado. A intenção do governo é enviar todos os homens solteiros que chegam em barcos ou caminhões para Ruanda, embora muitos questionem se o primeiro centro de asilo offshore do Reino Unido sairá do papel. A agência de refugiados da ONU confirmou que sua equipe de proteção legal analisa o texto do acordo de Ruanda para avaliar sua legalidade, embora as autoridades acreditem que o plano é impraticável. Outros dizem que o contrato – que alguns parlamentares conservadores criticaram – será contestado imediatamente nos tribunais, onde o governo provavelmente será derrotado.

Os enviados a Ruanda não têm perspectiva de que o Ministério do Interior os traga de volta, apesar de relatos confusos da mídia alegando que eles serão mantidos na África apenas enquanto seu pedido de asilo for processado. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1205 DE CARTACAPITAL, EM 27 DE ABRIL DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Migração terceirizada”

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