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Israel usa redes para atacar veículos que questionam versão ‘oficial’ sobre explosão em hospital

Segundo autoridades palestinas, ao menos 471 pessoas morreram no bombardeio

Registro de satélite mostra as consequências do ataque aéreo contra o Hospital Al-Ahli, na Faixa de Gaza. Foto: Satellite image ©2023 Maxar Technologies/AFP
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A explosão de parte de um hospital na Faixa de Gaza que deixou centenas de mortos, na última terça-feira 17, levou autoridades israelenses a criticar veículos internacionais que não se alinham à sua versão sobre o episódio.

Logo após o bombardeio, o Ministério da Saúde do enclave atribuiu o ataque ao “ocupante”, ou seja, o Estado de Israel. Horas depois, o governo de extrema-direita de Benjamin Netanyahu culpou a Jihad Islâmica, outra organização palestina, que prontamente rebateu a acusação.

Segundo autoridades palestinas, ao menos 471 pessoas morreram no incidente. Por volta das 19h50 de terça, pelo horário local, uma forte explosão abalou o hospital Al-Ahli Arab. A partir daquele momento, diversos vídeos que não puderam ser verificados de modo independente mostraram lançamentos de foguetes e uma explosão no solo. Nenhuma das partes recuou de sua versão inicial.

Desde o dia do ataque, perfis de autoridades israelenses e do próprio governo nas redes sociais miram veículos de comunicação que questionaram os comunicados “oficiais” sobre o ataque ao hospital.

Em uma matéria exibida na terça-feira, um repórter da emissora de TV britânica BBC afirmou que “dado o tamanho da explosão, é difícil ver o que mais poderia ter causado isso além de um ataque aéreo israelense ou vários ataques aéreos”.

Nesta quinta 19, um perfil oficial do governo de Israel compartilhou a capa do jornal Daily Mail, do Reino Unido, cuja manchete tratava exatamente da resposta israelense à BBC.

“Olá, BBC, nesta manhã seu libelo de sangue moderno sobre o ataque ao hospital ainda está ativo. Estamos de olho em você, e agora todo mundo também”, diz a mensagem.

Em seu site, a BBC divulgou um comunicado em que avalia ter sido “equivocado especular desta forma”, mas reforça que o repórter “não afirmou, em qualquer momento, que se tratava de um ataque israelense”.

Na quarta-feira 18, as Forças de Defesa de Israel já haviam divulgado uma postagem na qual ironizavam a tradicional emissora britânica: “A BBC afirma ser imparcial e independente… Mas não conseguimos verificar essas afirmações. Em vez disso, optam por acreditar em uma organização terrorista genocida”.

Na ocasião, a BBC informou não ter conseguido comprovar o relato de Daniel Hagari, um porta-voz da Defesa israelense, sobre supostos diálogos que confirmariam a versão do governo de Netanyahu a respeito da explosão do hospital.

Outra publicação das Forças de Defesa de Israel teve enorme repercussão nas redes. A mensagem diz: “A Jihad Islâmica disparou o foguete. O Hamas mentiu a respeito. A mídia reportou isso”. Até a tarde desta quinta, o post tinha mais de 3,5 milhões de visualizações no X.

Jonathan Conricus, porta-voz internacional das Forças de Defesa de Israel, disse nesta quinta que o país “combate o mal no terreno e o preconceito na mídia”, mas “prevalecerá”.

Pouco antes, ele agradeceu ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por publicar no Instagram a seguinte mensagem: “Imprensa imparcial? Raro! Sem espantos”. A postagem do ex-capitão reproduzia uma notícia intitulada Porta-voz do Exército israelense contesta ao vivo cobertura da BBC e exige mais profissionalismo nas coberturas.

Desde 7 de outubro, quando o Hamas executou um ataque em território israelense, mais de 1.400 pessoas morreram em Israel. Do lado palestino, pelo menos 3.785 pessoas morreram nos bombardeios deflagrados pelo governo de Netanyahu.

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