Mundo
Israel usa redes para atacar veículos que questionam versão ‘oficial’ sobre explosão em hospital
Segundo autoridades palestinas, ao menos 471 pessoas morreram no bombardeio
A explosão de parte de um hospital na Faixa de Gaza que deixou centenas de mortos, na última terça-feira 17, levou autoridades israelenses a criticar veículos internacionais que não se alinham à sua versão sobre o episódio.
Logo após o bombardeio, o Ministério da Saúde do enclave atribuiu o ataque ao “ocupante”, ou seja, o Estado de Israel. Horas depois, o governo de extrema-direita de Benjamin Netanyahu culpou a Jihad Islâmica, outra organização palestina, que prontamente rebateu a acusação.
Segundo autoridades palestinas, ao menos 471 pessoas morreram no incidente. Por volta das 19h50 de terça, pelo horário local, uma forte explosão abalou o hospital Al-Ahli Arab. A partir daquele momento, diversos vídeos que não puderam ser verificados de modo independente mostraram lançamentos de foguetes e uma explosão no solo. Nenhuma das partes recuou de sua versão inicial.
Desde o dia do ataque, perfis de autoridades israelenses e do próprio governo nas redes sociais miram veículos de comunicação que questionaram os comunicados “oficiais” sobre o ataque ao hospital.
Em uma matéria exibida na terça-feira, um repórter da emissora de TV britânica BBC afirmou que “dado o tamanho da explosão, é difícil ver o que mais poderia ter causado isso além de um ataque aéreo israelense ou vários ataques aéreos”.
Nesta quinta 19, um perfil oficial do governo de Israel compartilhou a capa do jornal Daily Mail, do Reino Unido, cuja manchete tratava exatamente da resposta israelense à BBC.
“Olá, BBC, nesta manhã seu libelo de sangue moderno sobre o ataque ao hospital ainda está ativo. Estamos de olho em você, e agora todo mundo também”, diz a mensagem.
Hey @BBCWorld, as of this morning your modern blood libel about the hospital attack is still up.
We see you, and now everyone else does too. pic.twitter.com/fTstihXlg0
— Israel ישראל 🇮🇱 (@Israel) October 19, 2023
Em seu site, a BBC divulgou um comunicado em que avalia ter sido “equivocado especular desta forma”, mas reforça que o repórter “não afirmou, em qualquer momento, que se tratava de um ataque israelense”.
Na quarta-feira 18, as Forças de Defesa de Israel já haviam divulgado uma postagem na qual ironizavam a tradicional emissora britânica: “A BBC afirma ser imparcial e independente… Mas não conseguimos verificar essas afirmações. Em vez disso, optam por acreditar em uma organização terrorista genocida”.
Na ocasião, a BBC informou não ter conseguido comprovar o relato de Daniel Hagari, um porta-voz da Defesa israelense, sobre supostos diálogos que confirmariam a versão do governo de Netanyahu a respeito da explosão do hospital.
Outra publicação das Forças de Defesa de Israel teve enorme repercussão nas redes. A mensagem diz: “A Jihad Islâmica disparou o foguete. O Hamas mentiu a respeito. A mídia reportou isso”. Até a tarde desta quinta, o post tinha mais de 3,5 milhões de visualizações no X.
Jonathan Conricus, porta-voz internacional das Forças de Defesa de Israel, disse nesta quinta que o país “combate o mal no terreno e o preconceito na mídia”, mas “prevalecerá”.
Two screenshots that tell a very sad and compelling truth. We are fighting evil on the ground and bias in the media. We shall prevail. https://t.co/Tl90aZBmtA
— Jonathan Conricus (@jconricus) October 19, 2023
Pouco antes, ele agradeceu ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por publicar no Instagram a seguinte mensagem: “Imprensa imparcial? Raro! Sem espantos”. A postagem do ex-capitão reproduzia uma notícia intitulada Porta-voz do Exército israelense contesta ao vivo cobertura da BBC e exige mais profissionalismo nas coberturas.
Must admit the choice of music surprised me but definitely appreciate the support @jairbolsonaro sir. Obrigado! pic.twitter.com/w0NPfNpco9
— Jonathan Conricus (@jconricus) October 19, 2023
Desde 7 de outubro, quando o Hamas executou um ataque em território israelense, mais de 1.400 pessoas morreram em Israel. Do lado palestino, pelo menos 3.785 pessoas morreram nos bombardeios deflagrados pelo governo de Netanyahu.
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