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Israel concentra tropas para potencial invasão de Gaza

Ministro da Defesa indica que Israel está na iminência de uma invasão por terra de Gaza, alvo de cerco e que deve ficar em breve completamente sem eletricidade. Foram convocados 300 mil reservistas

An Israeli army soldier walks past a Merkava battle tank as a column of tanks is amassed in the upper Galilee in northern Israel near the border with Lebanon on October 11, 2023. (Photo by Jalaa MAREY / AFP)
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As Forças Armadas de Israel têm concentrado milhares de tropas nos arredores da Faixa de Gaza, o enclave palestino de onde partiram os membros do Hamas que massacraram mais de mil israelenses no fim de semana, indicando uma potencial invasão iminente por terra do território palestino.

Desde o último sábado, dia da ofensiva surpresa do Hamas, Israel já realizou mais de 2 mil operações aéreas retaliatórias contra alvos em Gaza. Cerca de 300 ocorreram só na última noite. O brigadeiro Omer Tishler, chefe do Estado-Maior da Força Aérea de Israel, afirmou que caças estão atacando a Faixa de Gaza numa “escala sem precedentes”.

Autoridades de saúde de Gaza afirmaram nesta quarta-feira 11 que os intensos ataques aéreos retaliatórios de Israel já deixaram mais de mil palestinos mortos e mais de 4.000 feridos no enclave. Regiões inteiras da Cidade de Gaza, principal área urbana do enclave, foram reduzida a ruínas.

Segundo as Nações Unidas, 260 mil habitantes da Faixa de Gaza, que tem população de pouco mais de 2 milhões, fugiram de suas casas.

Gaza nesta terça-feira 10, quarto dia de ataque israelense.
Foto: MAHMUD HAMS / AFP

Nesta terça-feira, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, falando a soldados concentrados perto de Gaza, disse: “O Hamas queria promover uma mudança e terá uma. O que existia em Gaza não existirá mais”.

“Iniciamos a ofensiva pelo ar e, mais tarde, também atacaremos pelo solo. Estamos na ofensiva. Ela só vai se intensificar”, disse, nas declarações mais explícitas até o momento de que Israel se prepara para uma invasão por terra de Gaza. Desde o ataque do Hamas, Israel também convocou mais de 300 mil reservistas.

Corpos nos kibutz

Mais de cem corpos foram encontrados no kibutz israelense Be’eri, uma comunidade agrícola próxima de Gaza e um dos primeiros locais invadidos pelo Hamas no sábado. Também foram encontrados dezenas de corpos no kibutz vizinho de Kfar Aza. O jornal israelense Haaretz descreveu o que aconteceu no local como “o maior massacre de judeus desde o Holocausto”. Autoridades israelenses também expressaram comparações similares.

“Durante minha infância, ouvi falar dos pogroms na Europa, do Holocausto, é claro. Toda a minha família veio da Europa, eles são sobreviventes. Mas nunca pensei que meus olhos acabariam vendo imagens e coisas assim”, disse o major-general israelense Itai Veruv à rede americana CNN. “Mães, pais, bebês, famílias mortas em suas camas, em abrigos, na sala de jantar, em seus jardins. Não é uma guerra, não é um campo de batalha. É um massacre.”

Reféns em Gaza

Entre os civis assassinados em Israel estão cidadãos dos EUA, Brasil e França. Várias vítimas participavam de um festival de música que ocorria a poucos quilômetros da fronteira com Gaza e que foi alvo de um ataque de homens armados do Hamas. No local, foram encontrados pelo menos 260 corpos. Dois brasileiros que participavam do festival foram assassinados pelo Hamas.

Mais de uma centena de israelenses e estrangeiros, incluindo mulheres e idosos, também foram sequestrados pelo Hamas e levados para Gaza como reféns. Na terça-feira, o embaixador israelense nas Nações Unidas estimou o número de reféns entre 100 e 150. Brasileiros, segundo Israel, estão entre os capturados. O número, no entanto, é incerto.

O Hamas ameaçou matar os reféns caso Israel não cesse seus bombardeios a Gaza, mas até o momento não há indicações de que algum sequestrado tenha sido executado.

Cerco a Gaza

Além de concentrar tropas, Israel ordenou um “cerco total” a Gaza, cortando o fornecimento de eletricidade, água, combustível e comida para o enclave, espremido entre Israel, Egito e o Mar Mediterrâneo e habitado por pouco mais de 2 milhões de palestinos.

Dois terços da eletricidade consumida em Gaza dependiam de fornecimento israelense. Com o corte, o enclave passou a depender exclusivamente de uma termoelétrica local, mas esta também deve ficar sem combustível na tarde desta quarta-feira, segundo autoridades palestinas locais. Há temor de que o corte total de eletricidade afete duramente os hospitais locais, já superlotados de pessoas que ficaram feridas nos ataques aéreos.

Falando à rede Al Jazeera, o repórter Nedal Samir Hamdouna, baseado em Gaza, disse que as condições no enclave sitiado se assemelham a um inferno. “Não tenho palavras para descrever como é terrível a situação aqui”, disse.

Em reposta ao cerco, a Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu na terça-feira a abertura de um corredor humanitário até Gaza. “É necessário um corredor humanitário para fornecer suprimentos médicos essenciais às populações”, disse o porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic.

Na terça-feira, o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, afirmou que a maioria absoluta dos países do bloco é contrária ao “cerco total” imposto a Gaza e à suspensão da ajuda humanitária ao enclave.

Dois palestinos morrem em Jerusalém Oriental

A polícia fronteiriça de Israel matou a tiros dois palestinos que lhes atiraram fogos de artifício e pedras na zona anexada de Jerusalém Oriental, informou nesta quarta-feira 11 esta força de segurança.

O incidente ocorreu na noite de terça-feira no bairro de Silwan, enquanto policiais operavam na área. Um policial ficou ferido pelos fogos de artifício, acrescentou a força policial.

“Em resposta à ameaça às suas vidas, os agentes da polícia fronteiriça dispararam contra os dois agressores. Mais tarde foram confirmados mortos”, acrescentou a guarda fronteiriça de Israel.

Pelo menos 360 mil palestinos vivem em Jerusalém Oriental, uma parte da cidade que foi anexada por Israel, uma ocupação que não é reconhecida pela comunidade internacional. Cerca de 230 mil israelenses vivem nesta área.

Este é o primeiro incidente violento em Jerusalém Oriental desde que o grupo islâmico palestino Hamas lançou a ofensiva sem precedentes contra Israel.

Hezbollah vs Israel no Líbano

O movimento pró-Irã Hezbollah e Israel voltaram a trocar disparos nesta quarta, depois de o grupo xiita ter lançado um ataque com mísseis, do sul do Líbano, em represália pela morte de três dos seus combatentes na segunda-feira em bombardeios israelenses.

Membros do Hezbollah comparecem ao funeral de seus companheiros após ataques israelenses ao Líbano matarem três membros do Hezbollah.
Foto: Mahmoud ZAYYAT / AFP

Em um comunicado, o Hezbollah disse que atacou “com mísseis teleguiados uma posição israelense” em frente à aldeia fronteiriça libanesa de Dhaira, “em resposta às agressões sionistas de segunda-feira” que causaram a morte de três de seus membros.

Ontem, o Exército israelense indicou que está bombardeando o território libanês “em resposta aos mísseis antitanque que atacaram seus soldados”.

O Hezbollah advertiu que haverá uma resposta “decisiva” aos ataques israelenses dirigidos contra o país e a segurança de seu povo, especialmente se esses bombardeios causarem “a morte de mártires”.

De acordo com a Agência Nacional de Informação (ANI), uma organização oficial libanesa, Israel bombardeou com artilharia, apoiada por drones, várias aldeias na fronteira, incluindo Dhaira e Yarin. A agência informou que estes ataques deixaram dois civis levemente feridos em Dhaira.

No dia seguinte à ofensiva surpresa do Hamas, em 7 de outubro, o Hezbollah afirmou que atacou posições israelenses, do Líbano, e esses confrontos continuaram nesta região.

(Com informações de DW e AFP)

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