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No 4º dia, Israel prepara ‘ofensiva total’ sobre Gaza e mortes passam de 2 mil

A comunidade internacional segue sob tensão diante da possibilidade de o Exército israelense deflagrar uma operação terrestre contra o enclave

Bombardeio de Israel sobre Gaza em 10 de outubro de 2023. Foto: Mahmud Hams/AFP
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A nova etapa do histórico conflito entre o Estado de Israel e o Hamas teve nesta terça-feira 10 seu quarto dia, após militantes do grupo palestino deflagrarem uma operação aérea, terrestre e marítima sem precedentes contra o território israelense, no último sábado 7.

Desde então, cerca de 2,1 mil pessoas morreram. Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, há 900 mortos no lado palestino. De acordo com a Corporação Israelita de Radiodifusão Pública, as mortes em Israel chegam a 1,2 mil.

Entre as vítimas, estão dois brasileiros mortos em ataques do Hamas:

  • Bruna Valeanu, 24 anos, morava em Israel há oito anos e estudava Comunicação e Marketing; e
  • Ranani Glazer, 23 anos, vivia em Tel Aviv há sete anos e prestou o serviço militar em Israel.

A primeira aeronave da Força Aérea Brasileira para o resgate de brasileiros em Israel chegou a Tel Aviv às 9h41 desta terça. A aeronave, modelo KC-30, com capacidade para transportar até 238 passageiros, decolou de volta para o Brasil cerca de três horas depois.

“Estão previstos mais cinco voos até domingo. O governo federal está atento e trabalhando para trazer de volta todos os brasileiros que solicitarem, bem como para fazer todo o possível para o processo de paz na região”, publicou o perfil oficial do presidente Lula (PT) no X.

Nesta terça, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse que as forças do país avançam para uma “ofensiva total” contra a Faixa de Gaza. Em contato com militares, compartilhado nas redes sociais, ele afirma ter retirado “todas as restrições”.

“Vocês verão a transformação. O Hamas queria uma mudança, e ela ocorrerá em 180 graus em relação ao que eles pensavam. Eles se arrependerão desse momento”, declarou. “Gaza nunca mais voltará a ser o que era. Quem vier decapitar, assassinar mulheres e sobreviventes do Holocausto, iremos eliminá-los com todas as nossas forças.”

Na manhã de terça, um porta-voz das forças militares israelenses afirmou que cerca de 1,5 mil corpos de integrantes do Hamas foram encontrados no território de Israel. Essas mortes ainda não foram incluídas nas contagens oficiais.

Também no início do dia, Israel anunciou ter retomado o controle das áreas em torno da Faixa de Gaza. À noite, durante um telefonema com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que Israel foi alvo de “uma selvageria nunca vista desde o Holocausto”.

Desde segunda-feira, Israel impõe um cerco total à Faixa de Gaza, a fim de que nada chegue ao enclave, nem mesmo eletricidade, comida, água ou gás, segundo o Ministério da Defesa israelense. Em um território de 360 metros quadrados, sobrevivem 2,3 milhões de palestinos, há 16 anos sob bloqueio do Estado judeu.

Ato contínuo, a Organização das Nações Unidas reforçou que o cerco total é proibido pelo direito internacional. Já a Organização Mundial da Saúde defendeu a abertura de um corredor humanitário para viabilizar o envio de material médico essencial à população.

Israel retirou suas tropas e seus colonos do enclave em 2005, depois de tê-lo ocupado desde 1967. Mantém, no entanto, o controle do espaço aéreo e marítimo desde 2007, por meio de um rigoroso bloqueio.

Os bombardeios de Israel contra a Faixa de Gaza se intensificaram nesta terça e dois membros da alta cúpula do Hamas foram mortos em ataques aéreos. Jawad Abu Shamala, chefe da Economia do grupo, e Zakariya Abu Moammar, líder das Relações Internas, foram os alvos.

Em apenas três dias, mais de 187 mil pessoas tiveram de se deslocar dentro da Faixa de Gaza, conforme o gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários.

Na noite de terça, o Exército de Israel também anunciou ter disparado projéteis de artilharia e morteiros contra a Síria, após uma série de projéteis lançados pelo país vizinho caírem em áreas abertas no território israelense.

O novo episódio reforça a preocupação da comunidade internacional de que o conflito na Faixa de Gaza se espalhe por mais países da região. Outro foco de tensão envolve o Líbano, devido à atuação do Hezzbolah.

Os militares de Israel declararam ter disparado sua artilharia “na direção da origem do lançamento na Síria”, mas não forneceram detalhes. Também não há relatos sobre danos ou feridos.

Para ficar de olho:

– a comunidade internacional segue sob tensão diante da possibilidade de o Exército israelense deflagrar uma operação terrestre contra a Faixa de Gaza, o que tende a gerar um banho de sangue entre palestinos;

– A Suécia suspendeu temporariamente o auxílio ao desenvolvimento dos territórios palestinosA União Europeia deve anunciar uma decisão conjunta em breve;

– as Brigadas Al Qassam, o braço armado do Hamas, reivindicaram os disparos de foguetes contra Israel realizados nesta terça a partir do sul do Líbano;

– as forças militares de Israel bombardearam um porto em Gaza nesta terça. Imagens de bombas caindo no mar e atingindo barcos foram registradas;

– o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse estar disposto a mobilizar forças militares adicionais no Oriente Médio, após o ataque a Israel. Ele confirmou haver americanos entre os reféns capturados pelo Hamas;

– o presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que a guerra é resultado da “falha da política dos EUA no Oriente Médio”, diante de uma tentativa de “monopolizar a solução da crise”;

– a Polícia de Berlim, na Alemanha, proibiu uma manifestação a favor da Palestina marcada para esta quarta-feira 10. A alegação é que o ato representaria “um perigo para a segurança e a ordem públicas”.

Veja imagens do quarto dia de conflito entre Israel e Hamas:

Soldados israelenses perto da base militar de Har Dov, no Monte Hermon, um posto estratégico na encruzilhada entre Israel, Líbano e Síria, em 10 de outubro de 2023. Foto: Jalaa Marey/AFP

Imagem de satélite mostra prédios destruídos em Gaza após bombardeio de Israel em 10 de outubro de 2023. Foto: AFP/Satellite Image 2023 Maxar Technologies

Ataque de Israel ao Porto de Gaza, em 10 de outubro de 2023. Foto: Mahmud Hams/AFP

Soldados israelenses dirigindo perto da cidade de Kiryat Shmona, perto da fronteira com o Líbano. Foto: Jalaa Marey/AFP

Mísseis disparados da Faixa de Gaza são interceptados pelo ‘Domo de Ferro’, sistema israelense. Foto: Jack Guez/AFP

Um homem carrega uma criança ferida para um hospital após ataques israelenses contra a Faixa de Gaza. Foto: Mohammed Abed/AFP

Registro de um quarto de hotel na cidade israelense de Ashkelon, após um míssil lançado da Faixa de Gaza. Foto: Jack Guez/AFP

Ataque de Israel ao Porto de Gaza, em 10 de outubro de 2023. Foto: Mahmud Hams/AFP

Míssil disparado por Israel explode em Gaza. Foto: Mahmud Hams/AFP

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