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França vive sexto dia de greve no ano contra proposta de reforma da previdência

Estimativa é de que mais de 1,5 milhão de pessoas ocupem as ruas

Franceses protestam contra proposta de reforma da previdência. Foto: Alain Jocard/AFP
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Nesta terça-feira 7, a França vive mais um dia de greve nacional contra a proposta de reforma da previdência do presidente Emmanuel Macron. É a sexta mobilização de massas desde que o projeto foi apresentado, no dia 10 de janeiro, pela primeira-ministra francesa Élisabeth Borne.

A estimativa é que mais de 1,5 milhão de pessoas paralisem suas atividades em setores como transportes, educação e energia. Há previsão de cerca de 300 protestos no país, envolvendo, também, bloqueio de rodovias. A Direção Geral de Aviação da França espera que hoje haja uma redução dos voos em até 30%.

O porta-voz executivo do governo, Olivier Véran, afirmou que as paralisações podem acentuar “os riscos de uma catástrofe ecológica, agrícola, sanitária e até humanitária”. Por outro lado, os sindicatos se referem à mobilização com um “tsunami social”, estimando que 90 mil trabalhadores parem apenas em Paris.

O que está  em jogo

Atualmente, a idade mínima para se aposentar na França é 62 anos. Pela proposta do governo francês, as mudanças incluem aumentar a idade mínima para 64 anos e ampliar, também, o número de anos que os trabalhadores devem contribuir para receber a aposentadoria completa. A ideia é que a mudança seja gradual, com um aumento de três meses por ano, começando no próximo mês de setembro e se tornando completa até 2030.

Além disso, a partir de 2027, os trabalhadores franceses passariam a fazer contribuições para a previdência ao longo de 43 anos, ao invés de 42, como é atualmente, para receber uma pensão completa. No contexto europeu, a França destoa de países como Alemanha e Suécia em relação à taxa de emprego na população entre 60 e 64 anos. Enquanto nos últimos dois países a taxa de emprego nessa faixa etária é de 61% e 69%, respectivamente, na França o percentual é 33%.

O governo francês sustenta que a mudança é necessária para que não aconteça déficit no sistema previdenciário, o que faria com que “os jovens carregassem o ônus”. Atualmente, o texto está em análise no Senado. O Ministro do Trabalho francês, Olivier Dussopt, afirmou, no final de janeiro, que a aprovação da reforma poderá fazer com que a França economize 18 bilhões de euros até 2030.

A medida vem sendo rejeitada pela população francesa. No dia 31 de janeiro, por exemplo, uma greve geral levou, segundo estimativa das centrais sindicais francesas, 2,5 milhões de pessoas às ruas. Segundo pesquisa realizada pelo Quantidade Crítica, em fevereiro, 69% dos trabalhadores do país rejeitam a reforma. Além disso, 59% disseram que apoiam os movimentos de massas que estão ocorrendo no país.

Segundo Frédéric Souillot, chefe da confederação sindical Force Ouvrière, os protestos vão continuar “até que a reforma seja retirada”. O jornal Libération, tradicionalmente ligado ao setor progressista da França, trouxe, em manchete de capa inteira nesta terça,feira 7, que hoje é “o primeiro dia do resto da greve”.

Histórico

Nas últimas décadas, todas as tentativas de reforma no sistema previdenciário francês enfrentaram resistência da população, com greves e mobilizações, assim como ampliaram o debate público sobre o tema no país.

Na década de 1980, o presidente socialista François Mitterrand estabeleceu que a idade mínima para aposentadoria seria de 60 anos. Àquela altura, o quadro era visto como representativo para os direitos sociais.

Desde então, oito tentativas de reformas aconteceram na França, envolvendo presidentes de esquerda, como François Hollande, e de direita, como Nicolas Sarkozy. Em 1995, uma proposta que exigia que trabalhadores do setor público contribuíssem por 40 anos (como era o caso do setor privado) enfrentou aquela que foi considerada a maior manifestação de massas desde o Maio de 1968, quando os estudantes franceses paralisaram o país. Em 1995, diversos setores do país ficaram paralisados por três semanas, o que fez com que o governo abrisse mão da proposta de reforma.

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