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França inicia greves e protestos contra a reforma da Previdência de Macron

A circulação de metrôs, ônibus e trens está fortemente perturbada nas grandes cidades

Manifestantes marcham durante uma manifestação em Paris. Foto: Thomas SAMSON / AFP
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Trens parados, escolas fechadas, sindicatos nas ruas. A França começa um dia de greve geral nesta quinta-feira 19 contra o projeto de reforma da Previdência apresentado pelo governo de Emmanuel Macron. As centrais sindicais preveem adesão em massa dos trabalhadores aos protestos contra o aumento da idade da aposentadoria, dos atuais 62 para 64 anos.

A circulação de metrôs, ônibus e trens está fortemente perturbada nas grandes cidades, como Paris, segundo a autoridade de transportes RATP. Uma linha de metrô está totalmente fechada, várias funcionam apenas nas horas de pico e as demais estarão com a circulação reduzida o dia inteiro.

Uma grande manifestação está prevista para começar às 14h (9h em Brasília) na capital, com a presença das principais centrais sindicais e dezenas de milhares de trabalhadores grevistas. Em toda a França, estão previstas manifestações em pelo menos 215 cidades. Ao todo, de 550 mil a 1 milhão de manifestante são esperados nas ruas.

Mais de 10 mil policiais estão mobilizados para proteger os protestos, dos quais um terço na capital, segundo o Ministério do Interior, que também se prepara para a ação de “alguns milhares” de manifestantes “que podem ser violentos”.

A empresa nacional ferroviária SNCF advertiu que apenas um a cada três ou até um a cada cinco trens de alta velocidade (TGV) está funcionando, dependendo da linha. A situação é ainda pior nos trens regionais, em que apenas 10% estão operando, em média.

“Vai ser uma quinta-feira difícil (…), com grandes perturbações nos transportes”, havia alertado o ministro dos Transportes, Clément Beaune, que pediu para as empresas viabilizarem ao máximo o teletrabalho.

Vários setores mobilizados
Na companhia pública de eletricidade EDF, ocorrem cortes de produção de energia, que chegam a pelo menos o equivalente ao dobro do consumo de Paris. “É o início da luta até à desistência!!”, escreve a federação CGT Mines Energie, nas redes sociais, anunciando “mais de 7.000 megawatts de redução de produção – que não deve impactar, entretanto, os usuários.

A greve também atinge os postos de gasolina – alguns já estão a seco, devido às paralisações nas refinarias. O ministro Beaune pediu que os motoristas “tomem medidas de precaução”.

Na aviação civil, um em cada cinco voos podem ser cancelados no aeroporto de Paris-Orly, devido à greve dos controladores de tráfego aéreo. Na Educação, 70% dos professores de ensino fundamental devem paralisar as atividades e muitas escolas estão fechadas, segundo o principal sindicato do setor.

Reforma arriscada

O projeto e sua principal medida, o adiamento progressivo em dois anos da idade de aposentadoria, enfrenta uma frente sindical unida e uma hostilidade generalizada na opinião pública, de acordo com as pesquisas. A reforma é para ser um marco do segundo mandato de Macron, que se comprometeu desde a sua primeira campanha para a presidência, em 2017, a equilibrar as contas da Previdência para as próximas gerações. O plano é que, a partir de 2030, os franceses se aposentem com 64 anos.

O presidente aposta alto: seu partido, que não tem maioria na Assembleia Nacional, poderia se enfraquecer se o movimento grevista for intenso e duradouro. Na quarta-feira (18), Macron criticou certos sindicatos que gostariam de “bloquear o país”, enquanto o porta-voz do governo, Olivier Véran, disse esperar que “a expressão popular não se transforme em bloqueio”.

O futuro do movimento ainda é incerto: se, por um lado, os sindicatos estão unidos pela primeira vez em 12 anos, o sindicalismo tem perdido espaço no cenário social francês, nos últimos anos. “Estamos cheios”, disse Olivier Mateu, representante sindical do sul da França, entrevistado pela AFP em Marselha. “Vimos que tudo o que o governo fez foi a favor dos mais ricos deste país e nunca para quem cria a riqueza, ou seja, nós, os trabalhadores.”

Para o secretário-geral da CGT, Philippe Martinez, a reforma “canaliza toda a insatisfação” na França. “Quando todos os sindicatos concordam, é um marco real. É porque o problema é muito sério. E nós concordamos que a reforma é injusta”, complementou, em entrevista à emissora Public Sénat nesta manhã.

“Este é o primeiro dia de mobilização, devemos fazer uma demonstração de força, no sentido pacífico do termo”, disse o líder da CFDT, Laurent Berger, à BFMTV.

No Parlamento, onde o projeto foi apresentado na semana passada pela primeira-ministra, Elisabeth Borne, a esquerda e a extrema direita se opõem à reforma, enquanto a direita demonstra resistência a pontos do texto, mas parece aberta a concessões.

A França é um dos países europeus em que a idade legal da aposentadoria é a mais baixa, mas as diferenças nos regimes de pensões são grandes. Na Alemanha, a idade mínima para a aposentadoria integral é 65 anos e, na Dinamarca, chega a 67, de acordo com o Centro de Conexões Europeias e Internacionais sobre Seguridade Social, um órgão público francês.

Com informações da AFP

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