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Ex-premiê do Japão Shinzo Abe morre depois de ser atingido por tiros

Abe bateu recordes como o primeiro-ministro mais longevo do país, resistindo a vários escândalos político-financeiros

Ex-primeiro-ministro é chegou a ser resgatado na cidade de Nara. Foto: STR / Yomiuri Shimbun / AFP
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O ex-primeiro-ministro do Japão Shinzo Abe morreu depois de ter sido baleado durante um evento de campanha nesta sexta-feira 8.

“Shinzo Abe foi transportado (para o hospital) às 12h20. Ele estava em estado de parada cardíaca na chegada. A reanimação foi administrada. No entanto, infelizmente, ele morreu às 17h03” (5H03 de Brasília), afirmou Hidetada Fukushima, professor de Medicina de Emergência no hospital da Universidade de Medicina de Nara.

Estrondo e fumaça

Em imagens da NHK que mostram o momento do ataque, Abe é visto em pé em um palanque, quando, em seguida, pode-se ouvir um estrondo, além de se ver fumaça no vídeo. Enquanto os espectadores, surpreendidos pelo ataque, se abaixam, algumas pessoas derrubam uma outra no chão.

O ex-premiê “estava fazendo um discurso e um homem veio por trás”, disse à NHK uma jovem no local. “O primeiro tiro parecia um brinquedo. Ele [Abe] não caiu e houve um grande estrondo. O segundo tiro era mais visível, você podia ver a faísca e a fumaça”, disse ela. “Depois do segundo tiro, as pessoas o cercaram e lhe fizeram uma massagem cardíaca”, ela testemunhou.

Abe desmaiou e sangrava no pescoço, disse à agência de notícias Jiji uma fonte do Partido Liberal Democrático (PLD), de direita nacionalista. Autoridades locais do PLD informaram não terem recebido nenhuma ameaça antes do ataque e que o discurso de Abe foi anunciado publicamente.

Primeiro-ministro mais longevo

Abe bateu recordes como o primeiro-ministro mais longevo do Japão, resistindo a vários escândalos político-financeiros.

Quase dois anos depois de ter sido obrigado a deixar o posto de chefe de Governo por problemas de saúde, Abe, 67 anos, se encontra em “estado muito grave”, disse o atual primeiro-ministro do país, Fumio Kishida.

Abe tinha 52 anos quando assumiu o cargo de primeiro-ministro em 2006 e se tornou a pessoa mais jovem a ocupar a posição.

Ele era considerado um símbolo de mudança e juventude, mas também apresentava o pedigree de um político de terceira geração, preparado desde cedo para exercer o poder dentro de uma família conservadora de elite.

Seu primeiro mandato foi turbulento, marcado por escândalos e disputas, e terminou com sua renúncia abrupta após um ano.

Inicialmente ele declarou que renunciou por motivos políticos, mas depois admitiu que tinha um problema de saúde, que mais tarde foi diagnosticado como colite ulcerativa.

Foto: Kazuhiro NOGI / AFP

A era “Abenomics”

A condição exigiu meses de tratamento, superado graças a um novo medicamento, segundo Abe.

Ele voltou a ser candidato e retornou ao cargo de primeiro-ministro como um salvador do país em dezembro de 2012.

Sua vitória encerrou um período turbulento em que os primeiros-ministros se sucediam ao ritmo de de até um por ano.

Afetado pelos efeitos do tsunami em 2011 e o desastre nuclear de Fukushima, o Japão encontrou em Abe uma mão confiável.

Abe ficou famoso no exterior por sua estratégia de recuperação econômica, conhecida como “abenomics”, iniciada em 2012, na qual misturou flexibilização monetária, grande recuperação orçamentária e reformas estruturais.

Alguns avanços foram registrados, como o aumento da taxa de emprego das mulheres e dos idosos. O país também passou a recorrer de maneira mais intensa à imigração para enfrentar a escassez de mão de obra.

Porém, sem reformas realmente ambiciosas, o programa teve sucesso apenas parcial, atualmente ofuscados pela crise econômica provocada pela pandemia de coronavírus.

Tempestades políticas

Abe foi preparado desde muito jovem para exercer o poder, marcado pela história familiar de duas gerações de líderes políticos antes dele.

A grande ambição de Abe era revisar a Constituição pacifista do Japão de 1947, redigida durante a ocupação por parte dos Estados Unidos, e nunca alterada.

No cenário internacional, Abe adotou uma linha dura com a Coreia do Norte, mas assumiu um papel de pacificador entre Estados Unidos e Irã.

Ele priorizou um relacionamento próximo com o ex-presidente americano Donald Trump para proteger a relação entre os dois países do nacionalismo de Trump, ao mesmo tempo que tentou ajustar os vínculos com Rússia e China.

Mas os resultados foram mistos: Trump insistiu em forçar o Japão a pagar mais pelos soldados americanos presentes no país, não conseguiu concretizar um acordo com a Rússia sobre ilhas em disputa e o mesmo aconteceu com seu plano de convidar o presidente chinês, Xi Jinping, para uma visita de Estado.

Abe, muitas vezes atingido por escândalos que afetaram pessoas próximas, soube aproveitar os acontecimentos externos – lançamentos de mísseis norte-coreanos, desastres naturais – para desviar a atenção e se apresentar como um líder indispensável diante das adversidades.

Também foi beneficiado pela falta de um rival do mesmo porte dentro de seu partido, PLD (Partido Liberal Democrata), e a fragilidade da oposição, que ainda não se recuperou de sua passagem desastrosa pelo governo entre 2009 e 2012.

Mas sua popularidade caiu a partir do início da pandemia de covid: as ações do governo Abe foram consideradas lentas e confusas.

Durante muito tempo ele se agarrou à esperança de manter os Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020, que seriam o grande momento de de seu mandato.

(Com informações da AFP e da RFI)

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