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É possível ser radicalmente contra a Otan, contra a guerra e contra Putin, diz cientista político

Em entrevista a CartaCapital, Mathias Alencastro fez críticas às potências do Ocidente e ao Kremlin no conflito da Ucrânia; para o pesquisador, o custo do conflito já é alto demais para que a Rússia seja considerada vitoriosa

O pesquisador Mathias Alencastro, em entrevista ao programa Direto da Redação, no canal de CartaCapital no YouTube. Foto: Reprodução
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A esquerda brasileira tem razão em apontar desconfianças sobre a postura dos Estados Unidos e da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan, em relação ao conflito da Ucrânia, tem razão. Mas a Rússia tem operado uma invasão ilegal e também merece críticas profundas.

É este o ponto de vista do cientista político Mathias Alencastro, pesquisador do Cebrap e professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC.

Em entrevista nesta quarta-feira 2 ao programa Direto da Redação, no canal de CartaCapital no YouTube, Alencastro diz ver certa “empatia” da esquerda brasileira em relação à Rússia em conflitos que envolvem o país. Alguns especialistas e comentaristas, de fato, têm apontado os perigos do projeto de expansão militar da Otan e o crescimento dos movimentos neonazistas na Ucrânia como os principais fatores que explicam a guerra na região.

Porém, na última semana, o presidente russo Vladimir Putin tem agido de forma beligerante ao recorrer à chantagem com bombas nucleares, afirma o pesquisador. “Ele é o primeiro governante a fazer chantagem com a bomba nuclear desde 1945”.

A partir do momento em que Putin lança uma invasão ilegal e faz uma ameaça ilegal, defende, ele já não pode ser colocado em perspectiva.”Todo esse debate é descartado.”

“Acho perfeitamente possível uma pessoa ser radicalmente contra a Otan e fazer uma crítica ao papel dela na militarização do conflito, ser radicalmente contra a guerra porque é um fracasso das democracias e da humanidade, e ser radicalmente contra o Putin, que daqui para frente vai cometer todos os crimes e entrou num processo de destruição que vai arrastar todos os que estiverem ao lado dele”, avalia.

Os próximos capítulos da guerra

Alencastro diz que há chances de que a Rússia capture Kiev nos próximos dias e envie o presidente ucraniano Volodimir Zelensky para o exílio. Na sequência, indicaria um governo de transição ou deixaria os generais assumirem, para depois iniciar um processo eleitoral e levar outro governante ao poder.

No entanto, o custo já é alto demais para que isso seja uma vitória para a Rússia, se considerado que o objetivo militar do Kremlin seria conquistar o território ucraniano e expulsar o que chama de “governo fantoche”.

O bloqueio geoeconômico aplicado pelo Ocidente já é mais brutal do que Putin esperava, examina o professor. As sanções já são bastante enérgicas e podem render efeitos nocivos à própria população russa. Além disso, há uma europeização do conflito e uma mobilização popular significativa.

“A Rússia saiu liquidada desse conflito”, avalia. “Ela está politicamente isolada, perdeu a guerra política, perdeu a guerra econômica de forma irreversível e está passando por um péssimo momento na guerra militar. Em uma semana, um país cometer um suicídio geopolítico não é pouca coisa.”

Mais cedo, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas aprovou uma resolução que pede que a Rússia retire as suas forças militares da Ucrânia e interrompa a ofensiva imediatamente. O placar geral foi de 141 países favoráveis ao texto. Apenas cinco países apoiaram Moscou, entre eles a Síria e a Coreia do Norte. China e Cuba se abstiveram, enquanto a Venezuela preferiu não votar.

Confira a seguir a entrevista na íntegra.

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