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Diante da covid-19, Itália regulariza milhares de imigrantes pela primeira vez em 10 anos

Cerca de 50% da produção agrícola do país depende de mão de obra estrangeira. Governo também amplia acesso de imigrantes ao sistema de saúde

(Foto: MARCO BERTORELLO / AFP)
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O governo italiano aprovou na quarta-feira 13 um pacote de medidas para revitalizar a economia diante da crise desencadeada pelo coronavírus. Uma das decisões mais emblemáticas é a regularização de milhares de imigrantes que trabalham na agricultura e nos serviços domésticos. Apenas quem já atua no país poderá se beneficiar da medida.

O pacote foi apresentado pelo chefe do governo, Giuseppe Conte, e por ministros das pastas diretamente envolvidas – Economia, Saúde e Agricultura. A questão da regularização dos imigrantes era um dos pontos mais delicados e o debate provocou tensões entre os partidos da maioria governista. A proposta foi totalmente rejeitada pela Liga, legenda de extrema direita de Matteo Salvini, enquanto a Coldiretti, principal federação agrícola do país, se mostrou favorável.

A decisão foi defendida com firmeza por Conte e pela ministra da Agricultura, Teresa Bellanova. “A partir de hoje, o invisível será menos invisível”, disse ela, com a voz embargada, após o anúncio da decisão.

Desde que a pandemia de Covid-19 se instalou na Europa, o papel de trabalhadores que atuam em áreas essenciais, pondo em risco sua saúde, e na maior parte das vezes exercendo atividades precárias e mal remuneradas, passou a ser valorizado. Muitos europeus passaram a cobrar mais direitos para os “invisíveis”, e os imigrantes clandestinos que trabalham sem documentos entram nessa categoria.

O acordo prevê uma permissão de trabalho temporário de seis meses para aqueles que já atuam regularmente nos setores agrícola e doméstico e que não cometeram crimes nos últimos cinco anos. Os beneficiários devem demonstrar que estão na Itália desde 8 de março e que trabalham em atividades rurais ou no setor doméstico desde 31 de outubro de 2019.

A última regularização em massa decretada na Itália data de 2009. Na época, quando Silvio Berlusconi estava no poder, cerca de 300 mil imigrantes tiveram seus vistos de trabalho temporário validados.

Metade da produção agrícola depende de mão de obra estrangeira

Cerca de 350 mil estrangeiros exercem emprego sazonal na agricultura italiana a cada ano. Segundo dados da Coldiretti, praticamente 50% da produção agrícola do país depende dessa mão de obra estrangeira.

Além de ajudar a relançar a economia diante da pandemia de Covid-19, a regularização tem uma função sanitária, já que sem visto de trabalho os ilegais não têm acesso aos serviços públicos de saúde. As autoridades italianas temiam o surgimento de novos focos de contaminação pelo coronavírus entre esses imigrantes que não teriam acompanhamento médico.

A regularização também é vista como uma maneira de combater a ação das máfias. Muitas dessas organizações criminosas aproveitaram a pandemia e a precariedade de parte da população para se infiltrar ainda mais em vários setores da economia italiana.

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