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Como Alexei Navalny, morto na prisão, se tornou o principal opositor de Putin

O ativista liderou um movimento de protesto anticorrupção que mobilizou centenas de milhares contra o presidente russo em 2010

Alexei Navalny e Vladimir Putin. Fotos: EVGENY FELDMAN e Alexander RYUMIN / various sources / AFP
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O serviço penitenciário da Rússia comunicou, nesta sexta-feira 16, a morte do líder da oposição russa Alexei Navalny, preso desde 2021.

Segundo o comunicado oficial, Navalny “sentiu-se mal após uma caminhada, perdendo quase imediatamente a consciência”. Ele tinha 47 anos.

Um dos críticos mais vocais do atual presidente Vladimir Putin, Navalny liderou um movimento anticorrupção que mobilizou centenas de milhares de russos contra Putin em 2010. Muito ativo nas redes sociais, o advogado movimentou esforços para mobilizar protestos na Rússia, fazendo campanha contra a fraude eleitoral e a corrupção governamental e investigando o círculo íntimo de Putin.

Ele estava detido em uma prisão a cerca de 65 quilômetros a norte do Círculo Polar Ártico, condenado a 19 anos de prisão, sob um “regime especial”, sob acusações de extremismo e fraude por parte do Kremlin. Nessa categoria, normalmente destinada aos condenados à prisão perpétua, ou aos detentos mais perigosos, as condições de detenção são mais duras.

Alexei Navalny (centro) no tribunal da cidade russa de Kirov

Apesar de se tornar mais conhecido a partir de 2010, Navalny mantinha, desde o início dos anos 2000, um blog onde expunha casos de corrupção do governo russo e em empresas estatais, como a Gazprom e a petrolífera Rosneft.

Suas movimentações políticas e ativistas valeram a Navalny inúmeras prisões sob alegações de corrupção e de promover uma desordem pública. 

Em 2013, Navalny obteve 27% dos votos para presidente da Câmara de Moscou, mesmo com as diversas suspeitas de fraude por parte do governo russo. 

Seu ativismo incisivo e sua determinação em promover mudanças lhe renderam inimigos tanto na Rússia, quanto no exterior. 

Envenenamento

Em 2020, Navalny entrou em coma após uma suspeita de envenenamento com novichok e foi transferido para a Alemanha para tratamento.

Uma série de suspeitas paira sobre o envolvimento do Estado russo na tentativa de homicídio do opositor. O Kremlin nega todas as acusações.

Ele se recuperou e retornou à Rússia em janeiro de 2021, onde foi preso sob a acusação de violação da liberdade condicional e condenado à primeira de várias penas de prisão que totalizariam mais de 30 anos atrás das grades.

Após sua prisão, uma onda de protestos ganhou as ruas do país pedindo a libertação de Navalny. Houve cenas violentas em Moscou — um vídeo em rede social mostra a polícia batendo e prendendo apoiadores de Navalny.

Novas acusações

Mesmo preso, Navalny divulgou informações que revelam a existência de um suposto palácio, avaliado em 7,2 bilhões de reais, que pertenceria ao presidente russo. Segundo o opositor, o imóvel teria sido adquirido com recursos ilícitos. 

As acusações feitas por Navalny foram confirmadas pela imprensa russa. 

Os recursos para a construção da fortaleza teriam sido fornecidos  por membros do círculo íntimo de Putin, incluindo oligarcas do petróleo e bilionários.

A transferência para o Ártico

Após semana sem dar notícia para familiares, em um período próximo à eleição presidencial na Rússia, Navalny foi transferido de Moscou para uma colônia penal a 65 quilômetros ao norte do Círculo Polar Ártico. 

Um dos principais colaboradores de Navalny, Ivan Zhdanov, afirmou que esta é “uma das colônias mais remotas” da Rússia. As condições lá são “difíceis”, escreveu na rede X.

“Desde o início, ficou claro que as autoridades queriam isolar Alexei, especialmente antes da eleição presidencial”, prevista para março de 2024, acrescentou Zhdanov.

Além da sua prisão, seu movimento, que continuava em ação por meio de colaboradores e aliados, foi minado de maneira metódica pelas autoridades russas, que prenderam ou mandaram para o exílio pessoas próximas do opositor. 

Nesse cenário, com a oposição quase inexistente e a repressão intensa a qualquer voz crítica, Putin aspira sem problemas a um novo mandato de seis anos na Presidência da Rússia nas eleições de março de 2024.

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