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Bolsonaro é único líder do G20 que se nega a tomar vacina contra a Covid-19

O capitão afirma que não irá se vacinar por já ter tido vírus, mas postura geral dos presidentes sobre imunizante é outra

Líderes do G20 encerram cúpula sem dar garantias de vacinação em massa contra Covid-19. Foto: AFP.
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O presidente Jair Bolsonaro é o único entre os líderes de países pertencentes ao G20 que declarou abertamente não desejar tomar a vacina contra a Covid-19.

Bolsonaro disse não querer se vacinar por já ter tido Covid-19. “Eu não vou tomar, é um direito meu. E tenho certeza de que o parlamento não vai criar dificuldade para quem não tomar a vacina”, declarou em uma live.

Em outra ocasião, o presidente se exaltou quando foi questionado sobre ser um exemplo ruim para os demais cidadãos. “A vacina, uma vez certificada pela Anvisa, vai ser oferecida a todos que queiram tomar. Eu não vou tomar. Alguns falam que estou dando péssimo exemplo. Ô imbecil, ô idiota, que está dizendo do péssimo exemplo, eu já tive o vírus, eu já tenho anticorpos. Para que tomar vacina de novo?”.

No entanto, as recomendações para a imunização incluem pessoas que já tiveram a doença, segundo o próprio Ministério da Saúde, que afirmou não existirem evidências até o momento “de qualquer preocupação de segurança na vacinação de indivíduos com história anterior de infecção ou com anticorpo detectável pelo SARS-COV-2”.

Além disso, o presidente brasileiro também se isola em relação às ironias sobre o imunizante, como a afirmação de que um cidadão poderia “virar jacaré” ou a insistência em denominar a hidroxicloroquina como “cura” da doença.

Alguns presidentes do grupo, que reúne as economias mais ricas do mundo, já foram vacinados com direito à aparição em rede nacional. Entre eles, está o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que já recebeu duas doses da vacina da Pfizer, e o líder turco Recep Tayyip Erdogan, cujo alinhamento à direita nacionalista do país não o freou de receber o imunizante chinês Coronavac.

Outros imunizados do grupo são o rei saudita Salman Bin Abdulaziz; Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul; Joko Widodo, da Indonésia; e o argentino Alberto Fernández, que recebeu a Sputnik V, da Russia. Por sua vez, o presidente russo Vladimir Putin afirmou que receberia a vacina desenvolvida em seu país “quando for possível”. O recado foi similar ao declarado por Scott Morrison, presidente australiano, nesta sexta-feira 19.

 

Na América, o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador também estava de olho na Sputnik V. Em agosto de 2020, após o Instituto Gamaleya anunciar a produção do primeiro lote do imunizante em meio à críticas por falta de transparência, Obrador disse que seria “o primeiro a ser vacinado” se necessário. No fim de janeiro de 2021, Obrador foi diagnosticado com Covid-19 e não fez mais declarações sobre quando receberá o imunizante.

Outros presidentes e primeiros-ministros ainda não foram imunizados, mas possuem fortes declarações de apoio à vacinação em seus respectivos países. Nesta “categoria”, estão Justin Trudeau (Canadá), Moon Jae-in (Coreia do Sul), Yoshihide Suga (Japão), Emmanuel Macron (França) e Angela Merkel (Alemanha). O recém-chegado primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, afirmou que tem como objetivo primordial acelerar o ritmo da vacinação no país.

A União Europeia, que integra o G20 enquanto bloco, ainda não registrou a vacinação da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. No momento, Leyen encara uma crise justamente por admitir problemas para impulsionar as capacidades de produção em larga escala de vacinas.

No Reino Unido, os monarcas Rainha Elizabeth II e o Príncipe Philip foram vacinados no começo do ano. Boris Johnson, premiê britânico que também já foi infectado com o vírus, foi incentivado a ser vacinado em frente às câmeras no mês de dezembro, mas ainda aguarda sua vez entre os grupos prioritários. Em junho, chamou adeptos ao movimento antivacina de “loucos”.

Por fim, duas figuras importantes para a campanha de vacinação no Brasil ainda não foram imunizados.

Um deles é Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, que esteve no centro da crise gerada pelo atraso no envio de 2 milhões de doses da vacina de Oxford ao Brasil em janeiro. Veículos de imprensa indianos afirmam que Modi será vacinado na ‘segunda fase’ da imunização para não furar a fila dos profissionais de saúde, que são o foco da primeira leva.

O outro é Xi Jinping, presidente da China. O país é o responsável por enviar os insumos necessários para a produção das doses da Coronavac e da vacina da AstraZeneca, desenvolvida no País pela Fiocruz, enquanto a primeira é manufaturada no Instituto Butantan.

Atritos diplomáticos entre ambos países, causados principalmente pela postura belicosa do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e por Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, geraram apreensão sobre a liberação do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA). A China depois alegou que os problemas de liberação foram da ordem “burocrática”.

Os discursos de Jinping não são contrários às vacinas, mas as autoridades chinesas não deixaram claro quando o líder do Partido Comunista Chinês deve tomar a primeira dose – ou se já foi imunizado. Em um pronunciamento feito no Fórum Econômico Mundial de 2021, que foi realizado online, Jinping afirmou desejar uma “cooperação internacional sobre as vacinas contra Covid”.

No fim de janeiro, ao ser questionada sobre a vacinação do presidente chinês e do alto-escalão do Partido Comunista, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, afirmou que “não tinha uma resposta a essa questão específica” no momento e que a vacina era “a bala de prata para a prevenção da epidemia e para nossa vitória definitiva sobre o vírus”.

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