Mundo

Biden propõe ao Congresso norte-americano o maior orçamento militar da história

Se aprovado, valor se aproximaria de 1 trilhão de dólares; gastos dos Estados Unidos e China com defesa se inserem no contexto da guerra entre Rússia e Ucrânia

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e o presidente dos EUA, Joe Biden, se encontram antes de uma reunião em Kiev, Ucrânia, 20 de fevereiro de 2023. Foto: Evan Vucci / POOL / AFP
Apoie Siga-nos no

Na última quinta-feira 9, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, apresentou a sua proposta para o ano fiscal de 2024, que começa em outubro. Na esteira do pedido para que os congressistas norte-americanos aprovem um aumento de impostos para a população mais rica e para as grandes empresas, Biden propõe a maior destinação de recursos para a área militar da história dos Estados Unidos, em termos nominais.

São 842 bilhões de dólares para o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, o Pentágono. O valor representa um aumento de 3,2% sobre os 816 bilhões de dólares do ano anterior. Do total, 170 bilhões seriam destinados para a compra de armas, o que pode representar o maior orçamento para essa categoria desde o auge da guerra do Afeganistão, segundo a agência Bloomberg.

Outros gastos entram na conta dos Estados Unidos para a sua estrutura militar: 

24 bilhões de dólares para o Departamento de Energia, que é responsável por gerenciar a infraestrutura nuclear do país;

20 bilhões de dólares para programas militares no Departamento de Estado, na Central Intelligence Agency (CIA) e outras agências.

Somados, os gastos oficiais podem chegar a 886 bilhões de dólares. 

Como o maior orçamento militar da história impacta a guerra na Ucrânia?

Passado mais de um ano do conflito entre Rússia e Ucrânia, a comunidade internacional trata a questão, desde o início, como uma guerra que vai além dos interesses específicos dos países envolvidos. Sem previsão concreta de um término imediato, a guerra vem redefinindo – ou, pelo menos, essa é a intenção declarada do presidente russo, Vladimir Putin – a estrutura global de poder.

O orçamento norte-americano para 2024 lista 7 bilhões de dólares em ajuda militar para a Ucrânia. Esse montante, contudo, não dá a real medida do suporte norte-americano à Ucrânia, uma vez que o Congresso norte-americano pode fornecer ajuda adicional através de financiamento suplementar. Em 2022, por exemplo, o Congresso destinou cerca de 112 bilhões de dólares ao país europeu.

O valor pode ser dividido entre ajuda humanitária, financeira e militar. No primeiro caso, inclui assistência alimentar, suprimentos médicos e suporte às necessidades dos ucranianos em conflito. O segundo caso, na prática, ajuda a manter o próprio estado ucraniano funcionando, através do pagamento de funcionários públicos e profissionais de saúde. A ajuda militar, por sua vez, é a que paga tanques, mísseis e drones, além dos treinamentos, dos gastos com logística e do suporte com inteligência.

No documento oficial em que detalha a proposta de orçamento para 2024, a Casa Branca cita expressamente “a agressão militar chinesa e russa contra os interesses nacionais vitais dos EUA”. Ao tratar do orçamento militar, o governo norte-americano aponta que “os Estados Unidos fizeram investimentos disciplinados para projetar, desenvolver e gerenciar uma força de combate confiável que possa deter a agressão militar chinesa e russa contra interesses nacionais vitais dos EUA e, se necessário, prevalecer em conflito se a dissuasão falhar”.

Sem margem aparente para diplomacia, a ficha técnica apresentada pela Casa Branca, também no dia 9 de março, justifica a demanda por recursos militares, justamente, pelo avanço do poderio chinês. “A China é o único concorrente dos Estados Unidos com a intenção de remodelar a ordem internacional e, cada vez mais, com o poder econômico, diplomático, militar e tecnológico para fazê-lo. Durante esses tempos extraordinários e sem precedentes, o Orçamento solicita recursos discricionários e obrigatórios para superar a China e promover a prosperidade americana globalmente”, diz o documento.

O combate a um inimigo externo é uma constante da política externa norte-americana desde, pelo menos, o fim da Segunda Guerra Mundial. Foi assim com a própria Rússia (à época, União Soviética) durante a Guerra Fria, com o Vietnã, na Guerra do Golfo (1990), com o Afeganistão, o Iraque e o Irã. Nesse momento, porém, o inimigo não apenas é concreto, como já há algumas décadas desponta como força econômica relevante, a China.

Os chineses, por sua vez, também vêm se movimentando no conflito entre Rússia e Ucrânia. No último dia 20 de fevereiro, a China apontou como “falsas” as alegações dos Estados Unidos de que estaria considerando enviar armas à Rússia para ajudar o país na guerra contra a Ucrânia. O então porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, afirmou que a posição da China no conflito é “encorajar a paz e promover o diálogo”.

Isso não impediu, por exemplo, que China e Rússia acusassem “as chantagens e ameaças” do Ocidente, durante a reunião do G20, no início de março. No último dia 05, a China anunciou um aumento de 7,2% no seu orçamento de defesa para este ano, chegando a 224 bilhões de dólares. Trata-se do segundo maior orçamento militar do mundo, mas bem abaixo do norte-americano. 

Apesar do valor oficial, não é de se desconsiderar a hipótese de que a China investe um montante ainda maior no setor militar, dada a pouca transparência dos dados do país. Detalhes sobre como o valor seria aplicado, por exemplo, não foram divulgados.

A justificativa para o crescimento, porém, foi apresentada pelo primeiro-ministro do país, Li Kequiang. Para ele, “as tentativas externas de reprimir e conter a China estão aumentando”. 

De fato, foi justamente a tentativa de contenção que acabou sendo uma das justificativas do secretário de Defesa norte, americano, Lloyd Austin, para apoiar a proposta de orçamento de Biden. “A solicitação de orçamento do presidente fornece os recursos necessários para enfrentar o desafio estimulado pela República Popular da China”, afirmou Austin em comunicado oficial.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo