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Bannon: Bolsonaro e Salvini são os políticos mais importantes do mundo

O ideólogo do populismo de direita volta a criticar as interferências do general Hamilton Mourão

Steve Bannon, ex-assessor de Donald Trump. Foto: AFP
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O estrategista norte-americano Steve Bannon, ex-assessor de Donald Trump, concedeu nesta terça-feira 26 uma entrevista coletiva na Stampa Estera, associação dos jornalistas estrangeiros em Roma. O ideólogo de extrema-direita voltou a exaltar o presidente brasileiro Jair Bolsonaro e o vice-premier e ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, do partido ultranacionalista da Liga.

“Acho que Bolsonaro e Salvini são os políticos mais importantes do mundo”, disse Steve Bannon durante a coletiva. Interpelado pela RFI Brasil a respeito do senador Flávio Bolsonaro, com suspeitas de ligações com o crime organizado do Rio de Janeiro e envolvimento com estranhas movimentações bancárias de Fabrício Queiroz – seu ex-assessor na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) – Bannon comentou: “Veremos o que revelará a investigação”.

Bannon também mencionou Eduardo Bolsonaro, terceiro filho do presidente, com quem mantém contato desde a campanha para as presidenciais no Brasil, ressaltando os diversos encontros que os dois tiveram em Washington e em Nova Iorque. Segundo o ideólogo, estes contatos com Eduardo Bolsonaro fazem parte da “agenda nacionalista populista para a prosperidade e soberania dos cidadãos em todo o mundo”.

Bannon voltou a criticar o vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, acusando o general de ter opiniões divergentes às de Bolsonaro. O ideólogo americano negou, porém, ingerência nas relações internas do governo brasileiro.

“Não é interferência, mas uma observação. Os governos têm que falar com uma só voz, não pode haver opiniões diferentes. Bolsonaro fez um compromisso, no qual o vice deveria sempre respeitar o presidente. Eu fiz esta observação e farei de novo. Quando se deve resolver uma crise, não adianta ter um alto integrante do governo que não mantém essa posição. Além disso, ele [Mourão] estabeleceu uma relação com a imprensa, como centro de poder alternativo”, explicou Bannon.

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Críticas à esquerda brasileira

O ex-assessor estratégico da Casa Branca, afastado do governo americano, e um dos articuladores do novo populismo político, aproveitou para atacar os recentes governos de esquerda do Brasil. “O capitão Bolsonaro fez a campanha baseada no reforço da polícia e da legalidade no Brasil, onde reinava a anarquia, com a economia destruída por um governo socialista, que corrompeu o capitalismo com tanto roubo, com a corrupção de poderosas quadrilhas. O presidente brasileiro tem um caminho difícil pela frente”.

Integrante do movimento Alt-Right (direita alternativa), Bannon está em Roma para promover a campanha de partidos populistas de extrema-direita para as eleições europeias em 5 de maio. Na próxima semana, ele encontrará lideres ultranacionalsitas de diversos países europeus.

Mourão atrapalha, diz Bannon (Foto: Adnilton Farias/VPR)

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A promoção dos populistas na Europa

Para Bannon, os partidos ultranacionalistas e populistas serão os vencedores das próximas eleições europeias. Ele ressaltou, no entanto, que estes movimentos não precisam dele para vencer.

“A melhor coisa que posso fazer por eles é exatamente o que fiz por Trump. Quando ele estava com a desvantagem de 10, 12 ou 14 pontos, eu lhe disse ‘você pode vencer, seja fiel a sua mensagem e vencerá’”. Segundo o estrategista americano, haverá um terremoto nas eleições europeias de maio.

“Os movimentos ultranacionalistas europeus serão capazes de assumir o controle do Parlamento europeu e eventualmente da Comissão europeia”. Quando questionado de onde vem o dinheiro para financiar sua campanha ultranacionalista na Europa, Bannon respondeu: “Eu pago”.

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Geopolítica mundial

Os jornalistas estrangeiros presentes na entrevista coletiva interrogaram Bannon sobre vários temas de política mundial. Sobre a China, que nos últimos dias assinou acordos de cooperação econômica com a Itália e com a França, o ideólogo americano alertou: “A China é perigosa. Xi Jinping é um ditador totalitário que realiza uma estratégia predatória para o resto do mundo, começando pelos EUA e pela Europa. A Huawei é o cavalo de Tróia da China na fortaleza europeia, o braço do Exército Popular de Libertação da China”.

O articulador americano disse falou da Rússia, país que definiu como “uma cleptocracia gerida pela KGB e pelos oligarcas”. “Eles têm muitas armas, sim. Mas sua economia é do tamanho do Estado de Nova York”, afirmou.

Bannon disse que a atmosfera “venenosa” que foi construída em Washington durante a investigação da Rússia atrasou os esforços para trabalhar com a Rússia “para unir o Ocidente Judaico Cristão”. Ele também elogiou como o consultor especial Robert Mueller realizou sua investigação, concluindo que o presidente Donald Trump não era conivente com a Rússia, mas descreveu-a como uma distração.

Ataques ao papa Francisco

Bannon, que é católico, também falou do Vaticano e atacou o papa Francisco. O estrategista americano encorajou a corrente de oposição ao pontífice liderada por alguns cardeais, como o norte-americano Raymond Burke. Ele está realizando um projeto na Itália que será a nova sede para formar populistas de extrema-direita na Europa.

O local é o mosteiro cartuxo de Trisulti (em Collepardona, região do Lácio), construído em 1204 no topo de uma montanha situada 130 quilômetros ao sudeste de Roma. Graças à concessão emitida pelo ministério da Cultura da Itália (MIBACT), o mosteiro foi arrendado em 2016 por 100 mil euros por ano.

Na Itália, Bannon conta com seu braço direito, o inglês Benjamin Harnwell, fundador do Instituto Dignitatis Humanae, ligado aos círculos ultraconservadores cristãos. Durante a coletiva, Harnwell fez as traduções em italiano, com certa dificuldade. Ao atacar o papa Francisco, Bannon disse que ele deveria se focar em consertar a crise dos abusos sexuais na Igreja e ficar de fora da política.

O papa frequentemente faz apelos pela aceitação e compaixão pelos refugiados e migrantes. “Acho que o papa deve parar de criticar cidadãos livres, populistas e nacionalistas e movimentos de soberania que estão tentando recuperar e fortalecer seus países. Ele deveria começar a se focar no câncer de metástase na Igreja Católica, caso contrário ela será liquidada financeiramente. A cúpula sobre pedofilia foi um fracasso, não se falou de tolerância zero. A Igreja Católica sofre uma crise existencial”.

Segundo Bannon, por causa dos escândalos de pedofilia, a Igreja católica norte-americana estará liquidada financeiramente em dez anos. “Começarão a confiscar hospitais e escolas para pagar indenizações e obrigações”.

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