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Após visita de Biden à Ucrânia, Rússia e EUA sobem o tom nas mensagens sobre a guerra
Putin também anunciou a saída do tratado de desarmamento nuclear
O presidente russo, Vladimir Putin, acusou nesta terça-feira (21) os países ocidentais de usar o conflito na Ucrânia para “acabar” com a Rússia e os responsabilizou pela escalada, em seu discurso anual à nação.
“As elites do Ocidente não escondem seu objetivo: infligir uma derrota estratégica à Rússia, ou seja, acabar conosco de uma vez por todas”, disse ele, em discurso três dias antes do primeiro aniversário da ofensiva russa na Ucrânia.
“A responsabilidade por alimentar o conflito ucraniano, por sua escalada, pelo número de vítimas (…) recai inteiramente sobre as elites ocidentais”, disse Putin, reiterando que o Ocidente apoia forças “neonazistas” na Ucrânia para consolidar um Estado anti-russo.
Um alto funcionário dos EUA chamou as acusações de Putin de “absurdas”.
“Ninguém está atacando a Rússia. É absurdo pensar que a Rússia está sob qualquer tipo de ameaça militar da Ucrânia ou de qualquer outro país”, disse o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan.
Em seu discurso, o presidente russo afirmou ainda que continua determinado, um ano após o início da ofensiva na Ucrânia, a continuar.
“Vamos resolver passo a passo, cuidadosa e sistematicamente, os objetivos diante de nós”, disse Putin.
Diante da elite política do país e dos militares que lutaram na Ucrânia, ele também agradeceu “a todo o povo russo por sua coragem e determinação”.
Referindo-se às sanções internacionais que afetam a Rússia, Putin avaliou que os ocidentais “não alcançaram nada e não alcançarão nada”, já que a economia russa resistiu melhor do que os especialistas previam.
“Garantimos a estabilidade da situação econômica, protegemos os cidadãos”, disse Putin, avaliando que o Ocidente não conseguiu “desestabilizar” a sociedade russa.
Tratado de desarmamento nuclear
Após as acusações contra o ocidente, o presidente Putin anunciou, também, que a Rússia está suspendendo sua participação no tratado de desarmamento nuclear Novo START e ameaçou realizar novos testes nucleares se os Estados Unidos os fizessem primeiro.
Assinado em 2010, este tratado é o último acordo bilateral do gênero que vincula ambas as potências.
A Rússia já havia anunciado no início de agosto a suspensão das inspeções planejadas pelos EUA de suas instalações militares sob o acordo, garantindo que agiria em resposta aos obstáculos americanos às inspeções russas nos Estados Unidos.
“Eles querem nos infligir uma derrota estratégica e atacar nossas instalações nucleares, então sou forçado a anunciar que a Rússia está suspendendo sua participação no Tratado (Novo) START”, declarou o presidente russo em um discurso fortemente hostil aos ocidentais.
Ele também acusou o Ocidente de ter ajudado a Ucrânia a modernizar os drones para enviá-los a alvos estratégicos, referindo-se às recentes explosões na base de bombardeiros de Engels, a cerca de 500 quilômetros da fronteira ucraniana.
Putin pediu às autoridades russas que fiquem “prontas para testes de armas nucleares” se Washington os conduzir primeiro.
“Ninguém deve alimentar-se de ilusões, a paridade estratégica pode ser alterada”, sublinhou.
Além disso, ele descreveu como “teatro do absurdo” o fato de a Otan exigir que a Rússia aplique o Novo START e autorize “o acesso a inspeções de instalações nucleares militares russas”.
“Através dos representantes da Otan, eles nos enviam ultimatos: Você, Rússia, faça tudo o que combinamos, em particular o Novo START, e faremos o que quisermos”, acusou o líder do Kremlin.
Putin sugeriu que a Otan se juntasse ao Novo START para alcançar um tratado justo, “porque dentro da Otan, os Estados Unidos não são a única potência nuclear”.
“França e Reino Unido também têm arsenais nucleares, estão se aperfeiçoando, modernizando e mirando em nós”, enfatizou.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, lamentou nesta terça-feira o anúncio da Rússia sobre a suspensão da sua participação no Novo START.
“Lamento a decisão anunciada pela Rússia”, disse Stoltenberg em entrevista coletiva. O funcionário lembrou que foi o último acordo bilateral entre a Rússia e os Estados Unidos sobre desarmamento nuclear.
(Com informações de AFP)
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