Editorial

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A agressão

A Rússia de Putin ataca a Ucrânia para recuperar os domínios da URSS

Foto: Andrew Caballero-Reynolds/Pool/AFP
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O secretário-geral da ONU, o português António Guterres, já ouve a se elevar do horizonte o tropel dos cavaleiros do Apocalipse. Prevê o alargamento do conflito provocado pela agressão da Rússia de ­Vladimir ­Putin à Ucrânia, apoiada pela ajuda da União Europeia. A vida humana sempre teve de enfrentar turbulências de extrema tensão, mas desta vez a ameaça traz à tona a imagem do cogumelo atômico, e ­Guterres não exagera nos seus temores: inquebrável parece ser a determinação do líder russo, empenhado em recuperar o espaço outrora dominado pela URSS.

Nesta investida, ele chega a contar com o apoio de uma figura folclórica e deplorável, Silvio Berlusconi. Com sua atitude, o grotesco personagem põe em dificuldade o atual governo de Giorgia Meloni, que seu partido, o Forza Italia, apoia desde a posse. Especialistas em Berlusconi vaticinam um recuo do próprio, a alegar ter sido mal-entendido. Sobra apenas o ruído provocado por esta intervenção, descabida já no propósito inicial. De todo modo, Putin não esmorece no ataque e leva a União Europeia a um envolvimento crescente. A esta altura, os governos democráticos ocidentais não têm a menor possibilidade de escapar a algo passível de definir como obrigatório, a salvaguarda do Oeste ameaçado.

Louvável, certamente, o empenho pacificador do presidente Lula, a quem conviria a bênção do papa Francisco. A cruzada do presidente brasileiro cativa numerosos líderes europeus, sem excluir o mandatário norte-americano Joe Biden, que recebeu Lula com todas as mesuras de praxe, além de valorizar a presença do conselheiro especial Celso Amorim, há muitos anos fiel colaborador de CartaCapital.

A natureza incontrolável alia-se à prepotência russa às margens do Mar Negro – Imagem: Bulent Kilic/AFP e Wolfgang Schwan/Anadolu Agency/AFP

Mesmo assim, algo maligno está no ar e aos riscos da guerra acrescenta-se a raiva da natureza, a se abater sobre o território turco com um balanço estratosférico de vítimas, cataclismo de proporções gigantescas em condições de se repetir a curto prazo a envolver também a Síria, governada pelo criminoso de guerra Bashar al-Assad. A Europa é, certamente, o escoadouro inevitável de largos contingentes de refugiados tanto da Turquia quanto da Síria.

É mais uma concomitância funesta, com a responsabilidade repartida entre a ambição e a prepotência dos homens e as insondáveis manifestações da natureza inconfiável. O avanço de governos de centro-direita, ou mesmo de extrema-direita, sem falar, obviamente, da Hungria, ancorada há tempo pelo reacionarismo irredutível de Orbán, é típico do momento confuso e incerto, como se fosse necessária uma pausa de reflexão sobre os fatos a modificar profundamente o globo em relação até a tempos bem recentes.

A época que caracterizou as políticas do mundo à sombra da chamada globalização já está superada, de sorte a propor novas visões e novas ideias. Mais uma vez, no enfrentamento da realidade cambiante, busca-se a adaptação a conceitos inspirados por uma espécie de egoísmo a fechar cada país em torno dos seus problemas e necessidades, à procura de soluções próprias, independentes das situações globais.

Cada qual encara as tensões internas e nelas concentra sua atenção, sem se incomodar com o quanto acontece ao seu redor. Trata-se de uma realidade que justifica exceções, como, por exemplo, a ajuda multiforme proporcionada à Ucrânia agredida, o que se deve, em primeiro lugar, a uma ameaça a envolver a humanidade em peso. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1247 DE CARTACAPITAL, EM 22 DE FEVEREIRO DE 2023.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “A agressão”

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