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Angola se retira da Opep por discordar das cotas de produção de petróleo

O anúncio da saída do país levou a um aprofundamento das perdas de petróleo, com os preços já pressionados pelas expectativas de uma demanda econômica fraca

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Angola decidiu se retirar da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) em meio a um desacordo sobre as cotas de produção de petróleo, dizendo que era hora de “se concentrar mais” em seus próprios objetivos. A decisão foi tomada após uma reunião do Conselho de Ministros realizada nesta quinta-feira (21) no palácio presidencial em Luanda, de acordo com um comunicado. No mesmo dia, ela foi transformada em um decreto com força de lei, assinado pelo presidente João Lourenço.

“Até agora, não tivemos influência sobre as cotas, mas se continuássemos na Opep sofreríamos as consequências da decisão de respeitar as cotas de produção”, explicou Diamantino de Azevedo, Ministro de Recursos Naturais, Petróleo e Gás, na televisão estatal TPA, na quinta-feira.

Angola seria então “forçada a reduzir sua produção, o que vai contra nossa política de evitar qualquer redução e respeitar os contratos”, segundo Azevedo.

No final de novembro, Angola e Nigéria, os dois pesos pesados do petróleo do continente africano, expressaram sua insatisfação com suas cotas na última reunião ministerial da aliança, que foi adiada por vários dias devido a divergências.

A Opep estabeleceu uma cota de 1,11 milhão de barris por dia para Angola, que o país está contestando veementemente, buscando sua própria meta de 1,18 milhão de barris por dia.

“No momento, Angola não ganha nada em permanecer na organização e, para defender seus interesses, decidiu deixá-la”, explicou o ministro à imprensa reunida na presidência, de acordo com o comunicado oficial do governo angolano.

“Quando vemos que estamos em organizações e que nossas contribuições, nossas ideias, não têm efeito, é melhor sair”, enfatizou o ministro, depois que o país entrou em 2007. Contatada pela agência AFP, a Opep, que tem sua sede em Viena, não se manifestou.

Objetivos próprios

Embora “o impacto sobre a reputação internacional do grupo seja menor” do que se “um produtor maior”, como Iraque, Arábia Saudita ou Emirados Árabes Unidos, saísse, “o momento do anúncio não poderia ser pior, em um momento em que o cartel está trabalhando duro para convencer seus membros a cortar voluntariamente a produção a fim de sustentar os preços”, disse Ricardo Evangelista, analista da ActivTrades.

Apesar dos novos cortes anunciados em novembro, os preços do petróleo bruto permanecem ancorados em seu nível mais baixo desde junho (entre US$ 70 e US$ 80 o barril), mantendo-se acima da média dos últimos cinco anos. O anúncio da saída do país levou a um aprofundamento das perdas de petróleo, com os preços já pressionados pelas expectativas de uma demanda econômica fraca.

Por volta das 15h30 GMT (12h30 em Brasília), o preço do barril de petróleo Brent do Mar do Norte para entrega em fevereiro caía 0,94%, a US$ 78,95. Seu equivalente nos EUA, o barril do West Texas Intermediate (WTI) para entrega no mesmo mês, perdia 0,96%, para US$ 73,51. A Opep e seus dez aliados da Opep+ parecem ter perdido parte de sua influência nos últimos tempos, em meio a dissensões, à concorrência dos Estados Unidos e a uma resposta febril à emergência climática.

“Sempre cumprimos nosso dever, mas Angola achou por bem sair. Chegou a hora de nosso país se concentrar mais em seus objetivos”, explicou o ministro na televisão.

Angola tem sido muito ativa, “mas nosso papel dentro da organização não parece mais relevante para nós no momento”, declarou ele. “Os resultados atuais não atendem aos nossos interesses”.

Opep+

Fundada em 1960, a Opep, que tem 13 membros liderados por Riad, formou uma aliança em 2016 com dez outros países, incluindo Moscou, na forma de um acordo conhecido como Opep+, com o objetivo de limitar a oferta e apoiar os preços diante dos desafios impostos pela concorrência americana.

A saída de Angola poderia, portanto, fazer parte da estratégia do presidente João Lourenço de “fomentar laços estreitos com os Estados Unidos”, aponta Marisa Lourenço, analista de risco político e econômico especializada na região.

Em meados de dezembro, na COP28, em Dubai, os países do mundo aprovaram um compromisso histórico, abrindo caminho para o abandono gradual dos combustíveis fósseis que causam o aquecimento global, apelando para “uma transição para longe dos combustíveis fósseis nos sistemas de energia, de forma justa, ordenada e equitativa, acelerando a ação nesta década crucial”.

(Com AFP)

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