Justiça
PF é acionada para investigar desvio de alimentos comprados para indígenas
A nova gestão da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) já confirmou ter encontrado inconsistências nas compras feitas durante a gestão Bolsonaro


A Polícia Federal foi acionada, nos últimos dias, para investigar o suposto desvio de alimentos comprados pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) a preços superiores aos praticados no mercado e que nunca foram entregues aos indígenas. O caso também aponta que a escolha dos itens ignorou recomendações de indigenistas e jurídicas.
A confirmação do envolvimento da PF foi feita por Flávio Dino, ministro da Justiça e Segurança Pública, que citou o caso das bistecas desaparecidas. O item foi o primeiro a ser identificado em uma leva de reportagens do jornal o Estado de S. Paulo sobre as compras feitas pela Funai comandada pelo bolsonarista Marcelo Xavier.
A nova gestão da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), importante dizer, já confirmou ter encontrado inconsistências em processos licitatórios realizados nos últimos anos para a compra de alimentos e outros produtos distribuídos a comunidades indígenas de todo o país.
“A gestão atual identificou a ausência de qualificação de itens das cestas de alimentos distribuídos aos povos indígenas na ação de enfrentamento à covid-19 por parte da gestão anterior”, informou a fundação, referindo-se à aquisição de produtos alimentícios que não respeitam os hábitos alimentares e costumes das diferentes etnias.
Documentos disponíveis no Portal da Transparência, da Controladoria-Geral da União (CGU), indicam os valores que a fundação pagou por itens como açúcar, achocolatado, biscoitos, arroz beneficiado, embutido, sucos industrializados e outros produtos comprados e distribuídos a título de minimizar os impactos da pandemia entre os povos indígenas.
Ainda segundo a atual gestão da Funai, além da falta de cuidado que resultou na não observância das especificidades culturais e dos hábitos alimentares dos diferentes povos indígenas, há indícios de possível mau uso do dinheiro público – o que motivou a fundação a revisar todos os contratos em vigor celebrados nos últimos anos.
A aquisição de bistecas citada por Dino foi feita pela Coordenação Regional da Funai no Vale do Javari, cujo escritório funciona em Atalaia do Norte (AM), é um dos processos detalhados no Portal da Transparência. A Funai, contudo, não detalhou as suspeitas de desaparecimento do produto. Na última segunda-feira 14, o jornal O Estado de S. Paulo noticiou que, entre 2020 e 2022, o governo federal comprou 19 toneladas de bistecas para enviar aos povos indígenas do Vale do Javari, no Alto Solimões (AM). A carne, segundo o jornal, foi desviada e nunca chegou às comunidades indígenas.
(Com informações de Agência Brasil)
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