Justiça

Justiça manda soltar músico negro que teria sido preso por engano

O violoncelista Luiz Carlos Justino, de 23 anos, foi detido na quarta-feira 2 acusado de um assalto à mão armada ocorrido em 2017

Justiça do Rio determinou a soltura de músico negro preso em Niterói. (Foto: Reprodução) Justiça do Rio determinou a soltura de músico negro preso em Niterói. (Foto: Reprodução)
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A Justiça do Rio de Janeiro decidiu, na noite de sábado 5, soltar o músico Luiz Carlos Justino, de 23 anos, que teria sido detido por engano na quarta-feira 2 em uma blitz em Niterói. O juiz André Luiz Nicolitt atendeu ao pedido da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ e revogou a prisão preventiva.

“Precisamente, sobre o caso, causa perplexidade como a foto de alguém primário, de bons antecedentes, sem qualquer passagem policial vai integrar o álbum de fotografias em sede policial como suspeito. Nota-se que consta ‘após analisar o álbum de fotografia de suspeitos’”, diz trecho da decisão.

“Indaga-se: por que um jovem negro, violoncelista, que nunca teve passagem pela polícia inspiraria ‘desconfiança’ para constar em um álbum? Como essa foto foi parar no procedimento?”, questionou o magistrado.

A prisão do artista revoltou familiares e amigos, que tentam provar a inocência do jovem.

Na detenção, a polícia alegou que, contra o músico, havia um mandado de prisão aberto por assalto à mão armada que teria ocorrido na manhã de 5 de novembro de 2017, um domingo.

No entanto, testemunhas dizem que, na época do crime, Justino tinha contrato fixo com uma padaria, onde tocava violoncelo. As apresentações aconteciam justamente aos domingos pela manhã.

Neste sábado 5, artistas da Orquestra de Cordas da Grota protestaram em frente ao presídio onde estava o violoncelista.

Entenda o caso

No dia em que foi preso, Justino havia acabado de fazer uma apresentação com os colegas da orquestra.  Ele estava com um amigo em um bar quando foi abordado por policiais militares.

Depois que foram revistados e tiveram os nomes pesquisados, o músico foi levado para a delegacia.

Segundo o processo, o assalto teria ocorrido na Vila Progresso, que fica a 7 km da padaria na qual o músico tocava.

Na decisão que decretou a prisão preventiva, a juíza Fernanda Magalhães Freitas Patuzzo diz que a detenção é necessária para garantir a tranquilidade da vítima que reconheceu Justino na delegacia.

A Polícia Civil, de acordo com o G1,  não respondeu de que maneira foi feito o reconhecimento pela vítima.

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ) também não esclareceu quais foram as provas colhidas no inquérito para apresentação da denúncia.

“Ele costumava, sim, perder muito os documentos. Perdeu duas ou três vezes. E, como para ele era só ir lá e fazer outro, alguém usou o documento, usou para fazer alguma coisa e ficou gravado lá o nome dele”, afirmou Mariana Soares do Nascimento, esposa de Justino, em entrevista ao G1.

De acordo com o jornal O Globo, a família participou de uma reunião online com representantes da Comissão de Direitos Humanos neste sábado.

Ao jornal, o tio do músico disse que o encontro virtual serviu para decidir que caminho jurídico tomar.

“Nós estamos juntando algumas coisas para entrar com recurso, pois nos explicaram como foi feito o reconhecimento, por foto, e a abordagem da polícia que o levou sem explicar nada. Além disso, nos explicaram que só quando você é intimado pela terceira vez que se tem um mandado de prisão, mas o meu sobrinho não foi intimado nenhuma vez mesmo morando no mesmo endereço sempre e tendo o mesmo número de telefone desde 2017”, afirmou.

“A gente vai entrar com todas as ações possíveis porque você expõe a vida de uma pessoa que nunca fez nada disso do que estão dizendo, que sempre correu atrás sem prejudicar ninguém, que estuda música desde os 6 anos… A gente vai correr atrás sim e todo mundo que está envolvido será processado”, completou.

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