Justiça

‘In Fux we Trust’: Como um ministro indicado pelo PT se converteu em esperança da ultradireita no STF

O voto de Luiz Fux no processo por tentativa de golpe de Estado empolgou o bolsonarismo e remete a episódios recentes de sua história na Corte

‘In Fux we Trust’: Como um ministro indicado pelo PT se converteu em esperança da ultradireita no STF
‘In Fux we Trust’: Como um ministro indicado pelo PT se converteu em esperança da ultradireita no STF
O ministro Luiz Fux, integrante da 1ª Turma do STF, responsável pelo julgamento de Jair Bolsonaro e aliados por tentativa de golpe de Estado – Foto: Evaristo Sá/AFP
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“In Fux we Trust”. Em bom português: “Nós confiamos em Fux”. A frase, acompanhada de uma imagem gerada por inteligência artificial, retrata o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) em pose altiva, olhar fixo no horizonte, ladeado por “patriotas” ao fundo. Foi publicada às 11h desta quarta-feira 10, pouco depois de o ex-procurador da Lava Jato e deputado cassado Deltan Dallagnol (Novo-PR) acompanhar o início do voto de Luiz Fux no Supremo.

O slogan não surgiu por acaso. Ele remete a uma troca de mensagens revelada em 2019 pela série conhecida como “Vaza Jato”. Em 2016, o então juiz Sergio Moro comemorava, em conversa privada com Deltan, o apoio recebido de Fux diante de críticas do ministro Teori Zavascki (morto em 2017). “Excelente. In Fux we trust”, escreveu Moro.

O reaproveitamento da frase agora tem outro peso: sinaliza que a ultradireita e o bolsonarismo enxergam em Fux um aliado potencial. Nesta quarta 10, o ministro votou por absolver totalmente o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros cinco réus. Recomendou condenar apenas o tenente-coronel Mauro Cid e o ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto (PL), ambos por somente um dos cinco crimes imputados.

Suas divergências no julgamento de Jair Bolsonaro mudam o placar, mas não o resultado. Mas podem, nos próximos anos, favorecer o ex-capitão.

A trajetória de Luiz Fux ajuda a entender essa reaproximação. Magistrado de carreira, com passagem pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), chegou ao STF em 2011 por indicação da presidenta Dilma Rousseff. Não foi uma conquista espontânea: em entrevista à Folha de S. Paulo, ele próprio admitiu que já havia tentado três vezes antes. A nomeação só vingou após intensa articulação política, quando buscou apoio em diferentes setores e até moldou posicionamentos para agradar a grupos variados.

Se hoje Deltan exibe orgulho com o “In Fux we Trust”, na época do vazamento ele e Moro fizeram de tudo para descredibilizar as mensagens do Intercept Brasil. O fato é que, ainda antes disso, Fux já havia sinalizado simpatia à dupla, após a divulgação de áudios que envolviam a própria Dilma Rousseff. Declarou então que juízes deveriam decidir de acordo com o “anseio da sociedade”.

Em 2020, Fux assumiu a presidência do STF. Já na cadeira, minimizou os erros da Lava Jato: seriam, segundo ele, “questões pontuais”. Dois anos depois, ao deixar o posto às vésperas da eleição de 2022, denunciou ataques “em tons e atitudes extremamente enérgicos” contra a Corte – muitos deles vindos justamente de Bolsonaro e de seus aliados.

Agora, porém, parte dessa animosidade parece enterrada. Nos julgamentos sobre os atos de 8 de Janeiro, Fux foi quem mais apresentou ressalvas às condenações. Nas alegações finais do processo do golpe, advogados de Bolsonaro chegaram a citar decisões suas como referências. Não usaram o inglês, mas o recado foi o mesmo: em Fux, confiavam.

Essa habilidade para costurar apoios também se reflete na família. Em 2016, ano em que circulou a famosa mensagem com Moro, sua filha Marianna Fux foi escolhida para o Tribunal de Justiça do Rio pelo chamado “quinto constitucional”, destinado a advogados e membros do Ministério Público. Já Rodrigo, o outro filho, seguiu carreira como advogado. Em 2019, CartaCapital revelou que ele representava o Conselho Nacional de Praticagem (Conapra), entidade financiadora da campanha de Flávio Bolsonaro ao Senado.

Assim, a expressão que parecia apenas uma ironia de Deltan em 2016 se transformou, quase uma década depois, em senha de reconhecimento entre o bolsonarismo e um ministro que, aos trancos e barrancos, pode ter se tornado sua última aposta no STF.

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