Fachin salvou a Lava Jato – por ora

A pá de cal sobre a Lava Jato é inevitável, apesar dos esforços do ministro

O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal. Foto: Nelson Jr./SCO/STF

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Em entrevista recente à Folha de S. Paulo este ano, o ministro Edson Fachin procurou deixar claro que está integrado de corpo e alma à Lava Jato. Desde que assumiu a relatoria da operação no STF, mostrou um alinhamento que o credencia a ocupar o lugar do ministro Fux na icônica afirmação do procurador Dallagnol: “in Fux we trust”.

Naquela entrevista, ele reafirma sua posição de franquia lavajatista no Supremo, dizendo, com todas as letras, que a Lava Jato prosseguirá apesar dos reveses – sem a sua banda podre, porém, a qual qualifica como “doença infantil do lavajatismo”.

Na segunda-feira, 8 de março, o insuspeito ministro anulou as condenações de Lula, reconhecendo a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgá-lo. Analistas apressaram-se em mostrar que Fachin não deu um giro em seu lavajatismo; pelo contrário, antevendo a derrota no colegiado, buscou cancelar o julgamento dos habeas corpus que analisariam a suspeição de Moro em um contexto de derrotas do lavajatismo, aceleradas pelas mensagens liberadas recentemente pelo ministro Lewandowski.

Não há novidade nessa pedalada de Fachin, que tem o conhecido hábito de remeter processos para o plenário quando vislumbra a derrota certa na turma. À Folha de S. Paulo, deu o testemunho de que fará o possível e o impossível para que o espírito da Lava Jato perdure.

Politicamente, a jogada de Fachin sacramenta a conjuntura desfavorável para o consórcio lavajatista. É Moro e Dallagnol, humilhados, escorraçados e desmoralizados, que Fachin pretende salvar, dando um passo atrás para dar dois para frente. No entanto, ao devolver os direitos políticos de Lula, assinalou não só que frações do antipetismo se encontram na defensiva, mas que já passou da hora de avançar no sentido de adotar um programa máximo contra o bolsonarismo e expurgar a doença infantil da moderação e do comedimento em seu enfrentamento.

Dificilmente a Lava Jato recuperará o prestígio e a força social que um dia teve, principalmente depois de ter cumprido o seu papel de tirar os direitos políticos de Lula e contribuir para a ascensão do bolsonarismo. Agora é avançar para que tal recuo se converta na pá de cal do lavajatismo, com o definitivo reconhecimento da suspeição de Moro e a construção de condições que evitem uma nova interdição de Lula.


Aí poderemos enfim ver o lavajatismo e o bolsonarismo sendo enterrados na mesma vala da história.

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