Justiça

CNJ decide investigar conduta de juíza que tentou impedir aborto em criança vítima de estupro

Prevaleceu o voto do corregedor Luís Felipe Salomão, seguido por unanimidade pelo órgão

CNJ decide investigar conduta de juíza que tentou impedir aborto em criança vítima de estupro
CNJ decide investigar conduta de juíza que tentou impedir aborto em criança vítima de estupro
Foto: Reprodução/CNJ
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O Conselho Nacional de Justiça decidiu nesta terça-feira 20, por unanimidade, instaurar um processo administrativo disciplinar a fim de investigar a juíza Joana Ribeiro Zimmer por sua conduta ao conduzir a audiência de uma criança de 11 anos que engravidou após ser vítima de um estupro.

A magistrada teria agido para evitar a interrupção legal da gravidez. O Código Penal permite o aborto em caso de violência sexual, sem impor qualquer limitação de semanas da gravidez ou exigência de autorização judicial.

Prevaleceu no CNJ o voto do corregedor Luís Felipe Salomão.

“Constata-se a existência de elementos indiciários indicativos de desvio de conduta da juíza Joana Ribeiro por meio da qual, em aparente conluio com a promotora, procedeu desvirtuamento do instituto do acolhimento institucional de modo a subjugar a vontade lícita da criança no sentido de interrupção da gravidez decorrente de ato infracional análogo ao crime de estupro de vulnerável”, defendeu.

Em 2022, uma reportagem publicada pelo Intercept Brasil e pelo Catarinas revelou que a criança foi mantida em um abrigo por mais de um mês, sob justificativa de proteção do agressor.

Em um primeiro momento, ao levarem o caso à Justiça, mãe e filha conseguiram a autorização para o aborto legal, concedida pelo juiz Mônani Menine Pereira, do Tribunal do Júri de Florianópolis. Porém, devido ao fato de o caso já ser acompanhado pela Vara da Infância e pela Vara Criminal da Comarca de Tijucas, o magistrado precisou cassar a própria decisão.

Com o caso em mãos, a juíza Joana Ribeiro Zimmer induziu a menina a continuar com a gestação. Durante uma audiência, fez as seguintes perguntas: “tu sabia como engravidava?”, “como foi a gravidez para você?”, “você sabe o que é interrupção de gravidez?”, “tu suportaria ficar mais um pouquinho (com a gestação)?”.

Na sessão desta terça, o conselheiro Vieira de Mello Filho sustentou que o que deveria ser acolhimento institucional virou uma manipulação institucional por convicções religiosas. “A situação é muito grave pelas inserções de agente do Estado de convicções morais e religiosas, de maneira de configurar violência de vulnerável que deveria ser acolhida.”

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