Justiça

Barroso: ‘A pior coisa que existe para a democracia é general em palanque’

O presidente do STF afirmou que generais em postos de comando ajudaram a ‘impedir avanço do sentimento golpista’

O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, em evento do Lide na Suíça, em 19 de janeiro de 2024. Foto: Reprodução/Lide/Instagram
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O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, criticou nesta quarta-feira 21 a politização das Forças Armadas durante os últimos anos.

Questionado em entrevista à GloboNews sobre as investigações da Polícia Federal a respeito da trama golpista sob o governo de Jair Bolsonaro (PL), o ministro avaliou que, apesar da politização indevida, as instituições prevaleceram.

“Infelizmente, se reavivou uma assombração que já achávamos enterrada na vida brasileira, que é a do golpismo”, respondeu. “A verdade é que as Forças Armadas, no período pós-1988, haviam tido um comportamento exemplar e recuperado o prestígio que eu acho que a instituição merece.”

A pior coisa que existe para a democracia é general em palanque. Acho que houve uma politização indevida a ser lamentada, mas acho que as instituições prevaleceram, conseguimos recuperar a institucionalidade.”

Barroso ainda mencionou generais que teriam ajudado a “impedir o avanço do sentimento golpista” nas tropas. Entre eles estariam Fernando Azevêdo e Silva, Marco Antônio Freire Gomes e o atual comandante do Exército, Tomás Ribeiro Paiva.

“No final do dia, as Forças Armadas não faltaram ao País, apesar de ter tido lideranças que procuraram levar para o passado, para uma fase da história da humanidade que não mais tem lugar.”

Nova preocupação eleitoral

O presidente do Supremo também projetou as disputas municipais deste ano e detalhou como a Justiça Eleitoral trabalha para frear o impacto da inteligência artificial na campanha.

Para Barroso, o principal inimigo a ser enfrentado é o chamado deep fake – vídeos com declarações falsas que podem ser produzidos para tumultuar a votação.

“A ideia que se tinha era tecnologicamente você ser capaz de identificar o que era produto de inteligência artificial, ter uma marca d’água. Mas não se consegue, a tecnologia ainda não consegue”, admitiu. “Então, nós vamos lidar com deep fake nas eleições.”

No entanto, o ministro aposta que o jornalismo terá o papel importante de recuperar a credibilidade das notícias, em meio a essa desinformação nas redes sociais.

“A imprensa, plural como seja, passa uma credibilidade que as redes sociais não têm, porque a imprensa tem editoração, filtro sobre aquilo que vai ao ar. E é muito mais fácil responsabilizar um órgão de imprensa do que responsabilizar alguém na rede social.”

Julgamentos no Supremo

Questionado sobre a possibilidade de pautar para julgamento a ação que discute a descriminalização do aborto, Barroso afirmou ser necessária uma campanha para “esclarecimento” do tema.

Sobre as críticas feitas por parlamentares de que ao discutir o aborto ou a descriminalização de drogas o Judiciário invadiria a competência do Legislativo, o ministro explicou que a “amplitude da Constituição torna um pouco mais fluida a fronteira entre o Direito e a política”.

“A interrupção da gestação tem um problema, que se mistura com o sentimento religioso. Tudo que se mistura com sentimento religioso se torna difícil porque é o espaço de dogmas, e não do debate racional”, ressaltou.

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