Justiça

Advogada diz que Zambelli cometeu crime de calúnia contra repatriado de Gaza

A defesa também identificou crimes em mais de 200 postagens. Homem de 30 anos se tornou alvo de calúnias, injúrias e ameaças de execução, diz advogada

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). Foto: Michel Jesus/ Câmara dos Deputados
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A defesa de Hasan Rabee, homem de 30 anos repatriado da Faixa de Gaza, apontou haver crime em mais de 200 postagens e mensagens na internet, inclusive uma de autoria da deputada Carla Zambelli (PL-SP), após a chegada do brasileiro à capital federal com a família e os demais resgatados.

De acordo com a advogada do repatriado, Talitha Camargo da Fonseca, Rabee tem sido vítima de calúnia, difamação, injúrias raciais, perseguição virtual e até ameaças de execução. Até o momento, a defesa diz ter identificado conteúdos ofensivos no Instagram e no TikTok.

No caso de Zambelli, Fonseca diz ver crime de calúnia em uma postagem da quarta-feira 15. Na publicação, há uma imagem de Hasan ao lado do presidente Lula (PT) com os dizeres “Repatriado recebido por Lula tem mensagens pró-terrorismo em suas redes”.

Na legenda, a parlamentar chama Hasan de “extremista”, diz que ele sugeriu “um ataque terrorista a Israel”. Na postagem, que seria de 2015, o ex-morador de Gaza teria escrito: “Não queremos violência, mas acho que este é o momento certo para explodir ônibus em Israel”.

Segundo a advogada, Hasan fez a postagem em um momento em que pedia refúgio para o Brasil, “então é óbvio que uma pessoa que está pedindo refúgio de um país tem as suas razões para falar isso”.

Alguns usuários usaram a postagem de Zambelli em mensagens para Hasan nas quais dizem, por exemplo, “você deveria ter ficado na Palestina, não queremos terroristas no Brasil”.

“É uma calúnia, porque o Hasan não apoia o terrorismo”, declarou a advogada, procurada por CartaCapital. “É um tsunami de ódio que tem que parar. Essas pessoas têm que ser investigadas e têm que ser punidas.”

“É uma figura de poder que está imputando, neste momento, para uma vítima que acabou de sair da guerra, uma relação com o terrorismo ou com o apoio a terroristas. Isso é inadmissível”, diz Fonseca, sobre a postagem de Zambelli.

Fonseca diz suspeitar que os ataques se intensificaram com a chegada de Hasan, na segunda-feira 13, ao Brasil. Na ocasião, o repatriado abraçou Lula no aeroporto e agradeceu ao governo pelo resgate.

O brasileiro está com a esposa e as duas filhas. A defesa preferiu não informar a localização.

Segundo Fonseca, o foco atual é garantir segurança para a família de Hasan. A advogada diz ter solicitado proteção ao Ministério dos Direitos Humanos, um programa em que um telefone de plantão ficaria à disposição da vítima, e fornecimento de escolta ao Ministério da Justiça.

Em nota, a Secretaria Nacional de Justiça informou que as denúncias de ofensas e ameaças aos repatriados estão sendo apuradas e serão encaminhadas para a investigação da Política Federal.

Após a garantia da proteção, a advogada deve se encontrar com o brasileiro no fim de semana para avaliar possíveis pedidos de inquérito ao Ministério Público e à Delegacia de Crimes Digitais em São Paulo.

Eles ainda devem decidir se apresentarão ações na área criminal ou se reivindicarão indenizações.

Procurada, a deputada informou, por meio de sua assessoria, que pretende pedir na Justiça o cancelamento da naturalização brasileira de Hasan.

“Já que ele não se recorda de ter feito a postagem, estou notificando o Instagram para que preserve os dados. Se a postagem tiver ficado ativa enquanto referida pessoa já possuía nacionalidade brasileira, vamos pedir judicialmente o cancelamento da naturalização, pois a divulgação de propaganda antissemita é atividade nociva ao interesse nacional”, declarou, em nota à reportagem.

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