Justiça

A verdade sobre a ideologia de Domingos Brazão

Líder de um poderoso grupo político da zona oeste do Rio, Brazão teve relações amistosas com políticos da direita e da esquerda

Domingos Brazão e Eduardo Cunha tentam angariar votos para a reeleição de Dilma Rousseff. Foto: Reprodução
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Com a delação de Ronnie Lessa à Polícia Federal, que aponta o conselheiro do Tribunal de Contas do RJ, Domingos Brazão, como um dos mandantes da execução da vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, parlamentares bolsonaristas tentam associar o conselheiro ao PT.

(Atualização: ele foi preso neste domingo, 24 de março de 2024, pela PF em operação que mira os mandantes do assassinato)

Brazão, de 58 anos, é líder de um poderoso grupo político da zona oeste do Rio, berço das milícias cariocas. Foi deputado estadual por cinco mandatos consecutivos, onde acumulou polêmicas e suspeitas de corrupção até ser afastado e, posteriormente realocado como conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro. Sua fidelidade ideológica, portanto, não é ao petismo ou ao bolsonarismo, à esquerda ou à direita, e sim ao poder.

A narrativa sobre uma possível ligação de Brazão ao PT surge com base em uma foto que antecede as eleições de 2014, quando o conselheiro, à época deputado estadual do MDB pelo RJ, tentava angariar votos para Dilma Rousseff ao lado do então deputado federal Eduardo Cunha, também emedebista. As eleições de 2014, vale lembrar, foram marcadas pelo racha no partido, que se dividiu entre apoio à Dilma e o candidato escolhido oficialmente pela presidência do MDB, Aécio Neves. E, dois anos depois, Eduardo Cunha daria o pontapé inicial no impeachment de Dilma.

Domingos Brazão e Eduardo Cunha tentam angariar votos para a reeleição de Dilma Rousseff. Foto: Reprodução

Embora Brazão tenha apoiado a reeleição de Dilma, no ano seguinte o então deputado federal contou com o apoio de Flávio Bolsonaro para ser eleito ao cargo de conselheiro no Tribunal de Contas. À época, a bancada do PSOL tentou anular a sessão em que ele foi eleito.

A rixa entre Brazão e o PSOL, em especial com o ex-integrante Marcelo Freixo, é uma das linhas investigativas que atribuiu o assassinato de Marielle Franco a uma vingança política contra Freixo.

Após a reportagem do The Intercept, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) utilizou as redes sociais para questionar “por que um petista mandou matar Marielle?”. A pergunta ganhou força na rede bolsonarista, que utiliza a imagem de 2014 para tentar uma ilação.

No entanto, em um vídeo publicado em 2022 pelo irmão de Domingos, o deputado federal Chiquinho Brazão (União-RJ), membros da família Brazão aparecem ao lado de Flávio Bolsonaro em um trio elétrico participando da campanha para a reeleição de Jair Bolsonaro.

O nome de Brazão apareceu pela primeira vez publicamente na investigação caso Marielle em 2019, após o depoimento do policial militar Rodrigo Jorge Ferreira acusar o então vereador Marcello Siciliano e o miliciano Orlando Curicica como os mandantes do crime. À época, a Polícia Federal desconfiou que as denúncias contra Siciliano e Curicica tinham o objetivo de obstruir as investigações, e que Ferreira atuaria em nome de grupo ilegal chamado “Escritório do Crime”. Posteriormente, esse grupo foi relacionado a Brazão.

No mesmo ano, a Procuradoria Geral da República pediu ao Superior Tribunal de Justiça que Brazão fosse investigado pela suspeita de ter utilizado um policial federal aposentado, que trabalhou em seu gabinete no TCE-RJ, para levar Ferreirinha ao falso testemunho. A investigação apontou indícios de que o policial aposentado teria ligação com o Escritório do crime. Em 2023, contudo, a Justiça do Rio rejeitou a denúncia contra Domingos Brazão por obstrução da justiça.

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