Justiça
A estratégia de Messias para vencer resistências e ser aprovado pelo Senado como o novo ministro do Supremo
Alcolumbre e parte da oposição ao governo — por diferentes motivos — tentam criar obstáculos no caminho do escolhido por Lula para substituir Barroso no STF
A indicação de Jorge Messias, atual advogado-geral da União, para ocupar a cadeira vaga no Supremo Tribunal Federal, deixada por Luís Roberto Barroso, movimentou a política mesmo em meio a um feriado nacional. Após Lula (PT) confirmar o nome de Messias nesta quinta-feira 20, vários integrantes do Planalto, do Supremo e do Senado telefonaram para o ministro se colocando a disposição para ajudá-lo a trilhar o caminho até a sabatina. Muitos desses já iniciaram, inclusive, conversas com os senadores.
“Independente desse apoio, ele próprio vai se dedicar pessoalmente a procurar os senadores”, disse a CartaCapital uma fonte próxima a Messias. O anúncio feito pela Presidência da República aconteceu após um encontro entre o presidente e o ministro no Palácio da Alvorada na manhã de quinta. De lá para cá, Messias tem recebido ligações não só de senadores da base governista, mas também dos que fazem parte da oposição.
O xadrez acontece diante da necessidade de Messias passar por uma sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal e pela aprovação de ao menos 41 dos 81 senadores que compõem a Casa.
Embora seja improvável que o Senado rejeite o nome de Messias, nos bastidores do Congresso Nacional se fala sobre uma possível resistência por parte da oposição, sobretudo dos aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). No entanto, o ministro não parece estar preocupado com isso.
“Messias conhece mais da metade dos senadores, conhece pessoalmente muitos senadores, então o Senado não é uma casa estranha para ele”, dizem interlocutores do ministro.
Antes de ocupar o cargo na Advocacia-Geral da União, Messias atuou na Casa Civil durante o governo de Dilma Rousseff e também já foi chefe de gabinete do senador Jacques Wagner (PT-RJ) durante quatro anos. Além disso, fontes próximas dizem que Messias “não vê coloração partidária” e “conversa com todo mundo”.
Desse modo, o ministro encara o desafio de maneira “objetiva”. Para isso, pretende adotar a seguinte estratégia: procurar todos os 81 senadores para ter um “diálogo franco” e se colocar à disposição para “sanar possíveis dúvidas” que os parlamentares possam ter. Messias sabe que precisa trabalhar. Sobretudo diante de uma aparente tentativa do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), de retaliar a escolha do presidente.
Após a formalização do nome de Messias para o Supremo, Alcolumbre inseriu no calendário de votação da Casa pautas que desagradam o governo federal. Messias, no entanto, “não está fazendo juízo sobre isso. Essa dificuldade na relação entre o governo e o Senado é um elemento que não pode ser desconsiderado, mas não é uma coisa que ele tem pensado”, comentou uma fonte próxima.
O entendimento é que cabe aos poderes Executivo e Legislativo estabelecer esse diálogo. Messias está mais preocupado em conversar com os parlamentares. “Esse é o caminho dele agora e o que ele já começou a fazer, na verdade”, comentou outra fonte.
Com a chegada do recesso, resta apenas um mês de trabalho no Congresso Nacional. O entorno do ministro acredita que é ideal que a votação no Senado aconteça ainda neste ano, mas respeitam “o tempo da política”.
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