Esporte

‘Haters de Neymar’: polarização brasileira respinga na Copa do Catar-2022

Fora de campo, Neymar é acusado de ser pouco profissional, de sonegação fiscal e de ter um comportamento que não condiz com sua fama e relevância social

Foto: Jewel SAMAD / AFP
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Normalmente, uma lesão sofrida pela estrela da seleção nacional seria uma má notícia para os torcedores de futebol de qualquer país do mundo.

Mas, mesmo enquanto esperavam angustiados para que um Brasil sem Neymar marcasse contra a Suíça nesta segunda-feira, alguns brasileiros ficaram tristes por sentirem falta de Neymar, irritados com o fato da estrela da equipe ter prometido dedicar seu primeiro gol na Copa do Mundo para o presidente de Jair Bolsonaro.

O estudante de Direito Henrique Melo, 23 anos, explicou o dilema, enquanto assistia ao jogo em um bar lotado no centro do Rio de Janeiro.

“Ele faz falta”, afirmou Melo, que vestia com orgulho a camisa do Brasil, rodeado de torcedores que, como ele, esperavam com nervosismo pelo que acabou sendo o único gol da partida, marcado pro Casemiro aos 38 minutos do segundo tempo.

Como apaixonado por futebol, o estudante torce desesperadamente para que Neymar se recupere da lesão de tornozelo sofrida na estreia do Brasil na Copa, na vitória sobre a Sérvia (2-0) na quinta-feira.

Ao mesmo tempo, Melo afirmou que o fato do camisa 10 da Seleção ainda não ter marcado na competição “foi o melhor resultado do Brasil na Copa do Mundo” para evitar uma situação em que os “apoiadores de Bolsonaro pudessem dizer: estamos ganhando”.

“Como pessoa, Neymar é um cara que deixa muito a desejar. Como jogador é incrível, é um artista”, completou Melo.

Na praia de Copacabana, onde uma multidão se reuniu para acompanhar a partida em um telão, a vendedora Tainara Santana, de 29 anos, sentia o mesmo dilema.

“Eu gosto de futebol, então eu quero que ele jogue porque eu sei que ele joga bem. Mas eu não fiquei triste porque ele não marcou não. Fiquei feliz. O Neymar se ferrar é muito bom”, afirmou rindo.

Com milhões de seguidores nas redes sociais, Neymar é um dos maiores nomes do esporte no planeta, mas sua magia com a bola nos pés muitas vezes é ofuscada por causa de atitudes polêmicas.

Dentro de campo, os críticos acusam o atacante do PSG, de 30 anos, de simular faltas ao se jogar excessivamente ao chão e de não aparecer nos momentos decisivos.

Fora dele, Neymar foi acusado de ser pouco profissional, de sonegação fiscal e de ter um comportamento que não condiz com sua fama e relevância social.

“Ele é um babaca”, afirmou Santana. “não só pelo posicionamento político dele, por vários motivos. Eu acho ele meio machista, eu acho ele egoísta. Ele não é nada humilde”.

“A que pontos chegamos?”

A campanha do Brasil para conquistar o hexacampeonato mundial acontece logo após as polarizadas eleições presidenciais de outubro.

Neymar apoiou publicamente Bolsonaro contra Lula e se tornou em alvo de um exército de “haters” nas redes sociais.

No fim de semana, “Foda-se o Neymar” se tornou uma das principais tendências do Brasil no Twitter.

O ex-atacante Ronaldo ‘Fenômeno’ rapidamente saiu em defesa de Neymar no domingo.

“Você é foda, @neymarjr! Gigante!”, escreveu no Instagram o ex-camisa 9 da Seleção, campeão do mundo em 1994 e 2002.

“É também por isso, por ter chegado aonde chegou, pelo sucesso que alcançou, que tem que lidar com tanta inveja e maldade. Num nível de comemorarem a lesão de uma estrela como você, com uma história como a sua. A que ponto chegamos?”, questionou Ronaldo, que incentivou Neymar a fazer com que “todo o ódio vire combustível.”

Casemiro e Raphinha, companheiros de Neymar na seleção brasileira, também saíram em defesa do companheiro, afirmando que Neymar não merece os ataques virtuais que recebe.

Sem Neymar em campo, o Brasil teve problemas no passado, principalmente na histórica derrota por 7 a 1 para a Alemanha, pelas semifinais da Copa do Mundo de 2014. Na época, o atacante não foi a campo por causa de uma lesão nas costas sofrida na fase anterior.

Em Copacabana, Charleo Luis, eleitor de Lula, preferiu manter política e futebol separados.

Os “haters” de Neymar “são os babacas que não entendem de futebol”, afirmou o vendedor ambulante de 24 anos.

“Se ele é Bolsonaro ou se o outro é Lula, não importa. Sou fã do Neymar desde criança, sempre fui fã dele, eu luto pela recuperação dele”, continuou.

A Copa do Mundo “é um momento para animar o Brasil juntos, como uma grande família”, concluiu Luis.

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