Entrevistas

O ‘negócio do Jair’ é um esquema de proporções muito grandes, diz Juliana Dal Piva; assista à entrevista

A CartaCapital, a autora detalha a obra que lança luz sobre o passado do clã Bolsonaro e as peças que levaram ao escândalo das rachadinhas

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O selo Zahar da editora Companhia das Letras lançou neste mês O Negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro, livro de autoria da jornalista Juliana Dal Piva, que se debruça há quase quatro anos sobre os bastidores da ascensão política e patrimonial do ex-capitão e de seus filhos.

A obra lança luz sobre o passado do clã Bolsonaro e as peças que levaram, em 2018, ao escândalo das rachadinhas a partir de transações suspeitas de Fabrício Queiroz, então assessor de Flávio Bolsonaro e amigo de longa data de Jair. O caso, porém, remonta ao início da carreira do atual presidente, ainda nos anos 1990.

O esquema detalhado no livro ocorria nos gabinetes ocupados pela família Bolsonaro em seus mandatos políticos – fossem de vereador, deputado estadual ou federal – e abarcava os três filhos mais velhos de Jair, ex-esposas, amigos, familiares, além de advogados e milicianos.

A obra ganhou ainda mais tração nas últimas semanas a partir de uma reportagem do UOL a revelar que praticamente metade do patrimônio em imóveis de Bolsonaro e de seus familiares foi construída à base de dinheiro em espécie. Ao todo, giraram pelas mãos do clã desde 1990 mais de 25 milhões de reais – considerada a inflação no período –  usados para comprar terrenos e casas.

Dal Piva concedeu, nesta sexta 30, uma entrevista ao programa Poder em Pauta, no canal de CartaCapital no YouTube, e forneceu um relato conciso sobre o caso.

“O ‘Negócio do Jair’ vem da maneira como as pessoas envolvidas no esquema se referiam a ele. Há gravações da ex-cunhada do presidente contando como ela fazia parte desse esquema, como ela devolvia o dinheiro, como o presidente chegou a exonerar um cunhado porque não devolvia o dinheiro certo que tinha de devolver, como ela própria fala”, narrou a jornalista à reportagem.

Dal Piva se refere a áudios de Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada de Bolsonaro, divulgados pelo UOL em 2021. Na gravação, Andrea afirma que o irmão, André Siqueira Valle, foi demitido do posto de assessor do então deputado federal Jair Bolsonaro por se recusar a repassar o valor definido no esquema das rachadinhas.

Diz a gravação: “O André dava muito problema aí, porque André nunca devolvia o dinheiro certo que tinha que ser devolvido. Tinha que devolver 6 mil, o André devolvia 2, 3. Foi um tempão assim. Até que o Jair pegou e falo: ‘ó, chega, pode tirar ele, porque ele nunca me devolve o dinheiro certo'”.

Segundo a autora do livro, os envolvidos usam a expressão “Negócio do Jair” ao se referir à participação na divisão ou à devolução do dinheiro.

“Inclusive, para eles não importava muito se eles estavam nomeados no gabinete do Jair, do Flávio, do Carlos ou do Eduardo Bolsonaro. Eles se referiam ao Negócio do Jair, uma coisa única que Jair Bolsonaro capitaneava.”

As rachadinhas não são uma novidade na política do Rio de Janeiro ou do País. No entanto, avalia Dal Piva, “a grande diferença na história do Bolsonaro é que há um esquema de uma proporção muito grande, porque ele botou os filhos na política com esse esquema”.

Há, prossegue a autora, “funcionários fantasmas que transitam entre os gabinetes dele e dos filhos, um envolvimento de um número grande da família”.

“São pelo menos 22 pessoas da família do Bolsonaro, o que mostra o grau de nepotismo. A gente fala do restante dos crimes, mas tem um nepotismo impressionante.”

Assista à íntegra da entrevista:

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