Educação
‘Um Guedes misturado com Bolsonaro’, diz Cara sobre nomeação de Feder para a Educação em SP
Para o educador, Tarcísio anunciou uma equipe que não promove um grande rompimento com a ala tucana, mas projeta o bolsonarismo puro no estado
O governador eleito Tarcísio de Freitas (Republicanos) anunciou nesta terça-feira 22 os nomes que formarão a equipe de transição em São Paulo. Ele apostou em 105 figuras distribuídas em oito grupos temáticos.
Havia uma dúvida sobre a possibilidade de o ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) se render totalmente a nomes ligados ao ex-capitão ou de seguir uma composição técnica, como vinha defendendo desde que foi eleito.
“O que vimos foi uma pizza de dois sabores”, definiu o professor da Universidade de São Paulo Daniel Cara, em entrevista ao canal de CartaCapital no YouTube, ao destacar ao destacar o anúncio de nomes ligados ao bolsonarismo, mas também a Gilberto Kassab, presidente do PSD.
“O bolsonarismo tem um território ocupado e pretende fazer com que ele se converta de um território tucano para um bolsonarista. Em termos do eleitorado, isso já está liquidado. Mas em relação à estrutura de governo, isso não está realizado. O Tarcísio está fazendo uma transição em que a passagem de poder entre a estrutura burocrática tucana e a estrutura burocrática dele está sendo feita pelo Kassab, que é o padrinho político do Rodrigo Garcia, atual governador do estado”, explicou.
“Então, ele está construindo uma transição pacífica, não rompendo com a estrutura de gestão do PSDB. O que ocorre é que a agenda do Tarcisio é bolsonarista, então, na minha opinião, ele está fazendo uma pizza de dois sabores: metade Kassab e metade Bolsonaro, mas no futuro o que se vislumbra é que seja totalmente Bolsonaro.”
Cara também destacou o avanço que a ala evangélica deve obter com o alinhamento do governo ao bolsonarismo. “Quando esse momento chegar, os evangélicos vão ter muito poder”, avalia.
Na área social, Tarcísio anunciou figuras como os vereadores paulistanos Gilberto Nascimento Júnior (PSC) e Sonaira Fernandes (Republicanos) e o deputado federal Cezinha de Madureira (PSD).
“A disputa pela escola é central, porque a guerra cultural da extrema-direita tem um fenômeno, uma metodologia, que coloca a educação no centro do debate. Então, não tenho duvida de que a lógica do Escola sem Partido vai avançar, bem como da educação domiciliar e da lógica privatista, com o Renato Feder [secretário de Educação anunciado pelo governador].”
Para Cara, o novo secretário também imprime a face do bolsonarismo na Educação do estado.
“Ele é o próprio espírito do bolsonarismo, uma mistura do ultraconservadorismo com ultraliberalismo. Ele representa exatamente essa lógica, foi um secretário muito polêmico no Paraná, que teve poucos resultados, mas que fazia a guerra cultural bolsonarista, especialmente estimulando a escola cívico militar e, ao mesmo tempo, caminhava ali para um lado de fazer processo de privatização”, afirmou.
Assim, Feder “é a própria face do governo Bolsonaro: um Paulo Guedes misturado com Jair Messias Bolsonaro na frente da Educação”.
“E o Tarcísio parece que decidiu que, na Educação, a linha cultural bolsonarista vai continuar sendo a referência. Então, as notícias não são boas para o estado de São Paulo, para os estudantes, para os cidadãos, principalmente para as professoras e professores.”
Confira a entrevista na íntegra:
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