O sabor do Brasil

Por que ainda desconhecemos parte das frutas nativas do Brasil, ricas em nutrientes essenciais

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O açaí na tigela, preparado com a polpa congelada da fruta batida com xarope de guaraná, virou hit nas academias e nos bares das grandes cidades brasileiras e conquistou o mercado internacional nos últimos anos. Poucos consumidores do fruto amazônico sabem, no entanto, que o alimento é consumido há centenas de anos pelas populações indígenas e do Norte do Brasil. E mais: talvez os amantes do açaí não imaginem que, em sua região de origem, ele é preparado tradicionalmente com farinha de mandioca ou tapioca e servido também em forma de pirão para acompanhar peixe assado ou camarão. A “descoberta” do açaí e os seus preparos diversificados são uma pequena demonstração da variedade frutífera que as diferentes regiões do País apresentam.

O Brasil é o terceiro maior produtor de frutas no mundo, atrás apenas da China e da Índia. Sua enorme extensão de terras férteis, o clima e a disponibilidade de água favorecem a produção de uvas, melões, mangas, maçãs e bananas. Uma boa parte é consumida internamente e outra, exportada em forma processada ou na de frutas frescas. Mas, por incrível que pareça, a grande maioria das frutas consumidas por nós consiste de itens exóticos, ou seja, que não têm origem nos biomas brasileiros.

Para se ter ideia, das 20 frutas mais consumidas aqui, só três são nativas. Dificilmente você iria à feira livre comprar picinguaba, mangaba, camu-camu, ajuru, fruta-do-lobo, murici, umbu, jatobá ou sapota-do-solimões. Ainda que quisesse, não as encontraria. Esses nomes “estranhos”, de que você provavelmente nunca tinha ouvido falar, são de frutas nativas, tipicamente brasileiras. Muitas delas eram comuns no passado e hoje são raríssimas, como o oiti-da-baía, que alguns historiadores relatam ter sido uma das frutas preferidas do imperador Pedro II.

As frutas são essenciais para o organismo e devem fazer parte do cardápio de todos. Ricas em fibras, que ajudam no bom funcionamento do intestino, não têm altas taxas de gordura, sódio e calorias e são fontes ricas em nutrientes controladores da pressão arterial. Elas também possuem antioxidantes que ajudam a prevenir o aparecimento de câncer e a retardar o envelhecimento.

As frutas nativas pouco conhecidas não ficam para trás: algumas têm taxas de nutrientes maiores do que as famosas. Tal atributo nutritivo, porém, não é suficiente para que dividam espaço com as frutas exóticas como maçãs, bananas, laranjas e peras, que são encontradas o ano todo e, devido às grandes produções, atingem preços mais baratos ao consumidor.


Embora também sejam saudáveis e devam ser consumidas, essas frutas acabam restringindo as nossas opções. O motivo é simples: o que atrai os produtores rurais é o lucro e as frutas nativas não são vistas com bons olhos porque produzem somente durante determinados períodos do ano e demoram mais para frutificar. Um tucumã, por exemplo, leva de oito a dez anos para produzir e colher. Outro fator é que as nativas são mais sensíveis a altas temperaturas e mais suscetíveis a pragas. Em geral as pessoas não conhecem seus sabores, e quando não existe demanda em alta escala, a produção não compensa.

As frutas que são comercializadas e consumidas hoje são resultado de pesquisas focadas em selecionar e melhorar sabores, tamanhos e tempo de duração. Melancias, abacates e mangas, entre outras frutas, têm hoje aspectos e características bem diferentes de seus originais. As frutas nativas também poderiam passar por esses estudos – aliás, isso já aconteceu com a goiaba, aprimorada há décadas por agricultores japoneses radicados no Brasil.

Tornar nossas frutas comerciáveis é algo que requer tempo e investimento, mas valorizá-las proporcionará a preservação dos biomas brasileiros e de suas riquezas e culturas regionais. Hoje, muitas já são usadas como verdadeiros tesouros culinários regionais no preparo de licores, doces, geleias, mingaus, bolos, sucos, sorvetes e aperitivos. Além das diversas formas de alimentos, os frutos dessas plantas podem proporcionar outros benefícios como remédios, cosméticos, fibras naturais e até artesanatos.

Com pesquisas, incentivos e investimentos, as frutas nativas poderão se tornar nova fonte de renda para populações rurais, para que, além do consumo regional, as riquezas possam chegar à mesa de todos. Quem sabe, no futuro, ao invés de uma maçã, um aluno possa presentear sua professora com um cubiu, uma grumixama ou uma mangaba?

As 20 frutas mais consumidas 
no Brasil e suas origens

1. Abacate –  América Central
2. Abacaxi – Brasil
3. Banana – Sudeste Asiático
4. Caqui – Ásia
5. Coco-da-baía – origem polêmica
6. Figo – Ásia
7. Goiaba – Brasil
8. Laranja – Ásia
9. Limão – Sudeste Asiático
10. Mamão – América Tropical
11. Manga – Ásia
12. Maracujá – Brasil
13. Marmelo – Europa e Ásia
14. Maçã – Ásia
15. Melancia – África
16. Melão – Europa, Ásia e África
17. Pera – Europa
18. Pêssego – Ásia
19. Tangerina – Ásia
20. Uva – Ásia, América do Norte 
e Europa

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