Educação

Bolsonaro nomeia reitora na UFPel sem respeitar mais votado em eleição

Isabela Fernandes Andrade teve seis votos, contra 56 do candidato vencedor nas urnas. Ambos são da mesma chapa

Bolsonaro nomeia reitora na UFPel sem respeitar mais votado em eleição
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O presidente da República, Jair Bolsonaro. Foto: Isac Nóbrega/PR
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O presidente Jair Bolsonaro decretou a nomeação da professora Isabela Fernandes Andrade para o cargo de reitora da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, segundo publicação desta quarta-feira 6 no Diário Oficial da União. A decisão, também assinada pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro, ignora o nome mais votado na comunidade acadêmica, o professor Paulo Ferreira Júnior.

 

Segundo o decreto, Isabela toma posse na sexta-feira 8, para um mandato até 2024. Formada em Arquitetura e Urbanismo, a professora atua no Centro de Engenharias da UFPel desde 2013. Ela sucede o atual reitor Pedro Hallal. Em nota, a gestão de Hallal repudiou a nomeação.

“Respeitar a vontade da comunidade é um pressuposto básico da democracia. Infelizmente, num governo federal cujo líder faz apologia a torturadores, nega o racismo, é condenado por ofensas contra mulheres e prega a não vacinação da população, não é surpresa que sejamos golpeados em nossa democracia e autonomia”, diz o texto, publicado no site da universidade.

O reitor eleito deve ceder uma coletiva de imprensa na quinta-feira 7 para anunciar medidas contra a decisão de Bolsonaro. Ouvido por CartaCapital, o professor explica que reverter a situação não é tão simples, porque a professora nomeada em seu lugar é da sua própria chapa.

Em 2020, a comunidade da UFPel votou em uma consulta informal, com igual peso para técnicos, professores e estudantes. No 1º turno, em setembro, a chapa em que Ferreira Júnior se lançou como candidato a reitor, “UFPel Diversa”, saiu vencedora com 46,4% dos votos, superando 20% da chapa “UFPel Mais”. As duas foram para o 2º turno, em outubro, e a chapa de Ferreira Júnior ganhou com 56,4% contra 43,4%.

Porém, a eleição formal para reitor e vice-reitor na instituição ocorre mesmo no Conselho Universitário (CONSUN), órgão máximo da instituição. Segundo Ferreira Júnior, há um acordo tácito para que a chapa vencedora na consulta informal seja a única a ter nomes na eleição formal, onde apenas integrantes desse Conselho votam.

A “UFPel Diversa”, portanto, ofereceu três nomes para a eleição de reitor e três para vice-reitor no Conselho. Ferreira Júnior foi o mais votado para reitor, com 56 votos; Isabela teve seis votos, e Eraldo Pinheiro recebeu dois votos. Esses três nomes compuseram uma lista tríplice, homologada em 16 de outubro e enviada ao governo em seguida.

Segundo Ferreira Júnior, Isabela ainda não aceitou a nomeação. Ele diz que, em tese, a professora seria obrigada a exercer o cargo, porque, ao compor a lista tríplice, é assinado um documento que diz que o posto será assumido pela pessoa nomeada. Ainda que a chapa deseje contestar a decisão de Bolsonaro, Ferreira Júnior aponta receio de “abrir flanco” para uma nomeação fora da lista.

“Ela seria minha pró-reitora, é colega de grupo e amiga. Não imaginamos que, considerando essa característica, haveria a nomeação de alguém que não eu. Não havia motivo político”, disse o professor.

De acordo com o Decreto nº 1.916/1996, o presidente da República escolhe o reitor e o vice-reitor das universidades públicas “dentre os indicados em listas tríplices elaboradas pelo colegiado máximo da instituição”. O texto não obriga o chefe do Executivo a escolher o 1º colocado.

Porém, a discussão foi parar no  Supremo Tribunal Federal (STF), por uma ação do PV que acusou Bolsonaro de promover intervenção nas instituições de ensino ao não respeitar as eleições. A Corte ainda não concluiu o julgamento sobre a obrigatoriedade de nomear o candidato mais votado.

Em dezembro, o ministro Edson Fachin, do STF, determinou que Bolsonaro deve seguir a lista tríplice, mas livrou o presidente da obrigatoriedade de indicar o nome mais votado. A decisão ocorreu no julgamento de outra ação, movida pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

No fim do ano passado, 17 reitores eleitos e impedidos de tomar posse publicaram uma carta de protesto, em que acusaram Bolsonaro de promover “procedimentos danosos de intervenção” no ensino público superior. Uma agenda foi cumprida entre 8 e 10 de dezembro, que incluiu uma carreata e uma reunião com o ministro Gilmar Mendes. Ainda não há calendário de mobilizações para 2021.

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