Editorial
O país do absurdo
Enquanto casa-grande e senzala ficam de pé, a minoria rica divide a torta do poder
Certo dia remoto, disse a Lula, velho amigo, que a situação no Brasil só seria resolvida por muito sangue nas calçadas. Reagiu ele com bonomia, mas convidou-me a alimentar a esperança. Em quê exatamente não declinou. Evitei falar dos meus mestres de vida, de Kant a Antonio Gramsci, passando por Spinoza. Algo é certo: esperança não tenho em relação ao futuro de um país que não somente é tão desigual, mas também primitivo, complexado, ignorante. Nestas condições, o resultado é tão fatal quanto inelutável. Fiquemos, no entanto, no curto espaço das nossas vidas.
Desde o início, cometeu-se o pecado original ao seguir pelo caminho da conciliação: por aqui se destina simplesmente às desavenças entre as elites na hora de cortar o bolo do poder. Refiro-me à minoria rica a habitar a casa-grande, enquanto os pobres, maioria fluvial de comportas rompidas, haverão de se conformar com sua miséria de largo espectro. Daí sermos aferrados à Idade Média da casa-grande e da senzala, ainda e implacavelmente de pé. Aliás, a dicotomia daninha é cada vez mais evidente.
Um minuto, por favor…
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.
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