Editorial
Lula e os golpistas
O presidente enquadra as Forças Armadas e nomeia o novo comandante
Há quem entenda que tempo e espaço são invenções do homem para adaptar-se às condições criadas pelo universo eterno e sem-fim. Desde a eleição presidencial e dos discursos e do comportamento que se seguiram até os dias de hoje, Lula inventou o seu tempo para definir as prioridades do seu governo e escolher os melhores colaboradores.
Ainda recentemente escrevíamos neste espaço a respeito da ausência de democracia e de igualdade social, a denunciar o atraso do País. Finalmente, temos a ventura de encontrar o grande líder que até ontem ou anteontem esperamos em vão. Trata-se de um estadista pacificador, sem se poupar de gestos drásticos, embora necessários à conjuntura atual, após a terra arrasada deixada pelo vendaval Bolsonaro.
A primeira decisão do presidente eleito é a demissão. Esta decisão deu-se no sentido de limpar a área ao assumir o comando das Forças Armadas, conforme compete ao presidente da República. Lula demitiu o comandante do Exército, Júlio César de Arruda, e nomeou um novo titular, o general Tomás Ribeiro Paiva. Não lhe faltavam as razões para tanto, desde as manifestações dos fiéis bolsonaristas que antecederam à intentona.
Em certos cantos murmura-se ter ele agido para empossar um general ligado a Fernando Henrique Cardoso. É objeção típica dos semeadores de mas e porém esquecidos do pragmatismo de Lula. De resto, não duvidamos da obediência do novo chefe a quem o nomeou. Há também as questões que demandam soluções rápidas, como a visita à população indígena Yanomâmi, submetida a um autêntico genocídio.
Lula volta às suas já tradicionais surtidas mundo afora, que muito contribuíram para dilatar o prestígio do País. Esta viagem que ele empreendeu à Argentina e ao Uruguai não esconde o propósito da criação de um mercado latino-americano similar à Zona Europeia da EU. Na formulação da política exterior contará com o aconselhamento de um velho amigo de CartaCapital, o fiel colaborador Celso Amorim.
Não falta quem observe que a função será igual à de Henry Kissinger às ordens de Richard Nixon, como se coubesse a comparação impossível com o conselheiro mittel-europeu, autor de manobras e matreirices a serviço de um presidente de quem não compraríamos um carro usado. Aos ministros a tarefa de cuidar dos problemas específicos e ao presidente a de coordenar estes empenhos como manda o figurino tradicional. Lula não é somente o líder a longo tempo esperado, é também uma garantia de futuro que envolve a sua atividade internacional bem-sucedida durante outros mandatos com efeitos importantes e transparentes. À medida que o presidente viaja, o prestígio do País aumenta, já sabemos.
Imagem: Saul Loeb/AFP e Atta Kenare/AFP
Lembranças de um tempo em que o Brasil já se empenhava a bem da paz mundial, enquanto o Departamento de Estado e a CIA orientavam os criminosos curitibanos
Algumas alianças importantes se esboçam na análise de uma situação mundial conturbada pelas veleidades de Vladimir Putin, disposto a restabelecer os alcances do expansionismo soviético, de sorte a submeter o mundo à ameaça de um conflito nuclear. A discórdia e os riscos que acarreta atingem inúmeras outras regiões do globo com violência e alarido assustadores. Temos de nos a ver também com Benjamin Netanyahu, o assalto aos direitos civis praticado pelos xeques do Catar e em muitos outros pontos do mapa médio-oriental.
Teria Lula condições de exercer um papel nesta conjuntura de tensões e mortes, no mesmo momento em que o tempo galopa também para o papa Francisco? E poderia o Brasil de Lula realizar a sua mediação possivelmente com o endosso chinês? São estas algumas questões inseridas à força na moldura da política internacional.
CartaCapital não esquece a visita realizada por Lula, Celso Amorim e Recep Erdogan ao Irã de Mahmoud Ahmadinejad, diante da tíbia reação do presidente Barack Obama e do inesquecível apoio até logístico oferecido pelo Departamento de Estado e pela CIA à turma nefanda da chamada República de Curitiba, encabeçada por Sergio Moro e Deltan Dallagnol desde 2013. O destino destes juristas falidos ainda não está desenhado.
CartaCapital espera que, de uma forma ou de outra, estes supostos juristas, malogrados como tais e como espiões do imperialismo ianque, sumam de vez das nossas páginas. •
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1244 DE CARTACAPITAL, EM 1° DE FEVEREIRO DE 2023.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Lula e os golpistas”
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