Editorial
Eurocomunista social-democrata
Giorgio Napolitano, na Presidência da República Italiana, soube tornar o vermelho na cor da esperança
A Itália, entregue a um novo governo, consegue combinar tragicamente a herança do fascismo com a de Silvio Berlusconi. Ganha um destaque muito especial a presença de papa Francisco no funeral de Giorgio Napolitano, primeiro presidente da República comunista, morto em 22 de setembro aos 98 anos de idade. E não é que o falecido não mereça a homenagem, muito pelo contrário. Ex-parlamentar europeu, ex-ministro, Napolitano sempre foi uma figura destacada, representativa dos políticos de esquerda que na prática criaram um caminho próprio para o chamado eurocomunismo, voltado basicamente para uma atuação política social-democrática.
Nascido em Nápoles, nunca deixou de ser um aristocrata da política, favorecido por uma cultura enciclopédica e pelas consagradas qualidades morais e éticas, além de todas as posições tomadas ao longo da vida. Grande amigo do pensador inglês Eric Hobsbawm, em diversas ocasiões apresentou-se como conferencista no Reino Unido e nos Estados Unidos, onde Henry Kissinger dele dizia: “É o meu comunista preferido”. Presidente da República eleito em 2006, foi também reeleito sob o impulso da confiança de que poderia ser ele vencedor do confronto com o premier Silvio Berlusconi, organizador de festas burlescas chamadas bunga-bunga, largamente qualificado a ridicularizar o país que comandava do alto de um governo corrupto. A exorbitante dívida italiana contraída com o Banco Europeu viu seu spread elevar-se vertiginosamente e, quando ultrapassou todas as previsões, Napolitano, então presidente, forçou a demissão do primeiro-ministro perdulário para indicar, como competia ao primeiro-mandatário, um novo premier de reconhecida fama de financista, Mario Monti. Com isso, a missão entregue a Napolitano foi cumprida e ele demitiu-se dois anos depois de reeleito.
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