Economia

Setores beneficiados por desoneração não são os que mais empregam, diz pesquisador do Ipea

Texto faz referência a um estudo que apontou falta de justificativa para prorrogação dos benefícios

Setores beneficiados por desoneração não são os que mais empregam, diz pesquisador do Ipea
Setores beneficiados por desoneração não são os que mais empregam, diz pesquisador do Ipea
Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
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O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada divulgou uma nota na qual sustenta que os setores da economia que mais geram empregos não são os que recebem o benefício da desoneração da folha de pagamentos.

O comunicado foi ao ar após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vetar integralmente o projeto que reduz impostos para empresas de 17 setores. O texto foi aprovado na Câmara e no Senado sob a justificativa de que nessas áreas estariam os principais empregadores do País.

O Congresso tem poderes para derrubar o veto de Lula. Segundo o maior articulador do texto no Parlamento, o senador Efraim Filho (União-PB), os congressistas trabalham pela manutenção da matéria.

A nota do Ipea contradiz os argumentos pró-desoneração com base em um estudo de setembro, feito pelo coordenador de Produtividade, Concorrência e Tributação, Marcos Hecksher.

Segundo ele, a prorrogação da desoneração, em vigor desde 2011, não se justifica.

Os setores beneficiados reduziram sua participação na população ocupada entre 2012 e 2022, de 20,1% para 18,9%; na população ocupada com contribuição previdenciária, de 17,9% para 16,2%; e na população de empregados com carteira assinada do setor privado, de 22,4% para 19,7%.

De acordo com o estudo, nenhum dos setores desonerados figura entre os sete que agrupam mais da metade dos trabalhadores do Brasil, conforme números da PNAD Contínua:

  • comércio, exceto de veículos automotores e motocicletas (15,9 milhões);
  • agricultura, pecuária, caça e serviços relacionados (7,9 milhões);
  • educação (6,6 milhões);
  • serviços domésticos (5,8 milhões);
  • administração pública, defesa e seguridade social (5,1 milhões);
  • atividades de atenção à saúde humana (5,1 milhões);
  • e alimentação (4,9 milhões).

Já entre os setores que concentram a maioria dos contribuintes da Previdência Social, apenas o sexto lugar (transporte terrestre) tem folha desonerada, diz o estudo.

Além disso, nas variações de 2012 a 2022, um subsetor desonerado na construção, o de serviços especializados para construção, foi o terceiro que mais fechou postos de toda a economia. Enquanto isso, o subsetor de construção e incorporação de edifícios foi o segundo que mais perdeu contribuintes.

“Qualquer necessidade de desonerar contribuintes específicos da Previdência precisa ser bem justificada,
pois o déficit atuarial criado acaba sendo coberto por mais tributos sobre outros trabalhadores e empresas”, diz o artigo do pesquisador do Ipea.

Segundo os setores impactados pelo veto, o fim da política de desoneração coloca empregos em risco. Lula, no entanto, apontou falta de contrapartida aos trabalhadores. O Ministério da Fazenda, por sua vez, é contrário à prorrogação dos benefícios para aumentar a arrecadação de impostos no ano que vem.

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