Economia

PIB decepciona e mantém incerteza com a tensão institucional provocada pelo governo

Clima estimulado pelo Executivo aumenta o risco e afeta negativamente os preços dos ativos, como o dólar e os juros

Jair Bolsonaro e Paulo Guedes. Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
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Mais do que a queda, que está mais para uma estabilidade do indicador, o recuo de 0,1% do Produto Interno Bruto no segundo trimestre de 2021 em comparação ao primeiro contraria as expectativas em geral (esperava-se uma pequena alta em torno de 0,2%), rompe uma sequência de três trimestres seguidos de alta e esfria as perspectivas de uma melhora substancial da economia brasileira, em especial para 2022. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o PIB do segundo trimestre cresceu 12,4% frente ao mesmo trimestre de 2020, o pior período da pandemia, e no semestre deste ano acumula alta de 6,4%.

O resultado negativo do PIB foi puxado pela queda do setor de agropecuária (-2,9%), impactada pela crise hídrica que comprometeu safras de culturas importantes, como a produção de milho e do café. Também contribuiu para a queda do PIB a desaceleração da indústria (-0,2%), ainda baqueada pela falta de componentes de eletrônicos, fazendo com que as cadeias de fornecimento sofressem interrupções.

“Diversas montadoras de veículos não conseguem obter o número desejado de chips, por exemplo, tendo que parar algumas linhas de montagem e selecionar quais modelos serão produzidos. As filas para obtenção de alguns modelos já ultrapassam quatro meses”, destaca relatório da Genial Investimentos, ressaltando que diversas montadoras já informaram que a crise dos chips deve perdurar até 2022. “Dessa forma, mantemos cautela com o crescimento da indústria, uma vez que a produção de veículos representa 10% da produção industrial total”.

Apesar dos impactos da segunda onda da pandemia, que motivou novas restrições de funcionamento do comércio, o setor de serviços avançou 0,7% no trimestre e reflete a recuperação do setor que mais sofreu com a crise e que representa o maior peso no PIB brasileiro.

Pela ótica da despesa, o consumo das famílias (maior peso no PIB) permaneceu estável, os gastos do governo aumentaram 0,7% e os investimentos caíram 3,6%. “Embora a recuperação do setor de serviços tenda a se acelerar nos próximos trimestres, contribuindo positivamente para a evolução do PIB no Brasil, geadas e secas que afetaram o setor agrícola em julho devem pesar negativamente”, analisa a Toro Investimentos.

Não há dúvidas de que o PIB previsto para 2021 vai permanecer positivo – a edição mais recente do Relatório Focus prevê um crescimento de 5,22%. A oferta de eletricidade, entretanto, tornou-se um problema mais sério, que pode comprometer os prognósticos para 2022, observa relatório da Levante Investimento. O governo federal anunciou a criação de uma nova bandeira tarifária para as contas de energia. A bandeira “escassez hídrica” vai elevar em 14,20 reais o valor cobrado nas contas para cada 100 kWh consumidos. “Mais severa que a bandeira ‘vermelha 2’ que vinha sendo aplicada desde junho, a bandeira ‘escassez hídrica’, que já vem sendo chamada informalmente de bandeira preta, deve ser mantida até abril do ano que vem e representa uma alta de 49,63 por cento em relação à situação anterior”, diz relatório da Levante.

Apesar do desânimo com os números do PIB, divulgados um dia após o mesmo IGBE ter anunciado a taxa de desemprego de 14,1% no segundo trimestre de 2021 – distante do nível pré-pandemia de 11,2% –, os mercados operam em aparente normalidade: a bolsa sobe pouco menos de 1 ponto e a cotação do dólar está estável.

Mas prevalece o clima de incerteza presente nos últimos tempos com a tensão permanente estimulada pelo Executivo contra as instituições democráticas, em especial contra o Poder Judiciário, que aumenta o risco institucional e afeta negativamente os preços dos ativos, principalmente dólar e juros.

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