Economia

Pandemia deixará legado de maior demanda por carro usado, aposta Kavak

O presidente da startup mexicana revela plano de criar tech hub no Brasil para melhorar a experiência do cliente

Roger Laughlin, cofundador e diretor executivo da Kavak no Brasil (Kavak/Divulgação)
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Primeiro unicórnio (startups que alcançam valor de mercado de 1 bilhão de dólares) do México, a Kavak é, hoje, uma das startups mais valiosas da América Latina, com uma valoração (valuation) de 8,7 bilhões de dólares. A Kavak foi fundada 2016 por Carlos García, Loreanne García e Roger Laughlin com a proposta de formalizar o mercado de carros seminovos e usados no México, que tal e qual no Brasil – e de resto em toda América Latina – é dominado por transações entre indivíduos e pouco confiável. “Mais de 90% das transações aconteciam em canais informais, rodeados por fraude e insegurança”, afirma Laughlin, o CEO da Kavak no Brasil.

No modelo projetado pela Kavak, ela compra o seminovo ou usado, paga o vendedor no menor prazo possível e atualiza toda a documentação do veículo, a fim de, só então, revender o automóvel nas suas plataformas digitais. Em entrevista a CartaCapital sobre a recente disseminação de startups latinas no Brasil, o CEO da Kavak comemora a superação das metas para a empresa no País, onde fechou 2021 com mais de 2.000 funcionários – “1.000 a mais do que a meta estabelecida quando chegamos ao país, em julho do mesmo ano, enquanto no México levamos quatro anos atingir esse número” – e expõe os planos da startup para o Brasil, entre eles um tech hub para desenvolver soluções de ponta para a experiência do consumidor.

CartaCapital: Quantas rodadas de investimentos a Kavak já realizou?  A última, em que captou 700 milhões de dólares, quais fundos participaram e qual a desinação daqueles recursos, algum mercado específico?

Roger Lauglin: A Kavak já recebeu cinco rodadas de investimentos. Em setembro de 2021, menos de um ano depois de nos tornamos o primeiro unicórnio mexicano. Captamos uma das maiores rodadas de investimentos da história: 700 milhões – de dólares série E, liderada General Catalyst, com a participação de Tiger, Spruce House, D1, SEA, Founders Fund, Ribbit, Softbank, entre outros, passando a ocupar a posição de segunda startup mais valiosa da América Latina, com valoração de 8,7 bilhões de dólares. Os recursos estão sendo aplicados em nossas estratégias de expansão, e o mercado brasileiro é prioritário nos planos de crescimento da empresa. Temos hoje no Brasil 21 showrooms na capital e Grande São Paulo, Campinas e Sorocaba, além da Kavak City – nosso centro de processamento, localizado em Barueri. Devemos chegar a 150 showrooms em todo o país nos próximos anos. Recentemente, inauguramos o maior showroom da Kavak na América Latina, que tem capacidade para mais de mil veículos e opera na mesma área do Centro de Processamento da Kavak, por onde passam os carros comprados pela empresa. O showroom do Brasil supera as estruturas existentes na Argentina e no México, países onde a empresa também opera.

CC: A Kavak está presente no Brasil, México e Argentina. Os modelos de negócio nos três países são iguais? Qual a particularidade da operação brasileira? E quais as diferenças entre os três países de regulação, burocracia, tributação, fiscalização e segurança jurídica?

RL: Hoje, estamos presentes no México, Argentina e Brasil, com mais de 30 pontos de vendas físicos e centros logísticos. No México, o mercado de venda de carros usados é estimado em 60 bilhões de dólares, o da Argentina, em 20 bilhões de dólares e o do Brasil, o maior da América Latina, em 140 bilhões de dólares, o que o torna o terceiro mercado do mundo. A expansão da Kavak para Argentina e Brasil nos permite competir em um mercado estimado em 180 bilhões de dólares; México, Argentina e Brasil são responsáveis por cerca de 70% do mercado latino-americano de venda de carros usados.

Mas o setor é muito semelhante nos três países, baseado principalmente em negócios de pessoa física para pessoa física, muita informalidade e risco de fraudes. A Kavak viu esse problema como uma oportunidade de oferecer uma solução simples e confiável ao consumidor, e essa semelhança entre os mercados nos dá segurança de que o nosso modelo de negócios também funciona para sanar as dores do consumidor brasileiro, já que passamos os últimos anos aperfeiçoando o modelo no México e na Argentina. O mercado brasileiro tem caminhado para implementar um cenário mais ágil e menos burocrático em termos de emissão de documentos e regulação, com algumas propostas que visam facilitar os procedimentos de transferência, mas ainda sim vemos mais similaridades que diferenças.

CC: Por que o Brasil? Potencial de mercado, de consumo? Real depreciado? Facilidades na operação? Cultura tecnológica? 

RL: O Brasil é um mercado enorme – o terceiro maior no mundo – e diverso, com um público apaixonado por carros. Qualquer empresa que queira realmente crescer na América Latina, precisa estar no Brasil. Estamos chegando para formalizar uma indústria cheia de incertezas em suas transações e que há 50 anos não vê novidades: a experiência de comprar um carro seminovo e usado pode ser tão prazerosa e segura quanto a de comprar um carro zero quilômetro. Hoje, ninguém na indústria tem mais do que meio ponto percentual de market share. É um mercado ultrapulverizado que carece de soluções escaláveis. Por exemplo, você pode ter uma experiência muito boa em um lojista ou concessionária, mas dificilmente vai ser igual ou similar a outros. Essa é uma das bases do nosso modelo de negócios: a escalabilidade e ter um atendimento padronizado nas unidades da Kavak ou comprar um carro diretamente no site e recebê-lo em casa. Chegamos para revolucionar o mercado de carros usados no Brasil e por isso anunciamos um investimento inicial de 2,5 bilhões de reais no País, além de mirar outros mercados emergentes, que possuem os mesmos problemas na compra e venda de seminovos.

CC: Há muita concorrência no segmento da Kavak. Com o faz para se diferenciar das outras startups no Brasil?

RL: A Kavak traz diferenciais significativos tanto na venda quanto na compra do carro seminovo, combinando o melhor dos mundos físico e digital. O algoritmo baseado em inteligência artificial que desenvolvemos trouxe uma solução para evitar a insegurança e fraudes do ecossistema de compra e venda de seminovos e usados. A Kavak quer estar próxima de seus clientes na troca de veículo agora e no futuro: oferecemos garantia de dois anos para quem comprar um carro conosco. O cliente faz as revisões com a Kavak e pode acioná-la caso tenha qualquer ocorrência. Isso não existia no mercado de seminovos.  Para o cliente que quer vender um carro, somos uma opção simples, rápida e confiável para ter o dinheiro em conta, e fazemos uma análise física robusta de diversos itens do carro e documentação, antes de comprarmos o automóvel. Já quando um cliente compra um carro da Kavak, oferecemos qualidade e segurança, porque ele está levando um produto que, além de ter itens de segurança e qualidade avaliados, passou por um processamento para atingir o padrão Kavak. Diferentemente do que acontece no mercado, a Kavak compra de fato o veículo e recondiciona o automóvel, em seu Centro de Processamento próprio, antes de colocá-lo à venda no site. Além disso, o cliente tem diferentes possibilidades para comprar ou vender um carro com a Kavak. O processo pode ser 100% digital, por meio do site ou aplicativo da Kavak, ou o cliente pode optar por uma experiência híbrida (presencial e online). Além disso, o cliente pode gerenciar online toda a vida do seu carro, solicitar garantias e agendar serviços, como revisões.

CC: E a Kavak Capital, o que oferece?

RL: A Kavak já possui parceria com as principais instituições financeiras deste Laughlin: mercado para financiar um carro de forma rápida, simples e customizada. No futuro, planejamos expandir nosso rol de soluções financeiras com a Kavak Capital, mas ainda estamos em fase de avaliação para entender como seria a operação aqui. Nosso objetivo é transformar o mercado de carros usados e contribuir para a inclusão financeira na América Latina, por meio de serviços baseados em tecnologia e a oferta de garantias que não são comuns nesse segmento. Para nós, é imprescindível que as pessoas em mercados emergentes tenham acesso a soluções de financiamento adequadas e não estejam expostas a tantas fraudes ao comprar, vender ou manter um carro.

CC: Que outras soluções ela oferece para o cliente além da venda de carros e qual a participação no total? 

RL: Oferecemos serviços para todo o ciclo de utilização de um produto. O cliente que compra um carro com a gente tem os serviços de financiamento, cartório e transferência de propriedade e seguro todos feitos pela Kavak. Ao longo do uso do automóvel, oferecemos revisões periódicas e manutenção como parte da garantia de dois anos oferecida com todos os carros da Kavak. Por questões estratégicas não revelamos a participação de cada serviço em nosso faturamento. O que podemos dizer é que nossa principal fonte de renda é a venda de automóveis seminovos, foco principal do nosso modelo de negócio.

CC: A Kavak, assim como outras empresas que atuam nesse segmento, se beneficiaram com a crise dos semicondutores que afetou a produção de carros novos. Como avalia o mercado daqui para frente? 

RL: Os dois últimos anos mudaram bastante toda a indústria de automóveis. A indústria de carros novos alimenta a de carros usados e a oxigena com novos modelos e melhorias – as duas indústrias são melhores juntas. Claro que o mercado de carros usados foi impulsionado em parte pela queda na produção de carros, já que muitos fabricantes de automóveis interromperam ou diminuíram a produção durante o período, com um aumento de demanda e preços menos acessíveis. Isso trouxe uma exposição maior para o nosso segmento, que ainda não teve problema de escassez de produtos e onde nosso modelo de negócios muda a vida do cliente.

Mas não foi só isso: o cenário de crise e a pandemia trouxe uma mudança maior na necessidade dos consumidores: muitos precisaram vender seus carros ou trocar por modelos mais baratos. Com a Kavak, o carro usado vale muito mais – o cliente consegue encontrar opções de todos os tipos que acomodam em sua renda e atendam às necessidades de suas famílias. É possível que boa parte dos consumidores que antes só compravam carros novos não volte a procurar por veículos zero, mesmo depois da pandemia, porque viram vantagem econômica na compra de um usado e tiveram a mesma experiência de um carro novo comprando com a gente. Essa condição excepcional de mercado aliada à uma jornada do consumidor que mistura o melhor do mundo físico e do digital, nos dá uma grande vantagem competitiva agora e depois da pandemia, mas queremos melhorar essa experiência cada vez mais. Para isso, estamos montando aqui, no Brasil, um Tech Hub, uma célula especial de tecnologia e inovação, focada na experiência do cliente. O Brasil será o polo de estudo do consumidor por ter uma população apaixonada por carros e exigente com sua experiência. O Tech Hub do Brasil desenvolverá e implementará soluções de ponta para a experiência do consumidor – como um aplicativo –, assim como ferramentas da porta para dentro, para otimizar a eficiência da nossa equipe e, consequentemente, melhorar a jornada do cliente conosco como um todo.

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