Economia
Líderes da Câmara preparam projeto para dar mais transparência às emendas Pix após investida do STF
A iniciativa foi discutida durante almoço na residência do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), nesta terça-feira 13
Líderes da Câmara trabalham em uma proposta para “delimitar o objeto” de funcionamento das emendas Pix após a decisão do Supremo Tribunal Federal que proibiu o repasse de dinheiro nesta modalidade por falta de transparência. O mecanismo, instituído em 2019, permite o envio de recursos a estados e municípios sem critérios técnicos.
A iniciativa, apurou CartaCapital com quatro participantes, foi discutida durante almoço na residência do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), nesta terça-feira 13. O texto é considerado uma prioridade entre deputados e pode ser apresentado ainda nesta semana.
Os relatos à reportagem dão conta de um projeto que estabele critérios e áreas de aplicação do valor oriundo de emendas Pix. Atualmente, não existe controle dos tribunais de contas dos estados sobre a aplicação do dinheiro. Por isso, apesar de serem destinadas a obras de infraestrutura, muitas transferências custearam festivais em diversas cidades.
A proposta, avalia um líder do Centrão, sinaliza o interesse da Câmara de aperfeiçoar o envio dos recursos. Inicialmente, cogitou-se aproveitar a insatisfação em torno da decisão do ministro Flávio Dino para ampliar o poder do Congresso sobre o Orçamento e tornar todas as emendas obrigatórias.
Esse movimento não prosperou porque, segundo parlamentares que participaram das discussões, acabaria por deixar o governo Lula (PT) totalmente engessado na discussão orcamentária, ampliando o desgaste com o Planalto e com o Supremo.
Mais cedo, o clima entre os deputados era de insatisfação. A avaliação feita em conversas reservadas é que as investidas de Dino e da Procuradoria-Geral da República sobre as emendas teriam as digitais do Executivo.
O presidente da comissão de Finanças, Mário Negromonte Jr. (PP-BA), deu um recado que sintetizava a temperatura entre seus colegas. “Certamente, no dia de hoje ou no dia de amanhã, o Parlamento dará a resposta à altura dessa decisão”, afirmou o deputado ao abrir uma audiência destinada a ouvir o chefe do Banco Central, Roberto Campos Neto.
No início de agosto, Dino determinou uma série de medidas que obrigam a adoção de critérios de transparência nos gastos. Entre outras coisas, o magistrado proibiu o governo de executar emendas de comissão (enviadas pelos presidentes dos colegiados temáticos) que não tivessem total rastreabilidade.
O magistrado também pediu um pente-fino da Controladoria-Geral da União nos repasses feitos nos últimos anos. A suspeita é que os parlamentares tenham recorrido a outras modalidades de pagamento para driblar uma decisão do STF que extingiu as chamadas emendas de relator.
Foi por meio desse mecanismo, conhecido como Orçamento Secreto, que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) conseguiu azeitar sua relação com o Congresso Nacional.
A determinação do ministro é contestada pela Câmara e pelo Senado. As ordens de Dino, diz o documento, podem conferir “autonomia desmedida” ao governo federal. “A pretensão de subverter essa divisão constitucional, delegando ao Executivo uma autonomia desmedida sem a devida regulamentação legislativa, implica um atentado às determinações constitucionais.”
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também
Congresso recorre de decisão de Dino que impôs limites aos pagamentos de emendas Pix
Por André Lucena
PSOL vai ao STF contra emendas parlamentares impositivas
Por Wendal Carmo
Entenda os objetivos do Plano Nacional de Turismo, divulgado pelo governo Lula nesta segunda-feira
Por CartaCapital



