Economia

Incertezas e turbulências da guerra derrubam de vez expectativas de maior crescimento do Brasil

Por menores que sejam as conexões diretas entre Brasil, Rússia e Ucrânia, não tem como o País escapar das ondas de choque que o conflito espalha pelo mundo

Paulo Guedes e Jair Bolsonaro. Foto: Mauro Pimentel/AFP
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Em semana cortada ao meio pelo Carnaval e dominada pela guerra da Ucrânia, o principal destaque da agenda econômica doméstica é a divulgação, na sexta, do PIB do 4º trimestre e do acumulado de 2021. A expectativa do mercado é de uma taxa de crescimento de 0,1%, em boa parte graças à retomada dos serviços, favorecidos pelo avanço da vacinação e reabertura das atividades no período. Se confirmada essa expectativa, a economia terá crescido 4,5% em 2021, mais do que compensando a retração de 3,9% registrada em 2020 com o surgimento da pandemia. 

Embora haja alguma expectativa de uma resultado melhorzinho no quarto trimestre (um crescimento de 0,5%), ninguém vislumbrava possibilidade de progresso maior ao longo deste ano. Agora, menos ainda, diante da incerteza e turbulência derivadas da guerra na Ucrânia: a resistência dos ucranianos e o lento progresso das tropas russas; a adesão, de A a Z, das maiores corporações ocidentais (e orientais) às sanções econômicas à Rússia; a unidade do Ocidente em torno da contenção de Vladimir Putin. Por menores que sejam as conexões diretas entre Brasil, Rússia e Ucrânia, não tem como o País escapar das ondas de choque que o conflito espalha pelo mundo. 

“No atual ambiente de pressão inflacionária persistente, o conflito geopolítico pode desencadear preocupações do Banco Central”, o que poderia levar a autoridade monetária a considerar um ciclo ainda mais longo de aperto dos juros, afirmam os economistas do J.P. Morgan, em relatório enviado a clientes. Do lado negativo para a economia brasileira, a inflação deve se manter ainda mais pressionada, diante da escalada dos preços do petróleo — que hoje mesmo passou dos 110 dólares o barril, a despeito da notícias de que os principais países ocidentais desovariam 60 milhões de barris de suas reservas estratégicas e da decisão da Opep de elevar a produção em 400 mil barris de petróleo por dia — ambas quantidades modestas para as necessidades mundiais do combustível.

Sobre esse pano de fundo, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, declarou em depoimento no Congresso acreditar que um ajuste da política monetária norte-americana é o mais adequado, ou seja que é necessário elevar os juros básicos e iniciar a reversão dos estímulos monetários que levaram o Fed a injetar 8,5 trilhões de dólares para aquecer a economia. Powell citou a inflação e a firmeza do mercado de trabalho como sinais de que um ajuste de pelo menos 0,25% na taxa de juros básica na próxima reunião do Federal Open Market Committee (Fomc) é recomendável. Mais cedo, o relatório nacional de empregos da ADP mostrou que foram criadas 475 mil vagas no setor privado dos EUA no mês passado, bem acima das 388 mil vagas que o mercado esperava. Powell, contudo, fez a ressalva de que, “à medida que formos tomando conhecimento das implicações da guerra na Ucrânia”, Powell, mudanças de curso na política do Fed poderão ser imprimidas no futuro.

A perspectiva de nova rodada de negociações entre russos e ucranianos animou as bolsas da Europa e dos EUA, influenciando a Bovespa, que abriu hoje, às 13 horas, com forte alta, de 1,95%. “O pregão será mais curto, terá menos liquidez e os investidores terão de digerir vários dias de notícias, além de uma forte alta nas cotações internacionais do petróleo e das commodities agrícolas. Ou seja, será uma sessão bastante volátil, marcada pelos movimentos tanto das tropas russas e ucranianas quanto das sanções e restrições de empresas e países à Rússia”, resume o boletim diário da casa de análise Levante Ideias de Investimentos.

 

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