Economia
Em 12 meses, gasolina sobe 40% e gás de botijão, 34%; Bolsonaro segue entre a negação e o deboche
‘Se você lembrar de quanto pesava no ano passado e quanto pesa agora, todo mundo engordou um pouco mais’, disse o ex-capitão em setembro
O avanço da inflação continua a impactar de forma dramática as contas dos brasileiros. O IPCA acelerou de 0,87% em agosto para 1,16% em setembro, de acordo com dados divulgados nesta sexta-feira 8 pelo IBGE. Trata-se do maior índice para o mês desde 1994. Não obstante, o presidente Jair Bolsonaro se divide entre a negação de sua responsabilidade e o deboche.
No acumulado de 12 meses, a inflação chegou a 10,25%, a mais elevada taxa anual desde fevereiro de 2016. No ano, o IPCA soma 6,90% de alta.
A meta central do governo Bolsonaro para a inflação em 2021 era de 3,75%, com um intervalo de tolerância entre 2,25% e 5,25%. No final de setembro, o Banco Central ajustou de 5,8% para 8,5% sua estimativa de inflação para o ano, uma confissão do estouro do teto. Embora a carestia alcance praticamente todos os grupos considerados, alguns itens provocam maior impacto.
Eis a alta acumulada em 12 meses de alguns dos produtos e serviços que dinamitam o bolso dos brasileiros:
- Passagens aéreas: 56,81%
- Gasolina: 39,60%
- Gás de botijão: 34,67%
- Energia elétrica residencial: 28,82%
- Café moído: 28,54%
- Carnes em geral: 24,84%
- Transporte por aplicativo: 14,08%
E não para por aí. Nesta sexta, a Petrobras anunciou que elevará mais uma vez os preços da gasolina e do GLP, o gás de cozinha, nas refinarias. Os aumentos serão de 7,22% e 7,19%, respectivamente.
“Desta forma, a partir de sábado, (09/10), o preço médio de venda do GLP da Petrobras, para as distribuidoras, passará de R$ 3,60 para R$ 3,86 por kg, equivalente a R$ 50,15 por 13kg, refletindo reajuste médio de R$ 0,26 por kg”, escreveu a empresa em comunicado distribuído à imprensa. “Para a gasolina A, o preço médio de venda da Petrobras, para as distribuidoras, passará de R$ 2,78 para R$ 2,98 por litro, refletindo reajuste médio de R$ 0,20 por litro”.
No grupo de alimentos, destaque ainda para a disparada em 12 meses nos preços do pimentão (96,34%), da abobrinha (64,93%), do repolho (57,90%), da batata doce (54,28%) e do pepino (52,56%).
Entre as carnes, subiram mais no acumulado o filé-mignon (37,57%), a pá (34,59%), a de carneiro (31,95%), o músculo (31,30%) e o lagarto comum (30,81%). O frango ficou 29,80% mais caro.
Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro intensifica seu discurso contra prefeitos e governadores, em uma tentativa de se eximir da responsabilidade pelo inabalável avanço dos preços.
Nesta sexta, em contato com apoiadores no Palácio do Alvorada, disse que o Brasil é um dos países que menos sofreram durante a pandemia, no aspecto econômico. Na quinta-feira 7, em evento no Planalto, celebrou o fato de se considerar o único governante no mundo a boicotar medidas de isolamento social.
“Estamos pagando o preço da política do ‘fique em casa e a economia a gente vê depois’. Eu, talvez, tenha sido o único chefe de Estado do mundo a ser contra essa política”, declarou o ex-capitão. “É uma guerra. Ninguém vai ganhar a guerra dentro da toca ou na trincheira. Quando falei ‘gripezinha’, falei que era para mim”.
Em setembro, culpou em mais de uma ocasião o PT pelos reajustes nos combustíveis. O partido deixou o poder em 2016.
“Não posso fazer milagre. Quem arrebentou com a Petrobras foi o PT. Mais de 200 bilhões de reais gastos com refinarias que não aconteceram”, disse em 27 de setembro a apoiadores. “É a conta para quem bota combustível no carro pagar”.
Em 9 de setembro, apesar de reconhecer o avanço da inflação, o presidente debochou dos impactos sobre a população durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais.
“Por que aumentou? Não foi só no Brasil, foi no mundo todo, que passou a consumir muito mais. Além de o mundo crescer em média mais de 60 milhões de habitantes por ano, passou a consumir mais, porque o cara ficou mais em casa. ‘Ah, o pessoal passou fome’. Olha, muitos brasileiros passam mal, sei disso. Alguns passam fome? Sim, passam fome. Mas a média dos que passaram a comer mais foi bem maior. Se você lembrar de quanto pesava no ano passado e quanto pesa agora, na média todo mundo engordou um pouco mais. É uma realidade”.
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