Economia

Diretor escolhido por Lula defende democratizar a atuação do Banco Central

Para Gabriel Galípolo, a autoridade monetária deve ouvir mais seus próprios técnicos e também vozes de fora do ‘mercado’

Foto: Pedro França/Agência Senado
Apoie Siga-nos no

Há um mês no cargo, o indicado pelo governo Lula para comandar a Diretoria de Política Monetária do Banco Central, na linha de frente da discussão sobre taxa de juros no Brasil, mostra tendências não muito comuns entre seus colegas. Gabriel Galípolo é simpático à ideia de democratizar a atuação do BC, o que na prática significa tirar poder do ‘mercado’ sobre a autoridade monetária.

Em um debate virtual promovido nesta terça-feira 15 pelo Conselho Federal de Economia, o Cofecon, Galípolo defendeu que os técnicos do BC participem mais do debate público – ou seja, não apenas seus diretores. Também disse ser a favor de o banco ‘intensificar’ os contatos com pessoas e entidades de fora do sistema financeiro.

De quebra, ao comentar as medidas econômicas anunciadas desde o início do ano pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que são “democráticas” e ajudaram a criar condições para o BC cortar a taxa básica de juros no início de agosto, após um ano de congelamento da Selic. A reunião de agosto do Copom foi a primeira de Galípolo.

“Que os técnicos do Banco Central, sejam da área aqui de Política Monetária, sejam das demais áreas, possam também vir junto participar de apresentações e debates públicos”, defendeu o economista. “Porque ali há um depósito enorme de informações, debates e discussões que não deveriam estar limitadas ao sabor do diretor simplesmente de plantão.”

O Banco Central não realiza concurso público para contratar técnicos há dez anos. O último foi em 2013.

Antonio Correia de Lacerda, conselheiro do Cofecon e seu ex-presidente, defendeu que o BC deveria “ampliar a captura das expectativas”. Ou seja, ouvir mais vozes sobre inflação e economia. O banco, na visão de Lacerda, é permeável demais ao mercado – origem de seu comandante, Roberto Campos Neto, indicado no governo Bolsonaro.

Um exemplo do quase monopólio do mercado na capacidade de influenciar o BC é o boletim Focus, conjunto de previsões econômicas divulgado toda semana pelo banco após consultar economistas e entidades oriundos em sua maioria do sistema financeiro. Agentes que, para Lacerda, têm ainda ‘o privilégio’ de se reunirem com os diretores e o presidente do BC.

Lacerda sugeriu a criação de um ‘conselho consultivo de experts’ para auxiliar o Copom, pois este “não se compõe de especialistas puros em política monetária” e precisaria saber mais sobre a experiência internacional.

Para Galípolo, a decisão recente do Copom de cortar o juro de 13,75% para 13,25%, uma redução de meio ponto percentual, mostrou que há visões e entendimentos diferentes sobre a realidade. A decisão foi acirrada: 5 a 4 (os derrotados queriam uma queda menor, de 0,25%). “Estes debates estavam também expressos quando a gente olha para economistas e para mercado”, ressaltou Galípolo.

No debate do Cofecon, CartaCapital perguntou ao diretor se ele havia sentido nos colegas de Copom a mesma preocupação. Em sua exposição inicial, Galípolo havia dito que as medidas econômicas do governo Lula tinham “espírito democrático” e haviam sido calibradas em nome de um “esforço coletivo”, e não para que pesassem sobre os mais pobres.

A resposta não foi direta. “A quantidade de informações trazida pelos técnicos facilita muito o processo de decisão pra gente”, declarou. “Mas não existe um modelo, não existe uma equação.”

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo