Economia

Combatida por Donald Trump, China é admirada pela academia dos EUA

O país inimigo do governo estadunidense é elogiado pelo MIT devido ao avanço no uso de inteligência artificial no ensino

(Foto: Brendan Smialowski/AFP)
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Enquanto Donald Trump trata a China como inimigo comercial e tecnológico, uma publicação do Massachusetts Institute of Technology, uma das principais instituições de ensino e pesquisa dos EUA e do mundo, reconhece e elogia o avanço chinês em educação com uso de inteligência artificial (AI). Na reportagem intitulada “A China iniciou um grande experimento em educação com AI que poderia reformular como o mundo aprende”, publicada no início do mês, a revista MIT Technology Review, sobre tecnologia, destaca o empenho chinês nos últimos anos em buscar  “educação inteligente” e que “suas empresas de tecnologia de ponta, bilionárias, estão planejando exportar sua visão para o exterior”.

Nos últimos anos, prossegue a reportagem, o investimento do país em ensino e aprendizagem habilitados pela IA explodiu com participação de gigantes da tecnologia, startups e educadores. Dezenas de milhões de estudantes usam agora alguma forma de inteligência artificial para aprender, seja através de programas de tutoria extracurriculares a exemplo do Squirrel, destacado na reportagem, através de plataformas de aprendizado digital como 17ZuoYe, ou em suas principais salas de aula. “É o maior experimento do mundo em IA na educação”.

O Vale do Silício, nos Estados Unidos, berço da tecnologia digital e sede de Google, Apple, Facebook, Intel, Microsoft e outros gigantes do setor estaria “muito interessado” nos avanços da China na área. “Em um relatório em março, a Chan-Zuckerberg Initiative e a Fundação Bill e Melinda Gates identificaram a AI como uma ferramenta educacional digna de investimento. Em seu livro Rewering Education, de 2018, John Couch, vice-presidente de educação da Apple, elogiou a Squirrel AI. (A versão chinesa do livro foi publicada em co-autoria com o fundador da Squirrel, Derek Li.) A Squirrel também abriu um laboratório de pesquisa conjunto com a Carnegie Mellon University este ano para estudar o aprendizado personalizado em escala e exportá-lo globalmente”, relata a MIT Technology Review.

Alguns fatores alimentaram o boom educacional da IA na China. O primeiro são incentivos fiscais, entre outros, para empreendimentos de IA que melhoram desde o aprendizado dos alunos até o treinamento de professores e a gestão escolar. O segundo é a feroz competição acadêmica na China. Dez milhões de estudantes fazem vestibular todos os anos e a pontuação determina se e onde cada um pode estudar para obter um diploma e este é considerado o maior determinante do sucesso pelo resto da sua vida.

A Squirrel, por exemplo, se concentra em ajudar os alunos a obter melhores notas nos testes anuais padronizados aplicados no País. Segundo a empresa, mais de 80% de seus alunos retornam ano após ano. “A empresa projetou seu sistema para capturar cada vez mais dados desde o início, o que possibilitou todos os tipos de experimentos de personalização e previsão. Ela comercializa fortemente suas capacidades técnicas através de publicações acadêmicas, colaborações internacionais e prêmios, o que a tornou uma queridinha do governo local de Xangai”, descreve a revista do MIT.

A estratégia, prossegue, “alimentou um crescimento inacreditável. Nos cinco anos desde que foi fundada, a empresa abriu dois mil centros de aprendizado em 200 cidades e registrou mais de um milhão de estudantes, o mesmo que todo o sistema de escolas públicas da cidade de Nova York. A empresa planeja abrir mais dois mil centros no país em um ano e até o momento levantou mais de 180 milhões de dólares em financiamento.”

A Squirrel, prossegue a publicação do MIT,  não é a primeira empresa a buscar o conceito de tutor de IA. Os primeiros esforços para “replicar” os professores remontam à década de 1970, quando os computadores começaram a ser usados na educação. Entre 1982 e 1984, vários estudos nos EUA mostraram que os alunos que receberam aulas particulares individuais tiveram um desempenho muito melhor do que os alunos que não receberam. Isso desencadeou uma nova onda de esforços para recriar esse tipo de atenção individual em uma máquina. O resultado foram sistemas de aprendizado adaptável, que agora podem ser encontrados em todos os lugares, de jardins de infância a centros de treinamento no local de trabalho.

“A inovação da Squirrel está em sua pulverização e escala. Para cada curso que oferece, sua equipe de engenharia trabalha com um grupo de professores para subdividir o assunto nas menores partes conceituais possíveis. A matemática do ensino médio, por exemplo, é dividida em 30 mil elementos ou “pontos de conhecimento”, como números racionais, as propriedades de um triângulo e o teorema de Pitágoras. O objetivo é diagnosticar as lacunas de compreensão de um aluno da maneira mais precisa possível. Em comparação, um livro didático pode dividir o mesmo assunto em 300 pontos; O ALEKS, uma plataforma de aprendizado adaptável desenvolvida pela McGraw-Hill, com sede nos EUA, que inspirou a Squirrel’s, divide-a em 3 mil pontos.”

Depois que os pontos de conhecimento são definidos, detalha a reportagem, eles são combinados com vídeo-aulas, anotações, exemplos trabalhados e problemas práticos. Sua correlação,, ou seja,  como eles se constroem e se sobrepõem, são codificados em um “gráfico de conhecimento”, também baseado na experiência dos professores. “Um aluno inicia um curso com um breve teste de diagnóstico para avaliar quão bem ele entende os principais conceitos. Se responder corretamente a uma pergunta inicial, o sistema assumirá que conhece os conceitos relacionados e seguirá adiante. O sistema faz um esboço do que o aluno precisa trabalhar e enquanto ele estuda, o sistema atualiza seu modelo de entendimento e ajusta o currículo de acordo. À medida que mais alunos usam o sistema, ele identifica conexões anteriormente não realizadas entre conceitos. Os algoritmos de aprendizado de máquina atualizam os relacionamentos no gráfico de conhecimento para levar em consideração essas novas conexões. Embora o ALEKS faça isso também, ele simplesmente não tem acesso a tantos dados; como resultado, suas otimizações de aprendizado de máquina são mais limitadas, tornando-o, em teoria, menos eficaz.”

Em estudo próprio conduzido em 2017 durante quatro dias com 78 alunos do ensino médio, a empresa diz ter descoberto que o sistema de AI era melhor, em média, para melhorar as notas dos testes de matemática do que professores experientes ensinando uma dúzia de crianças em uma sala de aula tradicional.

No que diz respeito a educação e AI, a China está no topo e é referência mundial, deixa claro esta passagem da reportagem da MIT Technology Review: “A Squirrel cultivou sua reputação internacional participando de algumas das maiores conferências de IA do mundo e atraindo colaboradores respeitáveis afiliados ao MIT, Harvard e outros institutos de pesquisa de prestígio. Recrutou vários cidadãos estadunidenses para atuar em sua equipe executiva, com a intenção de entrar nos EUA e na Europa nos próximos dois anos. Um deles é Tom Mitchell, reitor de ciência da computação da Carnegie Mellon; outro é Dan Bindman, cofundador da ALEKS.”

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